Irga revela intenção de plantio com alta de 0,6%

 Irga revela intenção de plantio com alta de 0,6%

Olhos no horizonte: nem todos os arrozeiros conseguirão plantar nesta temporada

Área permanecerá praticamente estável na safra 2016/17. Perspectiva de clima mais favorável não estimula o plantio por falta de acesso ao crédito, quebra na safra passada e aumento dos custos.

O Rio Grande do Sul deverá cultivar 1.089,874 hectares de arroz na temporada 2016/17, com aumento de 0,6% diante da superfície semeada na safra 2015/16. A expectativa foi revelada em reunião dos dirigentes do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) com os conselheiros da autarquia, na semana passada, em Porto Alegre (RS). O índice assemelha-se ao anunciado também pela Emater/RS, de 0,64% de aumento na intenção de plantio da área arrozeira.

Na temporada passada, segundo estatísticas do Instituto, a semeadura alcançou 1,084 milhão de hectares. A expectativa é de que a produtividade média, na próxima temporada, fique entre 7.700 e 7.800 quilos por hectare, mas como os indicativos são projetados por município, ainda não foi gerada a média ponderada estadual. Com isso, a cadeia produtiva trabalha com uma expectativa de produção total entre 8,3 e 8,5 milhões de toneladas na próxima temporada.

Na safra passada o Rio Grande do Sul teve perdas de 16%, colheu 1.053.560 hectares com produtividade média de 6.928 quilos por hectares. A perda alcançou 31.324 hectares. A produção ficou em 7,299 milhões de toneladas, com um vácuo de aproximadamente 1,35 milhão de toneladas diante do potencial produtivo inicialmente previsto, projetado para alcançar 8,5 milhões de toneladas.

A intenção de plantio da soja em várzea não foi anunciada, pois a semeadura ocorre mais tarde, mas extraoficialmente a expectativa é de que a área com a cultura margeie os 300 mil hectares. A projeção de ocorrência de La Niña não isenta a lavoura arrozeira ou de soja do risco climático, mas historicamente, apesar de gerar alguns danos pontuais por falta de chuvas ou tormentas e enchentes localizadas, este fenômeno gera menor impacto nas safras do que o El Niño.

Em algumas regiões, segundo o diretor técnico do Irga, Maurício Fischer, porém, os conselheiros reportaram falta de chuvas e dificuldade na reposição de água nos mananciais. Lembrou que o déficit hídrico é tão prejudicial à soja em várzea quanto o excesso, e que o instituto vem buscando melhorar os rendimentos por meio das práticas propostas no Projeto Soja 6000. O mesmo vale para o arroz, que receberá mais respaldo com o Projeto 10+. A meta é ampliar o potencial das lavouras que já obtém média superior a oito mil quilos por hectare – sem que isso determine o encarecimento do custo por unidade – e a aproximação do topo das lavouras que ainda não conseguiram superar médias de 6 a 6,5 mil quilos por hectare.

A ESTABILIDADE

Numa análise inicial, a estabilidade da área plantada está dentro do esperado. Isso considerando uma conjuntura bastante complexa: o clima menos adverso do que o da temporada passada permitirá que a maior parte das operações de plantio ocorram em época mais adequada – até 15 de novembro -, mas boa parte dos produtores está com severas dificuldades de acesso ao crédito devido às quebras da última temporada e a baixa rentabilidade na comercialização, uma vez que boa parte do arroz foi vendida ainda a preços abaixo ou muito próximos do custo de produção.

E o custo da próxima safra subiu em torno de 7%, segundo a Farsul, desconsiderando uma projeção de reajuste de combustíveis e energia elétrica até o início dos processos de irrigação. Para Henrique Dornelles, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), apesar dos números oficiais terem sido divulgados com mínima ampliação da área, ainda há risco de uma redução de até 5%, para 1,03 milhão de hectares. A demanda abaixo da média por insumos leva a esse indicativo.

“Apesar dos números oficiais, o que se está dizendo é que os produtores pretendem cultivar esta área, mas isso ainda vai depender do crédito oficial, próprio ou de mercado que está sendo buscado. E há dificuldades para consolidar estes financiamentos”, explica. Segundo ele, a Federarroz tem acompanhado o desempenho das compras de insumos, que está muito abaixo do realizado no ano passado, um indicador claro de que o rizicultor gaúcho está descapitalizado.

Isso também poderá interferir no rendimento das lavouras. “Descapitalizado, o arrozeiro pode não aplicar o volume de insumos nas quantidades e na época certa, o que é fator determinante para a produtividade final da safra”, acrescenta. Para Dornelles, o Rio Grande do Sul deverá colher entre 8,2 e 8,5 milhões de toneladas na próxima temporada. Ele acredita que os preços deverão se manter nos patamares atuais ao longo do próximo ano comercial, com algumas oscilasções para cima ou para baixo de acordo com fatores pontuais.

Até o momento, a consultoria Safras & Mercado já anunciou expectativa de aumento em 5% na safra brasileira e a Brandalizze Consulting, entre 30 e 50 mil hectares na superfície semeada no Rio Grande do Sul. Emater e Irga foram os últimos a divulgarem. A Conab só divulgará a previsão de safra em outubro. Planeta Arroz está realizando um levantamento de intenção junto a mais de 80 organismos, empresas, cooperativas e assistências técnicas, além de produtores de Santa Catarina e Rio Grande do Sul para divulgar um levantamento independente nos próximos dias.

UMA PERGUNTA:

O que este número de leve aumento da intenção de plantio, divulgado pelo Irga, representa para a próxima safra?

Basicamente duas coisas: em primeiro lugar que os dirigentes do instituto tiveram coragem de enfrentar o segmento que queria impedir a divulgação dos números sob o argumento de que "isso derrubaria preços", o que é bom para uma instituição que politicamente vinha perdendo credibilidade quanto à sua independência. Com a medida, a diretoria atual demonstra estar retomando as "rédeas" do instituto. Em segundo lugar, a intenção de plantio com um leve aumento ratifica o discurso da falta de crédito no setor. Num ano de La Niña, tradicionalmente o Rio Grande do Sul salta para uma área semeada que vai de 1,125 milhão de hectares até 1,160 milhão de hectares. Além da ampliação da área com soja, entre os produtores mais capitalizados, o indicativo do Irga ratifica que – mesmo sob a expectativa de mananciais carregados para irrigação e clima favorável – uma parcela considerável dos agricultores (de 35 a 70 mil hectares) não têm condições de plantar.

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