Faltam armazéns para guardar a safra brasileira de grãos

Enquanto que a previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a próxima safra varia entre 122 e 125 milhões de toneladas, os silos das iniciativas privada e pública têm uma capacidade estática de pouco mais de 104 milhões.

Uberlândia/MG – A produção brasileira de grãos é superior à capacidade de armazenamento estática instalada. Enquanto que a previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a próxima safra varia entre 122 e 125 milhões de toneladas, os silos das iniciativas privada e pública têm uma capacidade estática de pouco mais de 104 milhões. Conforme estudos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o ideal é que os países tenham uma estrutura suficiente para acomodar, pelo menos, 1,2 vez a safra local. Considerando a previsão traçada para 2005/2006, o País teria que dispor de armazéns capazes de receber 150 milhões de toneladas.

O déficit na capacidade de armazenamento de grãos no Brasil, no entanto, é parte de um problema que é mais amplo e diz respeito a todo o processo denominado pós-safra, que envolve ainda o escoamento da produção e o processo de exportação aos mercados internacionais. “O custo da produção brasileira, considerando os principais produtos agrícolas, é inferior ao do restante do mundo. Agora, quando você agrega o pós-safra, às vezes, o País enfrenta dificuldades de colocação”, destaca o secretário executivo do Ministério da Agricultura, Luis Carlos Guedes Pinto, que exemplifica a oneração dos custos citando a soja plantada no Mato Grosso do Sul. Segundo ele, o custo que o produtor terá para transportar os grãos da propriedade até o porto é até cinco vezes mais do que teria um produtor dos Estados Unidos ou Argentina.

A falta de armazéns reflete diretamente no faturamento do produtor. Se não há local para armazenar os grãos, o agricultor é obrigado a negociar toda a produção independente do valor praticado pelo mercado. “O produto agrícola é consumido durante todo o ano, mas o período de safra é de, no máximo, quatro meses. Obviamente, durante a colheita, os preços caem e o produtor é obrigado a vender. Ou seja, aumentando a capacidade de armazenamento, a gente estará aumentando a capacidade do produtor de obter melhores preços e aguardar o momento mais oportuno para vender”, afirma Luis Carlos Guedes.

Atualmente, apenas 3% da estrutura de armazenamento disponível no País estão sob a responsabilidade do governo federal e não há previsão de ampliação. No entanto, o Ministério da Agricultura junto com a Secretaria de Política Agrícola, lançou o Programa de Incentivo à Irrigação e à Armazenagem (Moderinfra), cujo objetivo é financiar, entre outras ações, a construção de armazéns nas próprias fazendas.

Os recursos são provenientes de um convênio acertado com o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (Bndes) e pode ser contratado junto nas agências bancárias credenciadas no Sistema Nacional de Crédito Rural. De acordo com o presidente da Conab, Jacinto Ferreira, o valor médio liberado por produtor tem sido de R$ 300 mil. A taxa de juros é de 8,5% ao ano. Na safra passada, foram contratados R$ 430 milhões. Para este ano, o Ministério da Agricultura negociou a liberação de R$ 700 milhões. A política do governo, defende Jacinto Ferreira, tem surtido efeito. Há quatro anos, quando o projeto foi iniciado, apenas 4% da estrutura de armazenamento estavam nas propriedades. “Hoje, representa cerca de 11%, ou seja, tem capacidade para acomodar 13 milhões de toneladas de grãos”, completou o presidente da Conab.

Seminário vai discutir o pós-colheita
A falta de estrutura para armazenar toda a produção brasileira será um dos temas previstos na programação do 4º Seminário Nacional de Armazenagem, realizado em Uberlândia até a quinta-feira, 10. A abertura oficial do encontro foi realizada ontem e os organizadores estimam a participação de 600 pessoas, entre produtores agrícolas, estudantes, empresários, pesquisadores e políticos.

“A intenção é discutir o pós-colheita, identificando o que o produtor e o Brasil perdem da colheita até o destino final. É um longo caminho a percorrer e a armazenagem é apenas um deles. Há outros que são: infra-estrutura de transporte rodoviário, portuário e de navegação”, explicou o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Jacinto Ferreira.

Durante os quatro dias de discussão, os participantes vão debater a política, legislação e cenários da pós-colheita no Brasil e no mundo e também os avanços tecnológicos no pré-processamento e armazenamento dos produtos agrícola no pós-colheita. Outros temas discutidos serão as exigências dos mercados importadores e a política de financiamento para o setor. Haverá ainda um painel para tratar da situação da malha viária no País.

O seminário é uma iniciativa da Conab, empresa vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em parceria com as Universidades Federais de Uberlândia e Viçosa e com o Centro Nacional de Treinamento em Armazenagem (Centreinar). O encontro é aberto ao público e está previsto para iniciar às 8h30, no Center Convention.

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