Expectativa domina o mercado

 Expectativa  domina  o mercado

Beneficiamento: no compasso do varejo

Setor espera preços médios maiores que 2008
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O mercado de arroz vive um primeiro quadrimestre de muita expectativa em 2009, mas pouca comercialização e valorização do produto no Brasil. Escaldados pelos prejuízos de outras safras, os produtores estão mudando significativamente o perfil de oferta, dosando a venda de produto, usando da forma que mais lhes for adequada os mecanismos de comercialização – EGFs e contratos de opção de vendas – e esperando preços melhores.

A indústria, em contrapartida, já não vai mais com tanta sede ao pote e regula as compras, encontrando outras alternativas mais rentáveis para o capital do que imobilizá-lo totalmente em produto que ficará parado até seis meses dentro dos silos, com quebra e custos de manutenção. A cadeia produtiva, portanto, age menos e estuda mais os movimentos de mercado.

Se o ano de 2008 foi absoluta-mente diferenciado, com os preços do cereal em alta em plena safra em razão da crise mundial de alimentos – e uma dose de especulação – e depois registrando baixas em plena entressafra em razão da antecipação dos estoques pelas indústrias, em 2009 o cenário é diferente. O ano começou com o aumento das importações e expecta-tiva de grande safra, o que pressionou os preços internos. Além disso está descartada uma alta tão significativa dos preços internacionais em razão das grandes safras asiáticas e do Mercosul. “Em 2008 a exportação aumentou porque os preços internacionais aumentaram e por isso os preços internos também tiveram alta”, diz Tiago Sarmento Barata, consultor do Irga.

A principal semelhança será o nível de interferência dos preços internacionais no mercado interno, segundo análise dos principais consultores brasileiros. Com o Brasil alcançando o patamar de oitavo maior exportador mundial em 2008, cada vez mais o câmbio e as cotações externas influenciarão a formação dos preços domésticos. Com medo de entrar 2009 com um estoque de passagem preso em suas mãos, desde dezembro de 2008 as empresas uruguaias e argentinas forçaram a oferta para o Brasil, inclusive com preços até R$ 2,00 abaixo do mercado interno por saca.
Isso, aliado à expectativa de safra cheia no país e nos vizinhos do Mercosul, retraiu a indústria e permitiu que o varejo determinasse um alto nível de exigência de preços, praticamente determinando as condições de mercado. Com a queda de preços iniciada com mais força a partir de fevereiro de 2009, os produtores ofertaram mais para assegurar negócios em médias superiores e isso acelerou a baixa do mercado, o que voltou a retrair a oferta.

Mas exceto por estas duas razões principais, importações e volume de safra, o cenário interno é amplamente favorável à valorização de preços ao produtor. A produção ainda é menor do que a demanda nacional, cerca de 250 mil toneladas, e o estoque de passagem é baixo, 1,08 milhão de toneladas. Além disso, os produtores têm recursos suficientes à disposição nos mecanismos oficiais de comercialização. Estas razões apontam para uma valorização no segundo semestre do ano. Os próprios valores dos contratos de opção, sinalizando mais de R$ 30,00 a saca para outubro, indicam um piso mínimo de comercialização futura.


De fora para dentro

Graneleiro cheio: depois da safra é hora de torcer  por preço bom na comercializaçãoApesar do cenário positivo para o segundo semestre, a valorização do arroz em níveis mais significativos não está garantida. O calcanhar-de-aquiles do mercado brasileiro de arroz em 2009 é justamente o mercado internacional, que determinou preços mais elevados em 2008. Entender é simples: depois de ter subido de 380 para mais de um mil dólares a tonelada em 2008, o arroz voltou ao patamar de 500 dólares/tonelada neste início de ano. O valor ainda é bom, pois a desvalorização do real frente ao dólar em meio à crise financeira mundial – com paridade de R$ 2,20 = US$ 1,00 – manteve o produto nacional competitivo. Ou seja, neste preço o Brasil ainda será um ator importante no cenário internacional, exportando volumes que a Conab projeta em 500 mil toneladas e que o setor aponta entre 600 e 750 mil toneladas.

Por este cenário a importação continuaria restrita e a balança comercial poderia terminar o ano superavitária ou, na pior das hipóteses, equilibrada. A Conab, no entanto, aponta um déficit de 450 mil toneladas, com a importação de 950 mil toneladas de arroz do Mercosul (principalmente) e de terceiros mercados. Ainda assim o Brasil chegaria a 28 de fevereiro de 2010 com um estoque de passagem de 1,25 milhão de toneladas, em níveis similares aos atuais.

Mas então o que poderia alterar negativamente este mercado? Aí é que está o “x” da questão: se o dólar seguir em volta dos R$ 2,20 e os preços internacionais nos 500 dólares, a situação das vendas externas é tranquila. Mas o mercado internacional tem seus fantasmas. O primeiro deles é o anúncio de que a Índia, que se retirou do mercado exportador em razão da crise mundial de alimentos e recompôs seus estoques, poderá voltar às vendas internacionais. Isso ampliaria a oferta e afetaria negativamente as cotações.

O segundo é a valorização do real frente ao dólar. Se os preços interna-cionais caírem abaixo da casa dos 450 dólares/tonelada para o arroz e o dólar abaixo de R$ 2,00, as exportações brasileiras perdem a viabilidade e os países do Mercosul, que também perderiam competitividade, passarão a enxergar o Brasil como um mercado mais atraente. Essa oferta pressionaria os preços internos. Ao país restaria a exportação de quebrados e produtos de valor agregado em contêineres e situações diferenciais de contrato. “Essa é a chave da questão. Temos que torcer por um mercado internacional equilibrado, com preços acima de 500 dólares, e para que o dólar não caia abaixo dos R$ 2,00”, avisa o vice-presidente de mercados da Federarroz, Marco Aurélio Marques Tavares.

Segundo ele, a queda das vendas brasileiras e do bloco econômico para terceiros países aumentaria os volumes ofertados no mercado interno e essa pressão derrubaria preços. “Neste cenário as médias seriam menores, mas ainda é uma hipótese. Mantendo-se a atual situação teremos uma valorização gradual, mas firme para o arroz no mercado interno. Talvez os níveis não retornem aos R$ 36,00 do final de 2008, exceto em momentos de pico, mas serão bem melhores do que os atuais”, afirma Tavares.


FIQUE DE OLHO

O presidente da Federarroz, Renato Rocha, não concorda com os números oficiais de exportação e importação para 2009. Segundo ele, o Brasil exportará mais de 500 mil toneladas e importará menos de 950 mil toneladas. “Embora os números da importação no primeiro quadrimestre não sejam tão satisfatórios quanto o ano passado, a exportação cresceu cerca de 50%”, lembrou. Segundo ele, com a Argentina anunciando a venda de quase metade de sua produção apenas para três países (Venezuela, Irã e Iraque), o mercado do bloco sentiu-se aliviado. “O Uruguai anunciou que priorizará terceiros mercados, até por reconhecer que vender para o Brasil mantém a pressão e preços baixos até para eles mesmos”, relatou. “O aumento da importação do Mercosul neste primeiro trimestre foi causado por um esforço para zerarem os seus estoques, mas esse nível de compra não se manterá, até porque a indústria terá que pagar CDO sobre estes valores”, avisou.

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