Fenarroz precisa se reinventar. E já

Fórmula do evento cansou e recado dos expositores foi muito claro: feira menor, festa separada.

A 16ª Feira Nacional do Arroz foi uma edição cansada e pronta para ser reinventada. A tentativa de adaptar-se ao conceito de multifeira não deu certo e o recado de alguns expositores mais tradicionais foi bem claro: o evento é muito longo para uma feira de negócios. Já os populares têm outra opinião: faltam atrações para garantir a presença do povão. Elevar o edredom ou fechar o parque para negócios? Esta é uma equação que o presidente Érico Razzera e sua equipe de abnegados voluntários terão de resolver até 2012, na 17ª Fenarroz.

A fórmula cansou, tanto que nem para palanque eleitoral serviu este ano. A governadora Yeda Crusius, que é candidata a reeleição, não veio a Cachoeira nem viu necessidade de aproveitar politicamente o debate arrozeiro. Os demais candidatos, que sempre cavam espaço para mostrar suas plataformas, nem cogitaram a visita. Dilma Rousseff, candidata a presidenta, que poderia vir a Cachoeira para encerrar a feira e inaugurar solenemente a Granol/Grandiesel, conforme comentários, nunca agendou-se para a Fenarroz, o que talvez explique a ausência dos líderes petistas, que foram mais assíduos em outras edições da feira.

Entre os expositores maiores, muita reclamação quanto à falta de estrutura da feira: defasada e não mais condizente com os milhões que são negociados embaixo de toldos inundados de água, em pisos embarrados e grama molhada. Não coincidência, esta foi a primeira feira em que nenhuma empresa solicitou a presença da imprensa para registrar negócios fechados nem os bancos divulgaram seus tradicionais balanços positivos de financiamento. Quase dava para tocar o constrangimento geral estacionado no ar.

PRESTÍGIO – A queda de prestígio e na avaliação do expositores, entretanto, não é uma novidade. Em 2008, vários industriais fizeram as mesmas críticas, mas nenhum deles pretendia dar declarações oficiais. A paciência acabou este ano e, na primeira chuva, os repórteres foram requisitados. A bronca dos banheiros, por exemplo, é sintomática. Ao mesmo tempo em que a cada dois anos é alardeada que a feira é a maior de todos os tempos, na contramão nenhum vice-presidente consegue relatar algum investimento significativo no parque. Quando o JP quis dar o outro lado desta acusação, a Fenarroz primeiro proibiu que qualquer informação fosse dada ao jornal. Depois proibiu que qualquer profissional do JP colocasse os pés na secretaria. Nem deu para conferir as ironias de alguns expositores de que os lucros das últimas feiras teriam sido investidos em TVs de plasma, aparelhos industriais de ar-condicionado para as salas administrativas da feira e também reformas no banheiro. Ficou a lenda.

PARA SABER MAIS
O que deve ser considerado

>> O primeiro aspecto a ser avaliado é o caráter popular da feira. O público foi satisfatório? A julgar pela qualidade do material à venda na zona de pequeno comércio, edições anteriores assustaram muito os expositores. Não fosse isso, não haveria tanto espaço para pirataria. Ninguém acreditaria em um tênis Adidas por R$ 50,00 e muito menos em um Nike por R$ 100,00. Pior para o revendedor de tênis autênticos, que comprou dois estandes e teve de concorrer com produtos falsificados. Nem todos os expositores praticaram a pirataria, é importante que se diga.

>> O segundo aspecto é o caráter técnico do evento. As fotos dos eventos e palestras da área setorial mostram o pouco interesse da classe, o que é uma pena, visto que entidades e personagens decisivos da cadeia produtiva do arroz compareceram ao circo técnico. A exceção que mancha o evento foi a inclusão de um palanque eleitoral em um dos dias da programação, com candidatos palestrando para menos de 50 pessoas na plateia, nitidamente atrás de mídia para suas candidaturas.

>> O terceiro aspecto é a ótica dos grandes expositores, o que garante a adje-tivação do evento como internacional e vitrina técnica. Os expositores querem um evento de no máximo três dias, concentrado, diretamente aos clientes. A sugestão da maioria é fazer uma feira de negócios de segunda a quarta-feira e uma festa popular de quinta-feira a domingo.

O MELHOR

>> O arroz ainda pulsa. Com todas as enchentes, problemas com preço mínimo, ameaças do mercado externo, mesmo assim a indústria mantém a força e os grãos batem recorde de safra no assolado Rio Grande do Sul.

>> A vitrina técnica se fortalece. Desde que a Fenarroz passou a ser vitrina de lançamentos mundiais, conferindo um aspecto internacional para o evento, a feira nunca mais diminuiu de tamanho. Este ano, até empresas da Índia aportaram no pavilhão de exposições.

>> As pessoas que fazem a feira. Abnegados ou sob contrato profissional, é certo dizer que a feira é resultado do esforço de apaixonados e funcionários absolutamente comprometidos com o sucesso do evento. Falta ainda a guinada para a profissionalização, mas o aspecto comunitário garante vida longa para a Fenarroz.

O PIOR

>> Falta de estrutura da feira. O estacionamento no barro e a falta de banheiros para o parque foram circundadas por reclamações menores e até algumas piadinhas. Um dos expositores internos mais indignados dizia que o tapete vermelho era de 1941 (data da primeira Fenarroz, quando ainda era Festa do Arroz)

>> Falta de grandes atrações para manter o pique da parte festiva da feira. Registre a queda de qualidade do pequeno comércio e o encolhimento do mercado de pulgas.

>> O esvaziamento político da feira, sem presença da governadora nem do presidente da Assembleia Legislativa, algum ministro ou representante do presidente Lula.

A SUGESTÃO
O que os expositores querem

>> Feira de sete dias
>> Segunda, terça e quarta dedicados apenas aos negócios, com investimento em estrutura e logística mais apurada e acesso restrito
>> Quinta, sexta, sábado e domingo para a festa, com shows, parque de diversões, pequeno comércio, mercado de pulgas, 24h de cultura popular, praça de alimentação e pelo menos um dia franqueado para as escolas, sem limite de alunos. Os grandes expositores manteriam os estandes, agora para faturar no marketing das marcas

2 Comentários

  • Nunca tinha participado da Fenarroz e simplesmente vem a ser a pior feira que ja fui. Sem foco de publico alvo, muito longa, barro para todo lado e ainda sim, tem a capacidade de cobrar R$ 12,00 para estacionar no barro – se nao for camionete 4×4, fica la mesmo. Expoarroz, abertura da colheita e dias de campo dao mais retorno que a Fenarroz. Espero que Cachoeira do Sul se imponha como sendo capital do arroz e faça algo e urgente. Se nao conseguem dar vida a Fenarroz, contratem agencias de publicidade, tecnicos experientes em feiras para isso. Por que certamente, nao irei de novo, e se me perguntarem como é a feira, sabem qual sera a resposta.
    Abraço e que as criticas sirvam para melhorar.

  • Ja participei varias vezes da feira,mas foi uma das piores feiras, sempre a mesma coisa. Para o tamanho da cidade a feira deixa muito a desejar.

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