Filha do Primeiro Ministro do Timor Leste beneficiada por contratos do governo

FRETLIN acusa o governo timorense de privilegiar negócios com familiares e amigos do primeiro-ministro, e ex-presidente da República, Xanana Gusmão.

Uma Comissão de Inquérito Parlamentar sobre a alegada corrupção envolvendo as importações de arroz do governo começou as suas funções ontem em Díli, Timor-Leste, mas o segundo Vice-Primeiro-Ministro, Mário Carrascalão, já confirmara entretanto que Zenilda Gusmão, a filha do Primeiro-ministro, foi beneficiada com um contrato do governo para importação de arroz. O vice-presidente da FRETILIN, Arsénio Bano, quer ver todos os negócios esclarecidos a bem de uma governação transparente.

O inquérito parlamentar sobre a adjudicação, contratação e aquisição de arroz desde 2007, foi proposto pela FRETILIN com o apoio de deputados de mais quatro partidos.

O deputado e Vice-presidente do partido FRETILIN, Arsénio Bano, afirmou que o inquérito iria analisar reclamações de fraude, corrupção e problemas de distribuição que afectam a importação de arroz do governo.

Segundo o programa radiofónico da SBS Austrália, divulgado no passado dia 12 de Setembro, o Vice-primeiro Ministro Carrascalão disse que Zenilda Gusmão “era uma das sócias de uma das empresas” ( Prima Food) que tinham ganho contratos do governo para a importação do arroz.

Carrascalão – que foi nomeado para combater a corrupção – disse à Rádio SBS que não sabia se Xanana Gusmão tinha conhecimento de que a sua filha era accionista da Prima Food quando ele adjudicou o contrato, acrescentando que não considerava que este fosse um caso de corrupção “ porque os outros não ficaram prejudicados em benefício da filha do Primeiro-ministro”.

O deputado e Vice-presidente da FRETILIN, Arsénio Bano, disse que as declarações de Carrascalão contradizem os argumentos apresentados por alguns representantes do governo, empresários associados ao governo e defensores nos media australianos que alegaram que Zenilda tinha resignado da empresa Prima Food antes desta obter o contrato do governo.

Bano disse: “É interessante constatar que o próprio Primeiro-ministro Xanana Gusmão, tanto quanto seja do meu conhecimento, nunca afirmou que a sua filha tinha deixado de ser accionista da empresa antes da atribuição dos contratos de arroz pelo governo. Na verdade, a suposta resignação de Zenilda defendida por algumas pessoas, incluindo os empresários que acorreram imediatamente em defesa de Gusmão, não foi sequer comprovada pelos documentos apresentados. Nem os serviços de registo de negócios foram formalmente notificados sobre a tal resignação”.

“Os deputados da FRETILIN duvidam que a senhora Gusmão se tenha resignado da empresa e questionam a veracidade dos documentos apresentados para justificar a sua suposta resignação. Uma campanha de mídia empreendida pelo consultor de relações públicas remunerado supremamente pelo Governo de Gusmão, baseado em Sydney, para contornar a questão da resignação parece ter funcionado junto de algumas pessoas, incluindo a Media Watch da ABC que acabou por dirigir criticas injustas ao jornalista que escreveu sobre a história do “ricegate”, salienta a FRETILIN.

“No entanto, a própria Media Watch não analisou correctamente os documentos enviados com o propósito de apoiar a história da “resignação”. Tivessem tido mais atenção aos documentos, teriam notado que os factos simplesmente não a suportam. Recentemente, o ABC, pelo menos, em três ocasiões diferentes de reportagens radiofónicas e televisivas, fez correr a mesma cantiga da “resignação”. E fizeram-no de novo com pouca análise crítica dos factos”, acrescenta a Oposição timorense.

Entretanto, segundo a FRETILIN, numa única entrevista, Carrascalão trouxe ao lume essa tentativa fraudulenta de distanciar Gusmão de qualquer irregularidade.

“Simplesmente falando, Carrascalão, que é conhecido pela sua franqueza e honestidade, deixou cair Xanana Gusmão relativamente a este assunto. Os maiores beneficiários do programa de importação de arroz são pessoas próximas do governo de Gusmão, principalmente os familiares do primeiro-ministro e outros ministros, a quem têm sido concedidos contratos lucrativos de aquisição de arroz e que em alguns casos não cumpriram as suas obrigações contratuais, apesar de terem recebido pagamentos adiantados”, acrescenta Arsénio Bano.

Bano advertiu que o governo poderá procurar interferir nas investigações da comissão e acrescentou: “Precisamos de concluir o inquérito cedo, antes do governo incluir projectos de vários milhões de dólares para aquisição de arroz na proposta de orçamento para o ano 2010.”

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