Fenarroz atrai produtores de todo o mundo em Cachoeira do Sul
Apesar das diferenças culturais, brasileiros e estrangeiros buscam o mesmo objetivo no evento: fazer bons negócios.
O frio, um absurdo para o empresário Zahir Hussain, acostumado com os 40ºC indianos, e os costumes diferentes não foram empecilhos para que ele retornasse ao Rio Grande do Sul. Na quinta-feira, dia 20, ele desembarcou em Cachoeira do Sul com a mulher, os pais e os dois filhos. O indiano de poucas palavras faz parte de uma leva de estrangeiros que, de dois em dois anos, chega ao município para prestigiar a Fenarroz.
Hussain já havia participado de uma feira industrial em Caxias do Sul, mas essa é a primeira vez que o empresário visita Cachoeira do Sul. Junto com ele, segue o sócio Srinivasan, que também trouxe a mulher, os dois filhos e o pai. No total, 11 indianos desembarcaram na feira.
Apesar das diferenças culturais, brasileiros e estrangeiros buscam o mesmo objetivo no evento: fazer bons negócios. Os indianos, que participam pela primeira vez, não são os únicos de sotaque diferente por aqui. Como uma das maiores feiras do setor orizícola da América Latina, a Fenarroz passou a atrair visitantes de diversos países, que buscam, no evento, vender seus produtos e adquirir novas tecnologias. Neste ano, a feira conta com participações de China, Itália, Japão, Alemanha, Uruguai, Argentina e Índia.
Os representantes de outros países não têm estandes próprios no evento. Em geral, fazem parceria com empresas brasileiras que se tornam responsáveis pela exposição. Foi por meio de uma aliança com a Beckertrade, de Panambi, na Região Noroeste, que Hussain conseguiu desembarcar no Estado a tecnologia indiana da Orange Sorting Machines, da cidade de Coimbatore.
– Esses empresários de fora do país estão sempre por aqui, mesmo que não tenham um estande. Ficam circulando pela feira. Para nós é bom porque, ao mesmo tempo em que trazem as máquinas deles, são abertos novos mercados para os produtos brasileiros – explica o presidente da Fenarroz, Erico Razzera.
Hussain, natural de um dos países com a maior exportação de arroz no mundo, é um desses exemplos.
–Não pretendo só exportar, quero importar tecnologia brasileira para meu país também – garante o indiano, que decidiu vir para a feira porque recebe incentivos do governo do seu país para exportar para o Brasil.
Uma selecionadora de grãos por cores foi a máquina escolhida pelos indianos para ser apresentada na feira. O diferencial, garante Hussain, é a agilidade na seleção. A máquina é capaz de selecionar entre 3,2 a 6 toneladas de arroz por hora.
Foi essa alta tecnologia que fez a empresa brasileira estabelecer a parceria com a Orange. Em comparação com o mercado indiano, o Brasil ainda é um iniciante no setor de tecnologia orizícola.
– Se alguém entende bem de arroz são eles, que têm a tecnologia muito avançada nesse setor – explica o diretor da Beckertrade, João Carlos Becker.
Mas brasileiros e indianos não estão de olho apenas no mercado interno. Os estrangeiros escolheram a empresa gaúcha por ser também uma exportadora para toda a América Latina.
– Estamos apresentando essa selecionadora pela primeira vez no Brasil, mas a ideia é exportar essas máquinas para diversos países – confirma o diretor.
A Feira
> Quando: até domingo
> Onde: no Parque da Fenarroz, em Cachoeira do Sul
> Estandes: 370 expositores
> Ingresso: R$ 5 em dias de semana e R$ 6 no final de semana
Grão híbrido no Estado
Alta produtividade aliada à qualidade dos grãos, com bom padrão comercial, são as promessas do primeiro arroz híbrido da Embrapa, apresentado durante a Fenarroz. Desenvolvido especialmente para o cultivo nas lavouras gaúchas, terá 10 toneladas de sementes disponíveis para a próxima safra.
O principal diferencial do BRSCIRAD 302 – desenvolvido por meio de uma pesquisa feita em parceria pelo Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad-França) e a Embrapa – é a alta produtividade. Além disso, tem elevado rendimento de inteiros durante o beneficiamento – mais de 60%.
As sementes foram testadas durante quatro anos em Uruguaiana, Camaquã, Pelotas, Santa Vitória do Palmar e Mostardas.
Entre as cinco cidades gaúchas, Uruguaiana, na Fronteira Oeste, teve os melhores resultados. A máxima da produção no município chegou a 13 toneladas por hectare e a média de 10,6 toneladas por hectare.
– A fertilidade do solo, e o clima favorável foram algumas das características da região que contribuíram para que o grão se adaptasse melhor lá, mas o híbrido teve bons resultados nos outros municípios também – explica Alberi Noronha, analista de negócios tecnológicos da Embrapa.
Os orizicultores interessados nas sementes precisam fazer um cadastro com a Embrapa.