Integração entre pecuária e lavoura garante sustentabilidade de sistemas de produção
Com a maior incorporação de matéria orgânica, o solo fica mais preparado para a plantação de soja, trigo e arroz, criando um ambiente físico para a cultura que vem na sucessão.
Apostar na integração entre pecuária e lavoura tem sido, no mundo todo, uma das estratégias mais eficazes para garantir a diversificação e, com isso, a sustentabilidade dos sistemas de produção. E é nessa filosofia que aposta o pesquisador e engenheiro agrônomo Jamir Luís Silva da Silva, que, há mais de 30 anos, trabalha com alternativas de produção integrada com foco na produtividade e equilíbrio dos sistemas de produção. "O trabalho de integração entre a lavoura e a pecuária garante resultados inovadores, porque permite ao sistema um melhor aproveitamento dos nutrientes, recuperação da fertilidade dos solos e, consequentemente, maior eficiência da cultura que vem na sequência", explica.
Silva atuou por 27 anos na Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em Porto Alegre, e há oito é pesquisador da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas. Durante o período na capital gaúcha atuou, em conjunto, durante 11 anos, nas faculdades de Veterinária e Engenharia Agrícola da Ulbra. Ao longo da sua trajetória, Silva tem procurado realizar as suas pesquisas junto aos produtores e em parceria com instituições como Sebrae, Senar, Farsul, Emater. Isso possibilita a disseminação do trabalho de integração para potencializar os resultados.
O trabalho consiste em sempre preservar e melhorar a condição do solo e da vegetação, incorporando matéria orgânica e maior eficiência de uso da água nessas ambientes. O animal é a peça chave do manejo e um dos caminhos é usá-lo para acelerar o processo de ciclagem de nutrientes – quando a planta forrageira cresce e incorpora os nutrientes do solo – a partir das fezes e urina. Ao comer a planta, o animal fica com cerca de 20% dos nutrientes e devolve 80% ao solo sob forma de fezes e urina. Esses nutrientes são absorvidos pela planta e permitem a continuidade do crescimento.
Uma das técnicas para a aceleração é por meio do ajuste de carga animal – o que nada mais é do que identificar quantos quilos de peso vivo é possível colocar em cada pastagem em função do que ela suporta e, ao final, extrapolar esse valor para toda a propriedade. "Medimos a massa de forragem disponível e oferecemos de três a quatro vezes mais do que o animal consome. Com isso, ele vai selecionar algumas partes da planta e deixar resíduos, o que é positivo, pois a planta continua fazendo a sua fotossíntese normal e evoluindo", relata. Já se o animal comer toda a planta, a demora para crescer é maior.
Outro resultado dessa técnica é a criação de um ambiente pastoril mais satisfatório. Com a maior incorporação de matéria orgânica, o solo fica mais preparado para a plantação de soja, trigo e arroz, criando um ambiente físico para a cultura que vem na sucessão.
Esse trabalho tem contribuído para a diversificação das culturas, tornando os sistemas de produção agropecuários mais sustentáveis e gerando mais renda ao produtor. Isso é ainda mais importante no Rio Grande do Sul, que tem como uma particularidade o fato de ter pastagens de inverno, o que permite trabalhar com culturas de inverno e de verão na mesma área.