Inimiga nº1

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Bicheira-da-raiz apareceu em 60% das lavouras gaúchas.

A bicheira-da-raiz é a larva do gorgulho aquático (Oryzophagus oryzae) e tornou-se a principal praga da lavoura gaúcha. Nesta safra, mais de 60% das áreas cultivadas com arroz no estado sofreram ataques desse inseto. Em anos anteriores, esse índice mantinha-se de 35% a 40%, com menor ou maior incidência dependendo das áreas. Verificou-se também a proliferação de espécies de gorgulhos nas lavouras de arroz irrigado, caso do Lissorhoptrus bosqi, carinirostris, lepidus, tibialis e helodytes. "Há quatro ou cinco anos, a única espécie importante era o Oryzophagus oryzae, que ocorria com diferentes graus de danos em até 25% da lavoura gaúcha, mas agora são seis espécies reproduzindo e provocando sérios ataques no arroz irrigado", explica Jaime Vargas.

A alta população presente na lavoura gaúcha e as condições de clima favoreceram a esse inseto, que prefere a água mais fria e profunda para a postura de seus ovos. Sob altas temperaturas da água (35 graus), os ovos cozinham e se tornam inférteis.

Altamente resistente, um adulto em condições normais pode ficar por até 12 dias dentro d’água. Em caso de cultivares de ciclo longo (150 dias), é comum a reinfestação. As perdas, em média, variam entre 10% e 20%. No caso de lavouras com plantas melhor desenvolvidas e bem nutridas, tem sido registrada uma média próxima de 8%. "Há uma grande diferença entre o dano que causam 10 larvas numa planta com cinco ou seis raízes e com 40 raízes", explica Jaime Vargas.

As recomendações

Algumas recomendações técnicas devem ser observadas por produtores que sentiram em suas lavouras os prejuízos do inseto-praga ou mesmo perceberam sua presença sem a ocorrência de danos de maiores proporções:

• Após a conclusão da colheita, a área tem que ser completamente drenada, pois 40% da população do inseto adulto – principalmente com as altas temperaturas registradas no Rio Grande do Sul – permanecem na lavoura depois de março, quando a maior parte vai hibernar. Esses bichos continuam o ciclo e aumentando a população de pragas para a próxima safra;

• Outra dica importante, segundo o entomologista do Irga, Jaime Vargas, é eliminar plantas daninhas que possam servir de hospedeiras e favorecer a permanência do inseto vivo até o próximo verão. Devem ser observadas as bordas das lavouras, dos canais e das taipas;

• Em relação ao controle químico, existem vários produtos recomendados para o tratamento de sementes, o controle do inseto adulto com o uso de inseticidas juntamente com a aplicação de herbicidas ou o controle de larvas, num período a partir de 20 dias após o início da irrigação. A maior incidência da bicheira-da-raiz costuma se dar em torno dos 36 dias após a entrada da água. 

O ataque

O ataque desse inseto-praga acontece de duas maneiras

• O adulto (gorgulho-aquático) raspa a folha da planta em paralelo à nervura principal. Ao entrarem na lavoura, a primeira atitude dos adultos é o acasalamento.

• A fêmea põe os ovos na bainha das folhas, na região do colmo da planta. A larva, conhecida por bicheira-da-raiz, eclode uma semana depois e, em mais dois dias, atinge o sistema radicular. A larva se alimenta cortando a raiz e impedindo a nutrição da planta, que morre ou perde o poder reprodutivo.

• Alguns pesquisadores acreditam que nessa fase larval, quando a bicheira se movimenta até o sistema radicular, poderia ser feito controle químico alternativo, pois o inseto está vulnerável. A dificuldade, no entanto, é identificar o melhor momento, pois as posturas não ocorrem a um só tempo. Há larvas eclodindo em todos os períodos da lavoura. "A relação custo/benefício é o complicador desta alternativa. Não se sabe se a aplicação do inseticida vai atingir 10%, 30% ou 50%. Mas é certo que haverá escape", afirma Vargas.

• Além disso, o entomologista identificou que no caso da existência de várias áreas de lavoura em uma mesma propriedade, não há uma lógica nas proporções da incidência. "Embora o gorgulho entre na lavoura no início da irrigação, às vezes a última área formada é que concentra maior ataque", destaca.

Precauções

Algumas precauções, no entanto, podem ser tomadas. Em áreas onde a ocorrência desse inseto é recorrente, recomenda-se o tratamento de sementes e/ou o controle do inseto adulto. Em áreas onde há ataques eventuais, pode ser adotado o controle das larvas. Para isso, 15 dias após a irrigação o produtor deve percorrer a lavoura e, em vários pontos, arrancar uma planta com cinco a seis perfilhos agitando-a sob a água. O solo se desprende e as larvas costumam aparecer boiando. O ideal, mesmo, é levar um balde. Muitas vezes, 40% das larvas costuma descer com o solo. Quando ocorrer a presença de duas ou mais larvas por ponto de amostragem, há risco de danos que sugerem o início do controle químico. 

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