Excesso de oferta puxa preços do arroz

Excesso de oferta puxa preços do arroz. Nas gôndolas queda de preços do arroz já chega a 30% em MT.

O excesso de oferta de arroz no mercado interno derrubou os preços para o consumidor. Não é preciso nem ser dona-de-casa para perceber que tanto nos supermercados quanto no pequeno comércio varejista os preços estão em queda livre. E tendem a continuar caindo, caso não haja desova dos estoques e o governo continue importando.

Só do ano passado para cá os preços nas gôndolas dos supermercados caíram em média 30%. E isso vale para todas as marcas. No caso do Tio João e Tio Urbano, os mais procurados por aqueles que apreciam um arroz de melhor qualidade, os preços despencaram de R$ 10,20 e R$ 9,50 (pacote de 5 Kg), respectivamente, para R$ 6,99 e 6,49 (preços médios praticados agora pelos grandes supermercados). Mas já estiveram mais baratos, no início do ano, quando o Tio João chegou a custar R$ 6,50 e o Tio Urbano, R$ 6,10.

Outras marcas de arroz longo fino, também bastante consumidas pela população, como Tio Chico, Tio Ico, Faça Fácil, Excelente e Tio Bonini, tiveram preços reduzidos por conta da grande safra colhida este ano. Atualmente, pode-se comprar um pacote de arroz (5 Kg) por até R$ 3,49, enquanto o mais caro não chega a custar R$ 7.

Com preços tão baixos, a população não poderia consumir menos. Até o velho hábito de encher os carrinhos para aproveitar as promoções foi abandonado pelas donas-de-casa, uma vez que os preços do arroz se mantêm estáveis, com tendência de baixa. É o caso da dona Júlia Aparecida Alves, moradora do Tijucal, que só faz compra para a semana. “Nunca vi o arroz tão barato como agora”, diz ela.

A professora Maria Helena Alves, que leciona em uma escola do bairro Morada da Serra, conta que no ano passado chegou a comprar arroz de marcas inferiores porque os preços eram elevados.

– Agora escolho o melhor e ainda sobra dinheiro. Temos mais é que aproveitar o momento.

Mas quem ganha mais com a queda dos preços?

– Os consumidores, em primeiro lugar, e depois os supermercados, que têm a oportunidade de aumentar suas vendas e melhorar o seu faturamento – responde o presidente da Associação dos Supermercados do Estado (Asmat), Altair Magalhães.

Segundo ele, as vendas no varejo aumentaram em cerca de 10% este ano em relação ao mesmo período do ano passado.

– A margem de lucro é pequena, mas temos ganhos porque o volume vendido é significativo – explica Altair, garantindo que os supermercados estão repassando as baixas de preços ao consumidor.

– O mercado não permite uma coisa diferente. Se compramos por menos, temos que vender por menos. Essa é lógica para aqueles que não querem perder venda, ainda que a margem de lucro seja pequena.

A expectativa dos supermercadistas é de que não ocorram mudanças nos preços do arroz, pelo menos para cima.

O dono da rede de Supermercados Modelo, Altevir Magalhães, diz que este é o melhor momento para o consumo do arroz. Tanto que, segundo ele, “não há nem necessidade de se fazer promoção, pois os preços estão bem baixos”.

Magalhães salienta que o momento é favorável ao consumo, mas tem preocupação em relação ao próximo ano, “pois o produtor não está sendo remunerado adequadamente e, com isso, ele poderá plantar menos. O resultado disso é que os preços para o consumidor poderão ficar mais caros no próximo ano”, alerta.

Excedente é de 3 milhões de toneladas

Se os preços do arroz nos supermercados nunca estiveram tão baixos como agora, é porque existe excesso de produto no mercado. A estimativa é de que as sobras estejam na casa de três milhões de toneladas (t). O Brasil produziu este ano 13,3 milhões/t e, com as sobras do ano passado (2,5 milhões/t), o estoque chega a 15,8 milhões/t, para um consumo estimado de 12,8 milhões/t.

Devido a esta grande quantidade de estoque, os preços do arroz chegaram a patamares jamais vistos nos últimos anos.

– Até mesmo os produtores da região Sul sofreram a queda acentuada dos preços – disse o corretor Cláudio José Sônego, da Única Corretora, em Cuiabá.

Segundo ele, há uma super oferta de arroz no Brasil que coloca o produtor em xeque.

– Ao mesmo tempo que os produtores percebem que este não é o momento adequado para vender a produção, eles são obrigados a comercializar porque têm compromissos e o novo período de plantio está próximo.

Na avaliação do corretor, não existe perspectiva de aumento de preços do arroz em casca e, com isso, os preços para o consumidor tendem a se manter ou até mesmo baixar nos próximos meses.

O preço do arroz em casca tem se mantido nos últimos dias sem alteração. A variedade Primavera (arroz longo fino) está sendo comercializada a R$ 20/saca de 60 Kg, em Cuiabá, R$ 17,50/saca, em Sinop. Já a variedade Cirad, classificada como longo, tem sua cotação oscilando de R$ 12 (Sinop) e R$ 14 (Cuiabá).

Área de arroz será reduzida este ano

O excesso de estoque, aliado às importações de arroz, como forma de cumprimento de acordos com o Mercosul, aos baixos preços no mercado interno e à falta de crédito e endividamento rural dos produtores formam uma equação temerosa ao produtor, que já avisou que vai plantar menos na safra que tem início a partir de outubro.

Enquanto alguns apostam em redução de 50%, outros, mais pessimistas, apostam que o recuo poderá chegar a 70%. Seja qual for o percentual, o certo é que a área plantada será menor, assim como o uso de tecnologia. Isso irá refletir em menor produção e produtividade na nova safra.

Caso se confirmem as previsões de queda de 70%, a área plantada do arroz cairá de atuais 750 mil hectares para cerca de 250 mil hectares. A produção poderá cair de 2,2 milhões de toneladas (safra 2004/05) para cerca de 700 mil toneladas.

Segundo o produtor Antônio Galvan, da região de Sinop, a cultura do arroz em Mato Grosso é uma incógnita.

– Ninguém sabe o que será plantado, pois até mesmo a compra de sementes está atrasada – disse ele. Galvan lembrou que os produtores estão endividados, não conseguem refinanciar as dívidas, falta crédito e há excesso de estoque no mercado. O presidente da Associação dos Produtores de Arroz (APA), Ângelo Maronezzi, confirma a redução.

– Ainda não sabemos quanto será esse percentual, pois a situação está indefinida tanto em relação a crédito quanto a preço de mercado.

Segundo ele, o produtor contabiliza grande prejuízo nesta safra em função desta conjunção de fatores negativos.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter