Federarroz enfatiza a eficiência na gestão de custos por rentabilidade

 Federarroz enfatiza a eficiência na gestão de custos por rentabilidade

Lideranças no plantio simbólico do arroz

Enquanto atua politicamente nas questões setoriais, entidade põe o foco nos custos de produção, eficiência e economia em favor da lavoura
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A gestão eficiente dos custos de produção, da lavoura e a economia são os grandes desafios do arrozeiro em busca de um perfil ainda mais profissional. Este, aliás, foi o tema central da 11º Abertura Oficial do Plantio do Arroz, realizado na última sexta-feira (29/8), no auditório da Farsul, na 37ª Expointer, no Parque Assis Brasil, em Esteio (RS). A promoção da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Federarroz), também registrou o lançamento da 25ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, que acontecerá entre 5 e 7 de fevereiro de 2015 em Tapes (RS).

Para a direção da Federarroz, as ações dirigidas às relações setoriais e políticas estão sendo bem encaminhadas pelas entidades, que gozam de representatividade e do respeito dos diversos segmentos públicos e privados da cadeia produtiva. No entanto, após dois anos de estabilidade de preços e de demanda e oferta ajustados, o arrozeiro deve buscar a máxima eficiência na redução de custos, sem que isso represente perda de competitividade. “Pelo contrário, temos que ser ainda mais eficientes em busca de rentabilidade na agricultura, que é uma atividade de alto risco”, argumenta Henrique Osório Dornelles, presidente da Federação.

Segundo ele, a gestão dos custos é fundamental para o produtor ter lucro ou prejuízo ao final da safra. “As margens, mesmo com a maior eficiência na gestão administrativa e financeira do negócio, são muito apertadas. Os custos e tributos são altos, as máquinas caras, e o mercado nem sempre é favorável”, alerta. Para mobilizar os rizicultores no sentido de um gerenciamento mais eficaz das decisões e planejamento em suas propriedades, a Federação oportunizou na última sexta-feira um conjunto de palestras de alta relevância técnica, voltada à gestão da mecanização dos processos, boas práticas e uso eficiente dos insumos, mesmo sob clima adverso, e sobre a relação economia x custos.

Mecanização: operando e economizando foi o tema abordado pelo engenheiro agrônomo e professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) José Fernando Schlosser. Ele entende que o setor deve priorizar algumas ações, entre elas o treinamento de pessoas, uma deficiência do setor primário. Para Schlosser, a eficiência da mão-de-obra implica diretamente nos resultados da safra, principalmente consumo de combustível e manutenção, bem como a organização e limpeza de máquinas e implementos. Ressaltou a necessidade da atenção à segurança para os reboques graneleiros, campeões em acidentes de trabalho. Schlosser defende que os rizicultores busquem informações sobre tratores, implementos e máquinas em sites especializados ou técnicos antes de definirem a compra e apresentou alguns indicativos de mecanização que permitiu aos presentes saber se estavam sendo eficientes ou não.

Boas práticas agrícolas no uso de fertilizantes foi palestra apresentada pelo pesquisador Rodrigo Schoenfeld, do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Segundo ele, uma das principais maneiras de reduzir os custos na lavoura é obedecer à época indicada para a semeadura, ampliando a eficiência dos insumos. Diante da expectativa de ocorrência do fenômeno El Niño na próxima safra, recomendou alguns cuidados: os insumos que mais sentirão a adversidade são o Nitrogênio (N) e o Potássio (K). “Neste caso, o potássio pode ser fracionado, com uso de ureia cloretada na hora de maior demanda. E deve-se evitar drenagem, principalmente no sistema pré-germinado”.

Rodrigo Schoenfeld enfatiza que no pós-colheita, é importante que o rizicultor use rolo-faca para incorporar a palha o mais rápido possível, evitando perdas no solo, e utilize plantas de cobertura, como o azevém, para “ciclar” o potássio até o retorno da cultura de verão. Em relação ao N, o importante é não perder o momento de aplicação (estádio V3-V4). “Se não tiver piso para trator, chama o avião”, recomenda. Com o clima adverso, é preferível antecipar a aplicação a ter que atrasar. “Se tiver piso, com duas a três folhas, é melhor aplicar no seco do que com quatro folhas no barro”, acrescenta. O pesquisador do Irga alerta para que os arrozeiros não joguem todas as fichas em única aplicação. “Se fracionar, o ideal é fazê-lo em três vezes: 60% em V3-V4; 20% em V6; e 20% em V8”, destaca.

Outra estratégia é a utilização do Super N. As perdas são menores. Mas, vale lembrar que no caso do inicio da irrigação com até cinco dias após a aplicação de ureia convencional, ela tem comportamento igual ao Super N. “A partir daí, a ureia perde muito. A recomendação é dar um jeito de irrigar cedo”. Para Schoenfeld, época de semeadura, irrigação precoce, fracionamento da aplicação de alguns insumos, especialmente potássio, rotação de culturas, coberturas de solo no inverno, são alguns dos procedimentos determinantes para enfrentar a adversidade climática. “É preciso aplicar o manejo correto na hora correta. Mas, em condições de El Niño, a recomendação mais importante: é preferível antecipar as operações a ter que atrasá-las”, finaliza.

ECONOMIA x CUSTOS – O professor do Centro de Estudos Aplicados em Economia Avançada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), Geraldo Barros, palestrou sobre a área econômica, abordando o desempenho do agronegócio brasileiro no contexto macroeconômico na última década e perspectivas futuras. Destacou em sua palestra que o arroz é uma das raras commodities com estoques em baixa no Brasil, que registra ligeira alta no mercado mundial, e sentirá reflexos do aumento da demanda do cereal por parte da China. Apesar disso, julga que o País tem grande potencial exportador, mas ainda engatinha neste comércio e, até por isso, é preciso ter um cuidado especial com o mercado doméstico, para o qual dispõe de indústrias competentes e um sistema de transporte e logística planejados e em operação, bem como um comércio extremamente organizado. E trata-se do maior mercado consumidor fora da Ásia.

Até por questões como essa, é importante que o orizicultor saiba qualificar muito bem que tipo de lavoura ele tem. Se há alto potencial, pode-se aplicar alta tecnologia, mas se é de baixo potencial, não pode, pois provavelmente o resultado não compensará o investimento. Finalmente, a recomendação é para que o arrozeiro redobre os cuidados com investimentos sem justificativas. Para investir, é preciso o ganho real. Se não houver, deve-se buscar outra solução.

Esta qualidade dos debates e o nível das informações levadas ao segmento produtivo serão mantidos nos próximos eventos da Federarroz, razão pela qual é esperada grande afluência de produtores e técnicos do setor. “Estamos montando uma programação exclusivamente voltada à maior eficiência produtiva, qualificação da gestão e profissionalização do rizicultor para a 25ª Abertura Oficial”, resume Henrique Osório Dornelles. Entre os palestrantes já confirmados para o evento está o analista internacional Patrício Méndez Del Villar, do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), da França.

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