IBGE reduz previsão da safra agrícola em 2010

Clima é o único fator que poderá comprometer o volume a ser colhido.

As fortes chuvas que atingiram as regiões Sul e Sudeste do País no final de dezembro deverão levar a uma revisão para baixo na estimativa do IBGE para a safra 2010. O gerente de agricultura do instituto, Mauro Andreazzi, explica que as informações que levaram à estimativa divulgada nesta quinta-feira, de uma safra de 140,7 milhões de toneladas neste ano (com aumento de 5,2% ante 2009), foram colhidas no início do mês passado, antes do agravamento dos problemas climáticos.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a safra brasileira de grãos deverá alcançar 141,35 milhões de toneladas, o que pode representar o segundo melhor resultado de todos os tempos no País. O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, afirma que o Brasil terá a segunda maior produção da história caso esse volume seja confirmado.

Andreazzi acredita que o clima é o único fator que poderá comprometer o sucesso da safra 2010 já que, após as dificuldades de obtenção de crédito e as incertezas geradas pela crise no ano passado, que levaram a uma queda de 8% na produção ante o ano anterior, os agricultores aumentaram os investimentos em tecnologia e o plantio neste ano. A área a ser colhida, estimada em 48,1 milhões de hectares, será recorde no País.

O gerente destacou também o aumento de participação da soja no total da safra brasileira. O produto, cuja estimativa é de 65,2 milhões de toneladas em 2010, com aumento de 14,4% ante a safra anterior, deverá responder por 46,3% da produção total de grãos no País neste ano, ante 42,6% no período anterior. Segundo Andreazzi, a perspectiva de comercialização garantida e os bons preços estão estimulando os produtores de soja, que estão ocupando, com essa cultura, áreas anteriormente voltadas para o milho e o arroz. Como consequência, a participação do milho na safra total deverá cair de 38,1% em 2009 para 35,2% na safra atual, enquanto a fatia do arroz vai cair de 9,4% para 8,5%.

No caso do milho, a expectativa do IBGE é de uma produção de 32,8 milhões de toneladas na primeira safra do produto, com queda de 3% em relação ao ciclo anterior. O gerente explica que os estoques dessa cultura ainda estão elevados e os preços permanecem pouco atraentes, levando os produtores a migrarem para a soja. A área plantada de milho será 10% menor nesta safra do que no ano passado.

O arroz, por sua vez, sofre com o excesso de chuvas no Rio Grande do Sul, mesmo antes do aumento das precipitações no final de 2009. Os produtores gaúchos dessa cultura respondem por 61% da safra nacional, que deverá atingir 12 milhões de toneladas em 2010, com queda de 5% em relação à safra anterior.

Outro produto importante na cesta básica, o feijão vai na direção contrária e deverá ter um aumento de 18% na safra, para 1,9 milhão de toneladas. No entanto, para esse produto, é esperada uma revisão para baixo na projeção nos próximos meses por causa das chuvas que atingem a região Sul.
Chuva retarda período de plantio e afeta produtividade

Ana Esteves

Os estragos que El Niño tem provocado nas lavouras gaúchas, em especial nas de arroz, resultaram em situações adversas para muitos produtores. Em municípios da região Central do Estado, como Candelária e Agudo, foram identificadas áreas com perdas que ultrapassam 50% do total cultivado e outras em que o prejuízo é total. Nessa região, são mais de 35 mil hectares atingidos pelas enxurradas A previsão do Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga) é de que, em média no Estado, ocorra quebra que varia entre 10% e 14%.

O presidente do Irga, Maurício Fischer, diz que é cedo para se ter uma ideia exata dos prejuízos que as chuvas dos últimos dias causaram nas lavouras de arroz. “Nossa estimativa se baseia na média histórica verificada em outras épocas de El Nino”, comenta. Para os produtores que contam com lavouras que ainda podem ser recuperadas, só resta esperar a água baixar para saber quais as medidas a serem tomadas. O replantio nessa época do ano não é mais recomendado e a saída é torcer para que a planta que já está no campo germine. O resultado será aumento dos custos de produção, com manutenção de bombas e equipamento de irrigação, gastos com adubação e maior controle de invasoras.

– Tudo isso com risco de quebra de produtividade – ressaltou Fischer.

A expectativa de produção para esta safra oscila entre 6,7 e 7 milhões de toneladas, ante as 8 milhões de toneladas colhidas na safra 2008/2009. A área plantada teve ligeira queda se comparada com o período anterior, caindo para 1,07 milhão de hectares, contra 1,1 milhão do período passado.

– Começamos a nos preocupar com o escoamento da safra, pois a colheita começa em fevereiro e muitas estradas e pontes estão em péssimas condições – alerta.

Conforme o informe conjuntural da Emater-RS, os primeiros relatos das regiões afetadas são de que 85% da área de arroz do município de Vera Cruz foram cobertas pelo Rio Pardinho, comprometendo a lavoura. Nas demais áreas da região, cerca de 30% estão alagadas. Em Agudo, 80% dos 8.700 hectares de arroz estão cobertos e na Quarta Colônia 70% dos 15 mil hectares semeados também se encontram alagados.

No caso da soja, o momento é de expectativa em relação aos índices de produtividade e de qualidade dos grãos, que podem ser alterados em função do atraso no plantio. Em épocas normais, a oleaginosa costuma ser plantada até o final de novembro. No entanto, em função das precipitações, grande parte da área foi cultivada entre o final de dezembro e o início de janeiro. A Emater aponta que cerca de 95% da área já está semeada.

– Os ciclos da cultura ficarão mais curtos, isso já é certo. Mas se o tempo continuar com chuvas não muito intensas, é possível lograr bons índices – analisa o presidente da Comissão de Grãos da Farsul, Jorge Rodrigues.

Nesse momento, a evolução da semeadura é considerada boa, faltando apenas cerca de 200 mil hectares ainda a serem plantados. As lavouras têm apresentado bom desenvolvimento vegetativo, beneficiados pelo equilíbrio dos fatores de temperatura, luminosidade e umidade, deixando antever um potencial produtivo. A produção estimada é de 8 milhões de toneladas, contra 9 milhões colhidas na safra passada, com produtividade variando entre 37 e 40 sacas por hectare, conforme dados da Farsul.

O sojicultor e presidente do Clube Amigos da Terra de Tupanciretã, Almir Rebelo, aponta a preocupação dos produtores da região com a incidência de pragas e doenças, fator que tem feito com que muitos antecipem a aplicação de defensivos.

– Estamos alertas, pois caso a umidade se intensifique e ocorram períodos de baixa temperatura as lavouras ficam vulneráveis à ferrugem.

Segundo o presidente, as chuvas de uma forma geral são consideradas benéficas para a oleaginosa, especialmente quando as precipitações ocorrem à noite, com sol intenso durante o dia.
Situação das lavouras de milho é a mais favorável no Estado

O engenheiro agrônomo da Emater, Célio Colle, confirma que o milho encontra-se em bom desenvolvimento vegetativo, com a expectativa de colheita de 5,1 milhões de toneladas cultivados em uma área de 1,28 milhão de hectares.

– Nesse ano, mesmo com a redução de 7,6% da área, devemos ter aumento de 20% em produção e 24,35% em produtividade, já que em 2009 as lavouras foram abatidas pela estiagem – diz.

O plantio já ocupa 89% da área, sendo que os 11% restantes deverão ser semeados até fevereiro. Segundo o especialista, as chuvas tendem a ser benéficas para o cereal, no entanto é preciso torcer para que o volume de água não se intensifique durante a colheita.

– É importante que não ocorram atrasos na colheita, caso contrário teremos prejuízos – pondera Jorge Rodrigues, da Farsul.

A comercialização do milho inverteu a sequência de quedas que estava ocorrendo, subindo 1,12% em relação à semana anterior, finalizando em R$ 17,08/saca de 60 quilos.

Irga retoma venda de arroz por meio de leilões

O Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga) retoma, na próxima terça-feira, a oferta de arroz em casca através do Programa Bolsa RS, que tem como parceiros a Bolsa Brasileira de Mercadorias, Corretora Banrisul e a Emater-RS. O volume total ofertado pelo Irga, nos dois leilões realizados em dezembro, foi de 58.134 sacos e a média total dos lotes negociados pelo Irga fechou a R$ 30,32.

O Irga, através deste programa, visa a incentivar os produtores a adotar esse importante mecanismo de comercialização, pois a exemplo do ocorrido nos pregões acaba dando um balizador de preço, principalmente em um cenário de mercado comprador e de alta.

O leilão privado através de Bolsas de Mercadorias é um instrumento moderno e fundamental na comercialização, possibilitando uma melhor gestão da oferta por parte dos produtores. Segundo o presidente do Irga, Maurício Fischer, a venda é uma das prioridades de um estudo realizado pelo Irga, visando à melhoria da rentabilidade na lavoura de arroz do Estado, e uma das formas de ser aperfeiçoada e qualificada é através da realização de leilões privados em bolsas de Mercadorias.

O diretor comercial do Irga, Rubens Silveira, destaca que após o resultado dos leilões realizados pela autarquia, os preços, naquelas regiões onde se realizaram, alavancaram e acabaram sendo conduzidos para o valor de fechamento do leilão, dando um novo referencial ao mercado.

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