Grão biofortificado

 Grão biofortificado

Variedade: pesquisa brasileira reforça cruzada pela alimentação no mundo

Arroz da Embrapa ajuda a combater desnutrição mundial.

O cruzamento das variedades de arroz mais promissoras em termos nutricionais e agronômicos leva ao desen-volvimento de variedades biofortificadas. A biofortificação de produtos agrícolas é uma estratégia que tem como base o uso de alimentos para reduzir deficiências de nutrientes, de maneira sustentável, entre as camadas mais pobres da população, especialmente em países econo-micamente menos desenvolvidos. Alimentos como arroz, feijão, milho, mandioca, feijão-caupi e batata-doce são amplamente consumidos pelas populações de baixa renda na América Latina, África e Ásia e podem servir de fonte de suprimento de ferro (Fe), zinco (Zn) e pró-vitamina A. 

A falta destes nutrientes, conforme estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS), debilita mais de dois bilhões de pessoas, tornando-as suscetíveis a cegueira, anemia, baixa resistência a doenças e menor desenvolvimento do intelecto. É neste sentido que operam programas internacionais como o HarvestPlus e o AgroSalud, criados com o objetivo de aumentar o conteúdo nutricional destes alimentos básicos na dieta da população através de uma rede de instituições de pesquisa que atua em vários países. 

O HarvestPlus é uma rede de instituições de pesquisa que atua na América Latina, Ásia e África para melhorar a qualidade dos alimentos, sendo que a Fundação Bill e Melinda Gates e o Banco Mundial, entre outros, investem mais de 50 milhões de dólares no programa. Já o AgroSalud é um consórcio de instituições com o mesmo propósito, mas com foco na América Latina e Caribe. 

No Brasil os dois programas são coordenados pela Embrapa Agroindústria de Alimentos e contam com pesquisadores de sete unidades da instituição (Agroindústria de Alimentos, Hortaliças, Meio-norte, Arroz e Feijão, Milho e Sorgo, Tabuleiros Costeiros e Mandioca e Fruticultura Tropical), mais a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade de Adelaide, na Austrália. 

A Embrapa participa do projeto em ações como a avaliação de cerca de 300 acessos de arroz, 100 de feijão-caupi, 200 de batata-doce, 500 de feijão, 1.400 de milho e 1.800 de mandioca quanto à qualidade nutricional. O cruzamento das variedades mais promissoras em termos nutricionais e agronômicos leva ao desenvolvimento de variedades biofortificadas. 
As universidades brasileiras que integram a rede realizam estudos que avaliam a retenção de nutrientes durante o processamento/cocção. Já as unidades da Embrapa desenvolvem abóbora, mandioca e batata-doce com maior teor de carotenóides; milho com mais lisina, triptofano e pró-vitamina A; arroz, feijão, milho, trigo e feijão-caupi com teores mais elevados de ferro e zinco e produtos extrusados e de panificação a partir de farinhas biofortificadas.

 

FIQUE por dentro

— HarvestPlus: rede de instituições de pesquisa que atua na América Latina, Ásia e África para melhorar a qualidade dos alimentos. A Embrapa Agroindústria de Alimentos coordena as atividades na América Latina e África. A Fundação Bill e Melinda Gates e o Banco Mundial, entre outros, investem mais de 50 milhões de dólares no programa.

— AgroSalud: consórcio de instituições com o mesmo propósito, mas com foco na América Latina e Caribe. Fazem parte do consórcio o Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat), o Centro Internacional de Mejoramiento de Maíz y Trigo (Cimmyt), o Centro Internacional de la Papa (CIP), o Consórcio Latinoamericano y del Caribe de Apoyo a la Investigación y al Desarrollo de la Yuca (Clayuca) e a Embrapa. A Canadian International Development Agency (Cida) é a principal fonte financiadora do AgroSalud.

 

Melhoramento genético

As pesquisas com o arroz estão sendo conduzidas pela Embrapa Arroz e Feijão (GO) com o objetivo de identificar e multiplicar variedades com altas quantidades de ferro e zinco para atender as carências nutricionais das famílias da Região Nordeste. O Subprograma de Arroz é coordenado pelo pesquisador Péricles de Carvalho Pereira Nunes em parceria com a Embrapa Meio-norte (RS). Já as análises de laboratório estão sendo realizadas pela pesquisadora Priscila Zaczuk Bassinello. 

O trabalho de análise, seleção de genótipos e melhoramento dos acessos promissores, conforme explica Péricles, teve como ponto de partida o banco com mais de 2.500 materiais coletados pela Embrapa nos últimos 30 anos. “Reduzimos este número para 500 variedades locais que mais se adaptavam localmente e acabamos ficando com 198 que nos interessavam”, destaca o pesquisador. 

Ele explica que as análises identificaram na variedade Zebu Ligeiro, coletada em 2001 na Região Nordeste, quantidades de ferro (Fe) e zinco (Zn) nas proporções de 48,8 mg/kg e 19,3 mg/kg, respectivamente. Em termos de zinco estes valores são 36% e 77% superiores aos encontrados nas variedades BRS Primavera e Cirad 141, que estão entre as mais cultivadas na região. Em relação ao ferro suplanta estas duas variedades em 19% e 10%, respectivamente. 

No caso do grão descascado as proporções de ferro e zinco encontradas foram de 42,2 mg/kg e 11,9 mg/kg, respectivamente, representando 51% e 150% de incremento para o zinco e 73% e 87% para o ferro, respectivamente, quando comparado à BRS Primavera e Cirad 141. As sementes de Zebu Ligeiro estão sendo produzidas e serão distribuídas às comunidades em parceria com pequenos produtores locais, técnicos de extensão rural e instituições como a Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do Maranhão (Agerp). O Estado do Maranhão, aliás, foi o primeiro a estruturar uma rede de instituições públicas que aderiram ao programa HarvestPlus e AgroSalud.

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