Geração de energia a partir de casca de arroz atrai aportes

Conforme levantamento da Secretaria de Energia, Minas e Comunicações do Estado, há pelo menos sete projetos já anunciados, cujos investimentos totalizam R$ 210,6 milhões..

A crise de rentabilidade no setor arrozeiro e os programas de incentivo à geração de energia a partir de fontes renováveis no Rio Grande do Sul estimularam uma onda de investimentos em usinas termelétricas movidas a casca de arroz. Conforme levantamento da Secretaria de Energia, Minas e Comunicações do Estado, há pelo menos sete projetos já anunciados, cujos investimentos totalizam R$ 210,6 milhões.

Os projetos serão desenvolvidos nos municípios de Alegrete, Bagé, Dom Pedrito, São Borja, São Sepé e Itaqui. Juntos, terão uma capacidade de geração de 35,7 megawatts hora (MWh). O Rio Grande do Sul gera em torno de 8 MWh a partir da casca de arroz, mas o potencial – dada a oferta da matéria-prima – é de 250 MWh. Estima-se que são necessárias 3 toneladas de casca de arroz para gerar 1 MWh.

Em maio, a Hamburgo Empreendimentos e Participações assinou protocolo de cooperação com o governo gaúcho para instalar três usinas movidas a casca de arroz. O investimento é de 58,5 milhões de euros (R$ 170 milhões), e as usinas entram em operação em 2007. Juntas, terão capacidade de 36,9 MWh e processarão 10 mil toneladas de casca por mês. A energia será adquirida pela AES Sul e CEEE.

Também em maio, a Geradora de Energia Elétrica Alegrete Ltda (GEEA) iniciou a instalação de uma usina em Alegrete (RS), que terá capacidade para 4 MW. O investimento será de R$ 25 milhões.

A holandesa Biomass Tecnology Group (BTG) também confirmou à Secretária de Energia do Estado o interesse em instalar, até 2009, diversos parques de biomassa, somando capacidade de 100 MWh. A empresa planeja usar casca de arroz e serragem. O investimento previsto é de US$ 80 milhões (R$ 182 milhões). Se for concretizado, os aportes na geração de energia com casca de arroz chegarão a quase R$ 400 milhões.

Dos projetos anunciados no Rio Grande do Sul, sete estão sendo desenvolvidos pela empresa de engenharia PTZ Bioenergy Ltda. Os projetos incluem investimentos de beneficiadoras de arroz, como Josapar, Cooperativa Agroindustrial de Alegrete (Caal) e Urbano Agroindustrial. Os investimentos previstos são de R$ 65 milhões, e a capacidade a ser gerada será de 35 MWh. “Dos 17 projetos de termelétricas que a PTZ desenvolve hoje no Brasil, sete utilizarão casca de arroz como matéria-prima. Hoje, os setores com maior potencial de biomassa são o arrozeiro e o madeireiro”, afirma Ricardo Pretz, sócio da empresa.

Ele afirma que muitas indústrias do setor tiveram projetos de termelétricas, mas que foram cancelados devido à dificuldade na obtenção de financiamento. Ele observa que uma beneficiadora que produz 200 mil fardos de arroz tem um capital médio de R$ 5 milhões. Essa indústria demanda 2 MWh e uma termelétrica com essa capacidade custa R$ 5 milhões.

– Os bancos ficam reticentes em liberar um recurso quase equivalente ao capital da empresa – diz.

Antes de o governo gaúcho criar programas de incentivo fiscal às termelétricas, só grandes beneficiadoras investiram em geração de energia. A Coradini Alimentos foi uma das pioneiras. Suas usinas, localizadas em Bagé (RS) e Dom Pedrito (RS), foram instaladas há dez anos e têm capacidade para 0,5 MWh.

– Além de reduzir os problemas com dejetos, a queima da casca reduz custos com energia e a cinza que sobra do processo ainda pode ser vendida para indústrias de cimento – diz Élio Coradini, presidente da empresa.

A Urbano Agroindustrial também tem duas termelétricas em operação desde a década de 1990, uma em São Gabriel (RS) e outra em Jaraguá do Sul (SC). A empresa planeja implantar usina em Sinop (MT), com capacidade para 3,5 MWh. A Camil também mantém, desde 2001, uma usina em Itaqui (RS), que produz 4,2 MWh. Procurada, a empresa não quis comentar o assunto.

Subproduto pode virar óleo combustível

A casca de arroz começa a ser testada no país como matéria-prima para produção de óleo combustível – o bioóleo. O trabalho vem sendo desenvolvido há seis anos pelo engenheiro químico Ayrton Martins, pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Segundo Martins, a casca submetida a um processo de pirólise (decomposição de matéria-prima por calor) transforma-se em um substrato líquido, a partir do qual se produz o óleo combustível.

– Esse bioóleo pode ser usado como substituto do diesel em geradores e equipamentos nas indústrias arrozeiras e até mesmo em veículos.

A casca é rica em sílica e pode ser aproveitada na produção de carvão ativado (usado por indústrias para filtragem). A diferença é que, para gerar bioóleo, a casca é submetida à temperatura de 500 ºC e, para se transformar em carvão, a 800 ºC.

Martins diz que 1 tonelada de casca pode ser transformada em 160 quilos de bioóleo, ou 400 quilos de carvão, dependendo do processo adotado. A queima de 1 tonelada para gerar energia elétrica produz de 2 a 3 megawatts (MW).

A primeira fase de pesquisas foi patrocinada pela AES Sul, com recursos da ordem de R$ 50 mil. Agora, Martins fechou acordo com um grupo de produtores para construir uma usina-piloto em Santa Maria (RS), que irá processar 1 tonelada de casca por hora. Serão investidos R$ 3 milhões na instalação de uma unidade de pirólise, para produção do bioóleo, de uma central termelétrica, que irá produzir energia com a queima de arroz.

Segundo o Instituto Riograndense do Arroz (Irga), 22% do volume de arroz produzido é casca, o que equivale a 2,58 milhões de toneladas por ano. Desse total, 25% é usado por beneficiadoras do arroz na geração de energia.

– A maior parte não é aproveitada economicamente – diz Gilberto Amato, coordenador do Centro de Excelência do Arroz do Irga. Estima-se que mais de 1,2 milhão de toneladas de casca são descartadas todo ano por falta de uso.

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