Falta inteligência comercial ao arroz ?
(Por José Nei Telesca Barbosa) Numa rápida pesquisa de preços feitos a partir do Plano Real de 1994 até hoje, período em que tivemos uma relativa estabilização da moeda brasileira, podemos verificar que as principais commodities agrícolas tiveram seus preços valorizados significativamente frente ao dólar, enquanto o arroz não!
A soja estava naquele ano cotada em 8 U$ o saco e hoje está 36 U$. O milho do mesmo modo, saiu de 4 a 5 U$ o saco, para 18,46 U$ atualmente. Pode-se exemplificar também o caso do boi, um dos mercados mais atrasados e sujeitos a toda sorte de manipulação, especialmente contra o produtor, que teve o aumento dos 0,65 cents para 2 U$ o quilo.
No caso da soja é evidente que isso deve-se à vinculação dos seus negócios às bolsas internacionais de mercadorias e a forte demanda chinesa pela oleaginosa.
O mercado do milho quanto a sua elevada valorização merece um destaque especial, pois sempre teve um mercado difícil com forte desestímulo aos produtores, visto que no ano de 1994 estava próximo de 4U$ ou 4 reais em moeda nacional. Mas, ao que se pode atribuir essa forte valorização que o fez chegar aos atuais 18,46 U$ ou 100,00 reais por saco? Ou do quase nada para muito?
A forte demanda interna pelo consumo do milho pela indústria avícola e suinícola não era suficiente para garantir uma estabilidade de preços remuneradores aos produtores, pois estas não se preocupavam em estabelecer uma relação de parceria com os produtores, que garantissem preços remuneradores. O milho somente libertou-se da formação de preços aviltantes, quando iniciou um processo de exportação para os EEUU e por seus agentes terem copiado o objetivo americano de utilizar o milho na fabricação do etanol e o uso do subproduto das refinarias (DDGS), na suplementação e engorda de bovinos no próprio Centro Oeste brasileiro.
E o MERCADO DO ARROZ, porque não mudou de patamar de preço, que o faça sair dos 11 U$ por saco de 50 kg, onde está há 28 anos? Qual a INTELIGÊNCIA COMERCIAL disruptiva que está sendo definida pelos produtores, suas entidades, assistência técnica e pelos engenhos?
Observa-se no setor da produção do arroz um completo desânimo e o prosseguimento das antigas dificuldades, que advém de muito antes do ano de 1994, em que foi estabilizada a moeda!
O que se vê na inteligência comercial do arroz, nestes últimos quinze anos é a saída única pela exportação. Medida que seria importante, se não fosse a pequena mobilidade do produto no mercado internacional, pois já foi dito que os países consumidores também são produtores em sua grande maioria.
Então, o que falta ao setor do arroz para aumentar a demanda e a melhora de preços, para que os mesmos sejam remuneradores frente aos altos custos da produção? Uma das alternativas é seguir o caminho do milho na direção do etanol e o uso dos subprodutos da usina na suplementação bovina, que hoje apresenta grande demanda frente à melhoria tecnológica dos sistemas de criação derivado do aumento dos preços da bovinocultura já apontados. Ou o simples uso para a ração animal dos subprodutos do beneficiamento como a quirera, quebrados e a destinação ao mercado consumidor apenas do arroz tipo 1.
Por fim, o que se têm insistido há anos na evolução do engenho para uma indústria de alimentos, em que tire o arroz da visão apenas para a panela e o utilize para a confecção de produtos de maior valor agregado, como pão, biscoitos, massas, cervejas, ração pet etc.
As vésperas de mais um ciclo de debates da 32ª Abertura da Colheita do Arroz se espera que sejam apresentadas alternativas e atitudes, pois já se acompanha desde a 11ª abertura ou há 21 anos, sempre com muitas sugestões, mas pouco implementadas! Fora disso, é falta de Inteligência Comercial ou não querer contrariar interesses estabelecidos, mas que acabam beneficiando poucos e prejudicando a maioria dos produtores e toda a região arrozeira do Rio Grande do Sul.
6 Comentários
Planeta Arroz, tenha mais cuidado em suas publicações, nota-se que o Sr. José Nei, tem pouco ou quase nada de conhecimento sobre o mercado de arroz, perguntar se falta “inteligência comercial” ao setor é a prova disso.
Sr. Nei, o setor orizícola, principalmente os nossos produtores aqui no RS, é tomado de uma capacidade enorme, superior a muitos países que também produzem arroz, a nossa qualidade e a nossa produtividade não há o que questionar, ainda mais a inteligência.
Referente aos preços, há fatores bem maiores do que a simples “inteligência comercial” na qual o senhor colocou em xeque. Teria que ter abordado mais profundamente o tema, pois comparar a evolução de preços da soja, milho e do gado sem levar em consideração as variáveis de cada produto é temerário.
É fácil questionar a inteligência alheia, difícil é ter conhecimento profundo sobre o tema abordado.
Concordo contigo Nei, entretanto penso que a produção nacional atualmente é absorvida pelo mercado interno! Ocorre que o tumultua nosso mercado é esse arroz que chega via Mercosul. Se esse arroz que vem de fora não adentrasse no país com disparidade de custos (mão-de-obra, insumos e herbicidas) tudo seria muito diferente!
Milagre o Sr. Flavio não colocar a culpa nas indústrias de arroz, para ele a culpa é sempre da indústria.
Sr. Paulo Marques está coberto de razão. Não entrem nesta onda de “todo mundo está contra o orizicultor”. A “Inteligência Comercial” deve partir de cada produtor, ele que deve analisar o mercado definindo a melhor comercialização pra ele. A indústria é outra fase da cadeia, e, é problema dela o preço que pagou e o que vai fazer com o produto que comprou. Não comparem outros mercados, apenas estudem e avaliem estratégias semelhantes, mas entendam que o “mercado” tem vida própria, apesar dos movimentos especulativos que alteram seu movimento por tempo definido, a Lei maior sempre será a da Oferta e Demanda, o resto é gestão de risco, gestão financeira e análise. Quer atuar em determinado mercado? Estude sua cadeia, aprenda a ter eficiência de ponta a ponta, desde a compra do insumo até a hora da venda do produto. Quanto ao arroz do Mercosul, acho que ainda não estamos preparados para adentrar nesta vertente, as pessoas precisam entender um pouco mais sobre custo de produção, câmbio, tributação, pra depois evoluir até comércio exterior. Mas fica a dica, o custo de produção do arroz de fora não influencia nada na decisão de compra aqui. Se uma empresa do Uruguai me oferece arroz por R$ 50,00/saca, não quer dizer que o custo de produção daquela saca foi menor que isso meus amigos, aliás pra quem compra, o que menos interessa é quanto o vendedor gastou pra produzir. Ou vocês sabem quanto custa o Diidrogeno ortofosfato de amônia que descarrega aqui no porto e quanto a empresa de adubo gasta para transformá-lo em MAP. Não sejam tão razos em suas análises. Concordo plenamente com a provocação de que precisamos sempre estar estudando novas alternativas para fomentar demanda na cadeia do arroz (de novo oferta/demanda), mas sem empurrar a responsabilidade para apenas um envolvido no processo, é uma busca pra todos. E senhores, a indústria quer comprar arroz barato sim, esse é o negócio dela. É errado eu querer pagar o menor preço quando vou comprar fertilizante, defensivo…? É errado eu segurar meu arroz quando vejo que a oferta está afetada e aguardar o preço subir? Pronto, se a resposta for “não é errado”, tu entendeu como funciona. Cada um cuida da sua margem e do seu negócio. Deixo claro que eu não estou defendendo indústrias, nem revendas e nem ninguém. Apenas tentando mudar o foco da discussão para a nossa área, de produtores. Deixa a indústria que lute a guerra dela. Não apontem culpados, apenas leiam, interpretem, tenham dúvidas razoáveis em cada fase da produção. Só isso. Aliás quando fizerem isso, não terão mais tempo de procurar culpados de nada, isso eu tenho certeza.
Sejam os protagonistas do seu negócio.
Que todos tenhamos uma boa safra!
ZR1, parabéns pelo comentário, falou tudo e reforçando o que pontuaste em teu comentário, o que menos interessa a qualquer comprador é o custo do fornecedor. É exatamente assim que funciona, o produtor na hora de comprar os insumos, ele não quer saber do câmbio, dos custos das indústrias de fertilizantes, do óleo diesel, ele quer simplesmente o produto barato e que atenda as sua necessidade para obter o melhor resultado possível na venda. A indústria, não quer saber quanto o produtor gastou para produzir o arroz, ela quer comprar o arroz barato para poder obter o melhor resultado no seu negócio. O atacado e o varejo, não querem saber quanto a indústria pagou para o produtor o saco de arroz em casca, eles querem o fardo barato, de boa qualidade e que de o melhor resultado para o seu negócio. Os consumidores e nessa eu me incluo também, querem ir ao supermercado, em uma loja de roupas, de perfumes e etc, comprar produto de qualidade e ao menor custo possível. Isso é normal, pergunto para todos que comentam aqui, onde esta o crime, onde esta o erro em tudo isso que comentei acima????? No meu entender não existe erro nisso, só o senhor Flavio que vai ao supermercado da cidade dele, pega 5kg de arroz na gôndola, de preferência aquele que esta na promoção e chega no caixa e paga o dobro do valor, chama o dono e fala que pagou mais caro para valorizar o produtor de arroz. Por favor né, realmente não tem o fazer.
Agradeço os comentários ao texto, mas a questão crucial não foi respondida e a repito para ficar bem entendida: Falta “INTELIGÊNCIA COMERCIAL” ao Arroz?
Não há nenhuma referência as questões técnicas de produção e produtividade. Apenas comparando ao milho, boi e soja, que nos últimos 28 anos considerados tiveram um incremento vertiginoso no preço ao produtor! Então a questão é colocar a inteligência a funcionar para encontrar o caminho da solução e não ficar apenas “enxugando gelo”. Essa obrigação parece ser de todos, minha inclusive (que já aponto há anos), como também dos técnicos, entidades, produtores e engenhos. Acrescento que todos influenciamos no tal “mercado”, nesse até o consumidor, não sendo um ente enigmático ou abstrato como querem nos fazem crer!