Ideia de criar nova federação ficou em banho-maria

Produtores agora querem uma assembleia para prestação de contas da Federarroz.

A possibilidade de um grupo de arrozeiros ligados a algumas associações da Depressão Central, Campanha e Litoral criarem uma federação independente, paralela à Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) foi afastada temporariamente. Demonstrando que não há consenso na ideia, parte dos produtores reunidos no Sindicato Rural de Cachoeira do Sul, em reunião que reconduziu o presidente da União Central de Rizicultores (UCR) Ademar Kochenborger, na semana passada, preferiu deixar essa iniciativa em banho-maria. Optaram, então, em propor uma mobilização das associações em busca de uma assembleia geral extraordinária da Federarroz para a prestação de contas de suas ações em política setorial e suas finanças.

A ideia dos arrozeiros, que prestigiaram a posse de Kochenborger, é oportunizar uma participação mais ampla nos debates, com rizicultores de outras regiões que também enfrentam alguma dificuldade e, neste espaço, discutir as ações em andamento em defesa do produtor, especialmente aqueles que tiveram grandes perdas com o fenômeno climático El Niño nesta temporada. Os agricultores da Depressão Central também querem saber qual a real situação financeira da entidade.

Segundo entrevista de Ademar Kochenborger à imprensa cachoeirense, enquanto boa parte dos produtores está endividada, o presidente da Federarroz, Henrique Dornelles, adota um discurso de que a situação do setor está hoje num cenário de estabilidade e com sustentação de preço do produto em casca. A direção da entidade ressalta que tem trabalhado para aumentar as exportações e abrir novos mercados, como em recentes missões internacionais.

Para o presidente da UCR, a federação tem ido pelo caminho errado. “A atual diretoria se distanciou dos produtores. Esse distanciamento causa insegurança, e por isso queremos saber a situação das demandas e dos números”, frisa Kochenborger. Por ora, a possibilidade de se formar a Federação de Arrozeiros Independentes do Estado está em banho-maria até que o diálogo seja restabelecido com foco pontual na questão do endividamento, que necessita de uma solução rápida. O grupo dissidente não descarta a organização de uma chapa de oposição para as eleições da entidade gaúcha, que acontecerão em pouco mais de três meses.

NÚMEROS

 Aparentemente o bom senso imperou na reunião da UCR, e o caminho trilhado é muito mais coerente do que a criação de uma entidade paralela que apenas serviria para dividir a classe produtora. É de conhecimento público que muitos orizicultores da Depressão Central estão endividados e que esse quadro tornou-se ainda mais grave com as perdas verificadas na atual temporada com os danos causados por enchentes, granizo e temporais associados ao fenômeno El Niño. Diante desse quadro dramático para muitos agricultores, porém, não se deve esquecer que por meio da Câmara Setorial Nacional, e também diretamente junto ao governo, durante a Abertura da Colheita, em fevereiro, em Alegrete (RS), a Federarroz encaminhou demandas solicitando um tratamento excepcional para tais arrozeiros.

Antes do evento o pleito já havia sido encaminhado em outras reuniões diretamente realizadas com o diretor executivo do Ministério da Agricultura, André Nassar. Se, por um lado esse é o papel da Federarroz, por outro, não há como cobrar uma solução da entidade, pois a decisão pertence ao governo e necessita de um link com o sistema financeiro.  

Os documentos formalizados pela agremiação que reúne os arrozeiros do estado foram tornados públicos, com cópias que circularam pela cadeia produtiva. E a Farsul ainda agregou pedidos de ajustes no seguro agrícola e nas garantias que estão sendo exigidas pelo sistema financeiro para ampliar o acesso ao crédito de pré-custeio aos produtores com dificuldades de cumprir com os compromissos.

CONTAS

Por outro lado, a Federarroz tem um Conselho Fiscal, e vem utilizando em seus discursos que busca manter maior transparência em sua administração. Desta forma, algumas das queixas da direção da UCR e outros produtores da região, poderiam ter solução internamente, com um simples pedido de informações e manifestação deste conselho ou à tesouraria da federação.

Acesso às prestações de contas, que devem ser abertas aos associados, não é um problema que afete o endividamento e as perdas dos agricultores. Se não há transparência nos números, há uma série de meios de uma entidade ligada à Federarroz consulta-los, mas com o cuidado de não misturar alhos com bugalhos. E mesmo que muitas entidades tenham dificuldades para manter em dia suas anuidades.

CRISE

Portanto, está claro que as ações da Federarroz junto aos meios políticos têm acontecido. Mas, obviamente, se o momento é critico para os produtores que têm dívidas vencendo e não tem dinheiro – ou produto – para quitar os débitos,  também o é para o governo federal, cujos agentes só têm garantias de que estarão no poder pelos próximos 60 dias, seja pela ação de impeachment que corre na Câmara Federal, seja pelas denúncias de corrupção investigadas pela Justiça Federal.

Aparentemente, o Mapa não vê as demandas do setor como prioridade, no momento. Ciência do que está ocorrendo, o Mapa, o Ministério da Fazenda e o Ministério do Planejamento já têm, e faz meses, inclusive com números detalhados fornecidos pelo Irga. Resolver, é que “são outros quinhentos”.

A criação de uma chapa de oposição à atual gestão da Federarroz é um direito legítimo dos arrozeiros e representantes das entidades. A criação de outra entidade também o é. Mas, diante de uma conjuntura tão difícil, será que dividir a classe é a melhor solução? Pelo jeito, nem os rizicultores da Depressão Central têm certeza disso.

Esta é uma daquelas situações em que não se pode recomendar paciência para as lideranças setoriais, pois é o produtor que depende da solução destes impasses com o governo quem sabe onde o sapato aperta. Mas, de outra banda, é preciso agir com maturidade, esgotar os meios e as instâncias de busca das informações necessárias, manter o diálogo, sem radicalismos de parte a parte. Assim a classe produtora sairá fortalecida.

2 Comentários

  • É de bom senso que os ânimos esfriem, e procurem soluções para que os temas relevantes em pauta sejam discutidos e bem explanados até chegarem a um consenso, pois realmente fundar outra associação é dividir ainda mais a classe, fragmentar é perder a capacidade de representação e isto não é nada aconselhável na presente situação em que nos encontramos.
    É de entendimento geral que o momento é crítico, mais do que nunca precisamos de união e não desagregação.

  • Momento é de somar e não dividir, precisamos chamar indústria para conversar, produtividade está um fracasso é o custo absurdamente alto, muitos produtores são financiados pelas indústrias hoje e precisamos nos organizarmos para que todos consigam pagar suas contas, precisamos rentabilidade e para isso no momento só uma alternativa PREÇO
    Hoje a indústria e sócia do produtor e se não pagar um preço razoável não vai conseguir receber suas CPRs

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter