Fazendo história

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Plateia atenta: mais conhecimento sobre a soja

Irga e os produtores pavimentam o caminho
da produção de soja
rumo aos 6 mil kg/ha
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A produção de soja em áreas de várzea na rotação com o arroz é um caminho sem volta, viável e capaz de obter produtividade média acima de 6 mil quilos por hectare. Mas há necessidade de avanços na pesquisa e no manejo. Essas foram as conclusões apresentadas pelos produtores, técnicos e pesquisadores reunidos em Santa Maria no final de junho para o 2º Encontro de Produção de Soja em Terras Baixas do Sul do Brasil. O evento, restrito a convidados, reuniu mais de 200 pessoas nos dois dias, além de outras 2 mil que assistiram pela internet.

A promoção foi do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), coordenada pelo gerente da divisão de pesquisa Rodrigo Schoenfeld, com o objetivo de analisar o desempenho do primeiro ano do projeto Soja 6000. O projeto busca a produtividade de 6 mil quilos por hectare da oleaginosa cultivada em áreas de arroz. “Além de avaliar o projeto, o encontro serviu para identificarmos as demandas dos produtores e compartilharmos experiências de manejo e tecnologias”, explica Schoenfeld.

O modelo dinâmico adotado deve ser elogiado: foram apresentações curtas e objetivas com as tecnologias empregadas, o formato do manejo e os resultados do cultivo de soja em áreas do projeto e comerciais por agricultores expoentes das seis diferentes regiões. Tudo avaliado por especialistas que resumiram as conclusões associando-as aos resultados e tendências da pesquisa. A formação de grupos para análise dos resultados e formulação de uma proposta conjunta de demandas também ajudou para que o aproveitamento fosse superior à média dos eventos setoriais.

De acordo com o gerente da divisão de pesquisa do Irga, apesar deste não ter sido o melhor ano para começar com o Soja 6000, por causa dos efeitos do El Niño de forte intensidade, os resultados foram significativos: das 24 unidades de validação foram colhidas 15, o que corresponde a perto de 70% da área. “As enchentes comprometeram as demais. Nestas áreas, no entanto, a média colhida foi de 75,5 sacos por hectare, ou 4.530 quilos”. A produtividade é 57% maior do que a média gaúcha de produção de soja: 2.900 kg/ha. “Isso demonstra que a proposta de buscar 100 sacos de 60 quilos por hectare não é uma fantasia. É possível com os ajustes necessários e uso das tecnologias disponíveis, que ainda podem ser aperfeiçoadas”, argumenta Roberto Longaray Jaeger, engenheiro agrônomo e produtor em Camaquã.

O engenheiro agrônomo e produtor Giovano Parcianello, de Alegrete, considera que o Soja 6000 ajuda o agricultor a responder uma série de questionamentos e pode abreviar muitos processos sem cometer os mesmos erros que outros já cometeram. “Em geral, o produtor de arroz lançou-se ao cultivo de soja na base da tentativa, erro e correção, sem todos os conhecimentos necessários. Estamos aprendendo estudando e na prática, daí a importância do suporte da pesquisa e dessa troca de experiências”, frisa.

QUESTÃO BÁSICA
Soja 6000 é um projeto de transferência de tecnologia de produtor a produtor em modelo similar ao Projeto 10. Neste processo, técnicos e empresas parceiras conduzem com os agricultores áreas demonstrativas que variaram entre cinco e 10 hectares na última safra. Nestas foram aplicadas as principais práticas de manejo desenvolvidas pela pesquisa. Na temporada 2016/17 estão confirmadas 50 áreas de testes no Rio Grande do Sul. O estado plantou cerca de 320 mil hectares de soja na várzea nesta temporada, sendo que aproximadamente 4 mil hectares foram perdidos e outros 25 mil foram afetados por enchentes.

 

Parceria reforçada

Entre os desafios do projeto está a obtenção de cultivares de soja mais adaptadas ao excesso hídrico no solo. Depois da TEC Irga 6070 RR, lançada pelo Irga em 2014 em parceria com a CCGL TEC, nova cultivar foi apresentada aos produtores durante o 2º Encontro de Produção de Soja em Terras Baixas do Sul do Brasil. O programa de soja da CCGL foi adquirido pela Bayer, que em parceria com o Irga desenvolveu a BS Irga 1642 IPro.

O coordenador de licenciamento de soja para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina da Bayer, Adilson Ludwig, apresentou as características da BS Irga 1642 IPro. “Trata-se de material com perfil diferenciado para atender a demanda do mercado de Intacta RR2 Pro. É tolerante ao excesso hídrico, testada em experimentos para a região 101, a Metade Sul do estado”, diz.

Ela foi testada nas últimas safras em diferentes regiões gaúchas e a média apresentada foi de um ciclo de 121 dias, 97 centímetros de altura e produtividade de 3.747 quilos por hectare em lavoura comercial. A época de plantio vai de outubro a dezembro. A tolerância ao excesso hídrico é semelhante à TEC Irga 6070. Destaca-se também pelo vigor inicial, fundamental para o estabelecimento da lavoura no ambiente de terras baixas. Ela estará disponível para os licenciados da Metade Sul na safra 2016/17 para utilização em áreas demonstrativas, segundo os responsáveis.


Sem descanso

“Quando não está plantando soja na várzea, o arrozeiro deve estar estudando como plantar e gerenciar melhor a produção para obter renda”. O conselho é de um dos maiores especialistas na área, o engenheiro agrônomo Dirceu Gassen. Segundo ele, a soja é uma realidade em terras baixas e na rotação com o arroz, mas algumas vezes é preciso que os agricultores permaneçam em alerta.

“Preocupa o custo de produção. O investimento está beirando 35 a 38 sacas por hectare. Com a soja entre R$ 85,00 e R$ 100,00 não é problema, mas no momento em que as cotações se estabilizem em patamares ajustados a realidade pode ser outra. Daí a importância do sojicultor trabalhar com planilhas muito controladas”.

Gassen enfatiza que alguns cuidados não podem ser esquecidos, caso da época de semeadura e eficientes sistemas de irrigação e drenagem. E é importante manter uma boa cobertura de solo capaz de preservar a umidade na terra e garantir melhores condições de desenvolvimento às plantas. “Mesmo em ano de El Niño, boa parte das perdas da temporada ocorreram por causa de seca”, alerta.

Para Gassen, mediante a expansão da cultura na região arrozeira, o agricultor não pode abandonar a área no inverno. “Ele precisa de uma boa estrutura de solo, manejar a palha, utilizar cobertura de inverno, que nas várzeas, basicamente, se resume ao azevém, e ter a sua equipe de trabalho na mão, apta e capacitada para o trabalho”, avisa.

O consultor afirma: “Não há tecnologia capaz de extrair do solo o que ele não tem para dar”. Então, reforça a necessidade de o agricultor manter suas áreas com as melhores condições físicas e químicas. “A planta bebe nutrientes todos os dias e são as raízes que constroem a estrutura e a porosidade do solo”, frisa.

Para ele, é importante eliminar a competição de ervas daninhas, proteger a cultura contra doenças, monitorar as pragas, analisar o índice de área foliar – que repercute diretamente na produção de grãos –, evitar falha na semeadura para reduzir perdas, investir em boas sementes – cara é a lavoura que não germina – e adubar pra buscar 100 sacas por hectare.

Gassen aprova, desde que implantado em boas condições e sob ambiente propício, o uso do trigo nas várzeas, ventilado por alguns produtores. No entanto, alerta que são iniciativas que devem estar bem planejadas e ser adotadas gradativamente a partir da validação da pesquisa, num segundo momento.

Para o professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Enio Marchesan, a sojicultura em terras baixas traz vantagens à orizicultura em termos agronômicos, aproveitamento da terra, máquinas e mão de obra, ou em termos econômicos. Enumera entre as grandes demandas deste desafio a necessidade do produtor buscar boas sementes, certificadas, drenagem e sistema de irrigação eficientes e plantas que possam ser utilizadas como cobertura do solo no inverno além do azevém.

Ele entende que a compactação do solo é um problema sério para o estabelecimento da soja e que o produtor pode ser mais eficiente no plantio observando o manejo preconizado no projeto. “Os detalhes serão ajustados com a sintonia fina do projeto”.

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