Estudo caracteriza o consumo do arroz no Brasil

Análise centrou-se na região metropolitana de Porto Alegre.

O consumo domiciliar per capita de arroz é menor nos domicílios chefiados por pessoas com pós-graduação e nos domicílios com rendimento entre cinco e dez salários mínimos, na região metropolitana de Porto Alegre. As massas são os principais alimentos substitutos e a carnes, feijão e saladas são os principais complementares. O arroz longo fino tipo 1 é consumido por 75% dos domicílios da região e o preço é o principal critério de escolha no momento da compra.

Esses são resultados do estudo apresentado na semana passada por Tiago Sarmento Barata, durante o 43º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural (Sober), em Ribeirão Preto (SP). O pesquisador, mestre em Agronegócios pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e analista setorial do Projeto Arroz Brasileiro, analisou as características do consumo brasileiro de arroz nos últimos anos, com ênfase nos fatores que influenciam o consumo do cereal na região metropolitana de Porto Alegre.

Foram entrevistados mais de 400 consumidores, em supermercados dessa região. A pesquisa analisou o consumo a partir da etnia, religião, naturalidade, grau de instrução e renda da população. Foram considerados também aspectos relacionados aos alimentos complementares, substitutos e critérios de escolha no momento da compra, além do impacto do aumento do preço ou da renda no consumo do arroz.

A pesquisa avaliou dados das Pesquisas de Orçamentos Familiares (POFs) do IBGE e identificou que, entre 1987 e 2003, houve uma redução de aproximadamente 16% do consumo per capita de arroz polido nos domicílios brasileiros. O consumo per capita de arroz no país passou de 30 kg/habitante/ano em 1987 para 25 kg/habitante/ano em 2003. Porto Alegre e São Paulo foram as capitais em que o consumo diminuiu mais.

É importante ressaltar que os números obtidos nas POFs apenas consideram o consumo familiar domiciliar, excluindo o volume de alimento consumido fora de casa. O autor do estudo ressalta, portanto, que grande parte dessa diminuição decorreu do aumento do consumo de alimentos fora de casa. “Não significa que a população brasileira esteja comendo 16% menos de arroz, e sim, que esteja comprando menos arroz para comer em casa”.

Segundo Barata, a urbanização e a globalização têm papel indiscutível nas mudanças do padrão de consumo alimentar, uma vez que fatores culturais e socioeconômicos são fundamentais na definição dos hábitos da população. Mudanças no estilo de vida das famílias, a maior participação da mulher no mercado de trabalho, a maior freqüência de refeições fora de casa, as variações no preço do alimento, variações na renda dos consumidores, o lançamento de novos produtos substitutos, entre outros, são aspectos que influenciam o consumo de arroz dos brasileiros.

“Hoje, ninguém mais tem tempo de preparar arroz para uma refeição. É preciso que as indústrias desenvolvam uma linha de produtos com preparo facilitado e rápido. Esses produtos até já existem, mas é preciso que eles sejam viáveis/acessíveis aos consumidores de mais baixa renda”, afirma Barata.

Segundo a POF 2003, o consumo alimentar domiciliar per capita do arroz polido no Brasil foi, em média, de 25,24 kg, variando em função da faixa de renda familiar, entre aproximadamente 18 e 29 kg. “O consumo desse produto aumenta quando aumenta o recebimento médio familiar, até a faixa entre R$ 1.000 e R$ 1.200 mensais, quando atinge o pico de consumo. A partir daí, nas faixas superiores de recebimento, o consumo do arroz polido nos domicílios assume um comportamento inverso, reduzindo com a elevação do rendimento médio familiar”, diz a pesquisa.

Neste ponto, o pesquisador do Cirad/França e analista internacional do Projeto Arroz Brasileiro Patrício Mendez Del Villar comenta: “A queda do consumo do arroz no Brasil é uma realidade que também deve ser analisada ‘positivamente’. Acredito que a dieta dos brasileiros está se diversificando (carnes, legumes, outros grãos, frutas, etc…). Essas são dietas de países do primeiro mundo. Ou seja, o Brasil, como país emergente, demonstra, através da dieta, que sua população pouco a pouco vai se acercando dos padrões de vida dos países desenvolvidos, apesar de todos os problemas sociais e econômicos que ainda tem para resolver”.

O estudo detectou também que existe uma clara desinformação sobre as qualidades nutricionais e funcionais do arroz. “O que mais preocupa é que muito dessa desinformação parte de alguns profissionais da área da saúde, como médicos e nutricionistas. É preciso desmistificar a idéia de que o arroz é um dos alimentos que mais engorda”, diz o pesquisador.

Seu estudo aponta que “apesar de ser considerado um alimento importante na alimentação humana, o cereal ainda é pouco reconhecido pelas suas características funcionais. Rico em carboidratos, o arroz, na sua forma natural, é um alimento essencialmente energético, mas pode ser também uma importante fonte de proteínas, sais minerais (principalmente fósforo, ferro e cálcio) e vitaminas do complexo B, como a B1 (tiamina), B2 (riboflavina) e B3 (niacina).

Segundo FAO o arroz fornece 20% da energia e 15% da proteínas necessárias ao homem e se destaca pela sua fácil digestão. Por ser um produto de origem vegetal, o arroz é um alimento isento de colesterol, com baixo teor de gordura”. O autor destaca, ainda, que a composição nutricional do arroz beneficiado varia em função das diferentes formas de processamento que o grão sofre antes de ser oferecido ao consumidor.

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