Exportadores de arroz em alerta com a Índia suspendendo restrições
(Por Planeta Arroz) A recente decisão do governo indiano de remover o preço mínimo para as exportações de arroz basmati e aliviar as restrições às exportações de arroz não basmati gerou pânico entre os exportadores de arroz paquistaneses, que se beneficiaram das restrições anteriores.
Esses benefícios foram refletidos nos números anuais de exportação de arroz do Paquistão. No Ano Fiscal 2024 (AF24), o Paquistão conseguiu exportar arroz no valor de cerca de US$ 3,9 bilhões, em comparação com US$ 2,15 bilhões no AF23. Espera-se que a nova política da Índia, em vigor a partir de setembro de 2024, tenha implicações significativas para o Paquistão, o seu principal concorrente no mercado global de aromáticos.
Anteriormente, a Índia impôs um preço mínimo de exportação (MEP) de US$ 1.200 por tonelada para o arroz basmati para estabilizar os preços locais e garantir um fornecimento doméstico adequado. No entanto, devido à demanda em declínio nos mercados internacionais e à pressão dos exportadores de arroz, reduziu para US$ 950,00 e, por fim a Índia revogou o preço mínimo. Além disso, as restrições à exportação de arroz não basmati, que foram introduzidas para controlar a inflação doméstica, também foram relaxadas, com alguns volumes sendo disponibilizado para países de interesse da Índia.
De acordo com especialistas do setor, o Paquistão, o segundo maior exportador mundial de arroz basmati depois da Índia, pode enfrentar sérios desafios devido a essa mudança de política. Historicamente, o Paquistão capitalizou sua reputação de arroz de alta qualidade, particularmente nos mercados da União Europeia e do Oriente Médio, onde o grão é valorizado por seu aroma distinto e qualidade superior. No entanto, com a Índia agora livre para exportar a preços mais competitivos, os paquistaneses devem ser forçados a reduzir seus preços ou correr o risco de perder participação de mercado.
“Escrevemos uma carta para a Autoridade de Desenvolvimento Comercial do Paquistão (TDAP) solicitando que eles reduzam o MEP para o arroz basmati para cerca de US$ 900 por tonelada, que atualmente está definido em US$ 1.300 por tonelada”, disse um porta-voz da Associação de Exportadores de Arroz do Paquistão (REAP). “Seis meses se passaram, e nenhuma decisão foi tomada pela TDAP”, ele acrescentou.
Exportadores de arroz paquistaneses estão preocupados que eles podem não ser capazes de manter os níveis atuais de exportação se a Índia começar a inundar o mercado com arroz basmati mais barato. Especialistas observam que o arroz paquistanês tem sido tradicionalmente precificado de 10% a 15% mais alto do que seu equivalente indiano, devido aos maiores custos de produção e impostos relacionados à exportação.
“Este é um movimento estratégico para recuperar o domínio da Índia em mercados-chave, o que criará imensa pressão sobre as cotações do arroz basmati paquistanês”, disse Fareed Ansari, um economista agrícola. “O Paquistão sempre confiou em sua qualidade superior para comandar um preço premium para o aromático, mas com este último movimento da Índia, os exportadores podem considerar reduções de preços ou explorar novos mercados para permanecerem competitivos”, acrescentou.
Em 2022-23, a Índia exportou arroz no valor de mais de US$ 11 bilhões, com o basmati respondendo por US$ 4,8 bilhões. Enquanto isso, as exportações totais de arroz do Paquistão ficaram em US$ 2,15 bilhões. Em 2023-24, as exportações de basmati da Índia aumentaram para US$ 5,9 bilhões, enquanto as exportações totais do Paquistão atingiram cerca de US$ 3,9 bilhões.
Com as restrições da Índia agora suspensas, as exportações de arroz não basmati do Paquistão também podem ficar sob pressão, particularmente nos mercados africanos e do sudeste asiático, onde ambas as nações competem pelo domínio. No entanto, alguns especialistas acreditam que a situação pode não ser tão terrível quanto o previsto.
“As exportações de arroz basmati do Paquistão podem não ser afetadas em termos de quantidade, mas poderemos ver uma redução de até US$ 400 milhões nas receitas anuais”, disse Hamid Malik, cofundador do Instituto de Pesquisa de Política Agrícola.
Ele acrescentou que a decisão do governo indiano também pode ter motivação política, com as próximas eleições estaduais em Haryana, onde 60% do arroz da Índia é cultivado. “Essa decisão pode ser revertida após as eleições, mas é importante notar que o Paquistão responde por apenas cerca de 20% do comércio global de basmati, e temos uma reputação estabelecida de qualidade em mercados de exportação importantes, como o Golfo, a UE e a América.”
Malik explicou ainda que os preços globais do arroz estão caindo, e os agricultores indianos estavam lutando para vender seu basmati a US$ 950 a tonelada, levando o governo indiano a remover o preço mínimo. “Enquanto isso, o basmati paquistanês ainda está sendo vendido por pouco menos de US$ 1.000 a tonelada”, disse ele.
Especialistas sugerem que o Paquistão precisa focar em marketing e inovação para promover seu arroz em mercados premium. Competir com a Índia apenas em preço não será suficiente. Além disso, o Paquistão poderia explorar novos acordos comerciais ou expandir os existentes.