Hora de pensar no pós-colheita

Em tempos de crise, ganha quem tem infraestrutura própria para guardar sua produção
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As primeiras referências oficiais sobre armazenagem em nível de propriedade no Brasil, de acordo com estudos realizados pelo professor Ivano Devilla, do curso de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Goiás (UEG), datam de 1900, o que evidencia a preocupação brasileira com o problema, que persiste até o momento. Conforme Devilla, mesmo com a instituição do Programa Nacional de Armazenagem (Pronazem), em 1975, disponibilizando linhas de crédito com a finalidade de ampliação da capacidade armazenadora brasileira, nos diversos níveis, o armazenamento na fazenda não teve aumento significativo.

Em países como França, Argentina, Canadá e Estados Unidos, a capacidade estática de armazenagem nas fazendas varia de 30% a 60% das suas safras. No Rio Grande do Sul, estima-se que esta capacidade já corresponda a 16% da produção total de grãos. Um avanço, considerando que este percentual era de 4% no início desta década. Este incremento se deve em boa parte aos programas e linhas de crédito estabelecidos pelo governo federal através do Plano Safra e operados por bancos como BNDES, Caixa RS e Banco do Brasil.

A vantagem da armazenagem na propriedade, na análise do professor Moacir Cardoso Elias, da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), é a agilidade na hora da colheita. “Isso permite que o produto saia da lavoura e seja conservado por um curto período de tempo para que o produtor tenha autonomia para negociá-lo na hora em que desejar, sem depender de armazéns de terceiros”, explica.

Para quem não conta com infraestrutura própria para guardar sua produção, as desvantagens são muitas. Conforme Moacir Cardoso Elias, em tempos de crise, a tendência natural é o produtor reduzir os investimentos na atividade, “Geralmente, os produtores acabam optando por aplicarem seus recursos na etapa de produção, deixando de lado a de pós-colheita”, observa.

Esse procedimento, segundo ele, cria um círculo vicioso: por não terem adequadas estruturas de limpeza/seleção, secagem e armazenamento, os agricultores acabam vendendo sua produção na safra, quando a oferta de produtos é grande e os preços são menores, o que lhes diminui as receitas. “Também porque não limpando, secando e nem selecionando os grãos, não lhes agregam valor. Por não terem receitas suficientes, não investem em estruturas de pós-colheita na propriedade rural. Com isso, grande parte do que poderia ser o lucro da atividade acaba indo para os intermediários, que estão dominam o mercado, ditando os preços de compra (dos produtores) e de venda (aos consumidores)”, aponta.

Para o economista do Sistema Farsul, Antônio da Luz, a armazenagem constitui um dos desafios para a competitividade e eficiência da lavoura arrozeira do RS. “É muito importante que o produtor tenha seu próprio sistema de armazenagem. De todas as coisas que são necessárias para melhorar a situação do mercado, é a única que depende do produtor. São altos os custos e transação para retirar o arroz entregue, mesmo que ainda não tenha sido vendido. Além do mais, de que adianta o preço internacional subir se o produto já foi entregue?”, questiona.

VANTAGENS

Uma unidade armazenadora tecnicamente projetada e convenientemente localizada ajuda a tornar o sistema produtivo mais econômico. Além de propiciar a comercialização em períodos de maximização de preços, evitando as pressões naturais do mercado na época de colheita, a retenção de produtos na propriedade, quando bem conduzida, apresenta diversas vantagens, tais como:

. Minimização das perdas quantitativas e qualitativas que ocorrem no campo;
. Economia em transporte, uma vez que o frete tem preço majorado no pico da safra;
. Custo de transporte reduzido pela eliminação de impurezas e do excesso de umidade;
. Maior rendimento na colheita, por evitar a espera dos caminhões nas filas das unidades coletoras ou intermediárias;
. Possibilidade de obtenção de financiamento através de linhas de crédito próprias para a pré-comercialização (EGF e AGF).

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