Japão quer expandir suas exportações de alimentos

Assim como a França exporta vinhos finos, os apoiadores do plano de Abe torcem para que o Japão consiga fama mundial por suas frutas, arroz, carne bovina e saquês, arduamente produzidos.

Nos estabelecimentos que vendem alimentos de alta qualidade em Tóquio, uma maçã pode custar US$ 15 e um cacho de uvas chega a US$ 100. São produtos caros, mas de excelente qualidade, e agora o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, quer transformar essa reputação em uma nova oportunidade para ampliar as exportações.

Assim como a França exporta vinhos finos, os apoiadores do plano de Abe torcem para que o Japão consiga fama mundial por suas frutas, arroz, carne bovina e saquês, arduamente produzidos.

Durante décadas, o setor agrícola japonês, protegido por tarifas de importação de arroz que chegavam a 778%, pouco fez para alcançar novos mercados. Em vez disso, viveu de subsídios do governo, que garantiam uma renda gorda aos pequenos – mas politicamente poderosos – grupos de agricultores locais.

Números da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que os subsídios ainda são fartos. No país, o apoio oficial representa 56% das receitas totais dos produtores, muito mais nos Estados Unidos (7%) ou mesmo na União Europeia (19%).

Mas parece que Abe está disposto a acabar com essa longa e confortável relação entre os agricultores e os políticos. Como parte de seu programa econômico, ele pretende reduzir as tarifas de importação como parte de seu compromisso com um pacto comercial para a Ásia liderado pelos EUA, o "Trans-Pacific Partnership".

A iniciativa poderá ser um grande estímulo aos grandes exportadores industriais do Japão. Mas também poderá proporcionar oportunidades para exportadores de alimentos de outros países, de olho nos preços elevados praticados no varejo japonês.

Para compensar uma possível perda de mercado da indústria doméstica, Abe quer que os agricultores japoneses olhem para fora. Ele quer dobrar as exportações de produtos agrícolas – que atualmente respondem por 16% da produção total – até 2020.

Alguns itens, como a carne bovina de alta qualidade e o arroz, já têm compradores cativos nos mercados internacionais, mas, em geral, as exportações de produtos agrícolas permanecem estagnadas desde 2006. Representam, por exemplo, apenas um oitavo das exportações da Itália, grande exportadora global de produtos alimentícios de qualidade superior.

O governo dá importância à melhoria das exportações também porque o mercado doméstico está encolhendo. A população japonesa deverá diminuir mais de 20% até 2050, para menos de 100 milhões de habitantes, segundo estimativas oficiais.

O esforço de exportação, antes restrito a um pequeno grupo de agricultores dispostos a abrir mão dos subsídios domésticos para competir fora de casa, está agora ganhando força junto a algumas das maiores casas financeiras e tradings globalizadas do Japão.

Para o empurrão inicial, o governo uniu forças a grandes bancos para ajudar a financiar a produção de gêneros de maior valor agregado, voltados tanto ao mercado doméstico como para o internacional. O governo já disponibilizou 30 bilhões de ienes (US$ 304 milhões) e espera que os bancos liberem um montante semelhante.

"É um desafio, mas decidimos que vale a pena tentar encontrar novos tomadores [de crédito] num momento de demanda estagnada para novos empréstimos", diz Kazunobu Takahara, um porta-voz do Bank of Tokyo Mitsubishi UFJ, uma das instituições financeiras que estão participando do plano.

Uma subsidiária da Nomura Holdings, maior corretora de valores do Japão, implantou duas fazendas em joint venture com parceiros da Província de Chiba, perto do Tóquio, e de Hokkaido, a ilha japonesa mais setentrional.

Embora ainda incipiente, o projeto tem por objetivo disseminar informações sobre operações agrícolas, para que a corretora possa aconselhar melhor os clientes corporativos interessados no ramo.

"A agricultura pode ser muito interessante. Muitos agricultores conseguem bons produtos, mas poucos deles pensam como vão vendê-los e para quem", afirma Takashi Nishizawa, presidente da subsidiária, a Nomura Agri.

A trading Marubeni Corp. também está se envolvendo cada vez mais com a exportação de produtos agrícolas. Em maio, firmou um acordo preliminar com o International Media Group, uma empresa de TV via satélite de Hong Kong, para promover e exportar produtos agrícolas japoneses para a China.

Mas nem todos embarcaram no esforço para promover as exportações. Na remota cidade japonesa de Sado, autoridades locais estão promovendo novas técnicas de comercialização para o arroz livre de produtos químicos. Mas uma autoridade diz que os planos de enviar uma delegação para uma feira de alimentos em Cingapura atraíram apenas um produtor de arroz.

Um representante de um banco diz que o esforço para exportar alimentos poderá ter tanto sucesso quanto o observado no setor industrial. Alguns produtos japoneses ainda encontram demanda no mundo, apesar dos preços.

"Vai depender da estratégia, do mercado-alvo e das necessidades do consumidor que você tentará atender", diz Kenichi Yamaoka, gerente-geral adjunto da divisão de Pesquisas Industriais do Mizuho Bank. "Foi a mesma coisa com os produtos industriais, mas estamos só começando a iniciativa na agricultura".

1 Comentário

  • Será que alguma indústria brasileira disposta a importar um arrozinho de Fukoshima???… Semana passada li nesse semanário que o Governo Brasileiro quer abrir novos mercados importadores de arroz exportando para Japão, China e Hong Kong… Agora leio nessa matéria que o Japão quer exportar arroz… Sabe… Há muito desencontro entre as informações… É óbvio que o Japão jamais irá importar arroz daqui… Lá não tem desabastecimento… Há menos que ocorra uma catástofre muito grande… Ainda acredito que o caminho é exportar arroz para a África e Oriente Médio, antes que o Paraguai, Nigéria e Cuba tomem conta desses mercados…

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