Jovem e ousada: a Arrozeira Pelotas é referência em exportações
Se você perguntar, no mundo do arroz, quem conhece o Dilnei Sander Portantiolo poucas pessoas vão se manifestar. Mas se questionar pelo Fanta, quem não conhece, quer conhecer. Casado, 55 anos, pai de dois filhos, Portantiolo, mais conhecido pelo apelido de Fanta, é fundador e proprietário da Arrozeira Pelotas, um case de sucesso do arroz brasileiro no mercado mundial, que fechou 2019 com chave de ouro com exportações volumosas para diversos países, entre eles os exigentes Peru, México e Iraque.
A Arrozeira Pelotas foi fundada em 1995, com o intuito de produzir, armazenar, secar e beneficiar arroz de alta qualidade, valorizando o arrozeiro e levando um produto de ótima qualidade para a mesa do consumidor. Em 2020 a empresa completa 25 anos. “Fico muito feliz com a história que estamos escrevendo”, diz Portantiolo, nosso entrevistado nessa edição.
PLANETA ARROZ – Nos últimos 20 anos o Brasil começou a figurar entre os exportadores de arroz. Mais recentemente, o país passou a ser um exportador de arroz beneficiado de alta qualidade e a sua empresa tornou-se uma das referências neste mercado. Como o senhor avalia essa trajetória?
Fanta Portantiolo – A exportação de arroz do Brasil abriu muitas portas. Passamos a exportar arroz de qualidade graças à tecnologia implementada pelas indústrias junto com o desenvolvimento de variedades nobres. Vejo que esse movimento foi um desenvolvimento quando notamos que poderíamos agregar ainda mais valor ao nosso produto. Hoje estamos consolidados como grandes exportadores graças a um trabalho contínuo que estamos realizando faz alguns anos. Apostamos que a exportação seria benéfica para nossa empresa e, felizmente, deu certo. Muitas empresas ainda miram a exportação como uma válvula de escape ou negócios de oportunidade, mas na verdade é um negócio contínuo, já que quando você consolida um mercado, precisa atender em momentos bons e não tão bons. É preciso sempre entregar ao cliente não só produto, mas entregar uma experiência de negócio.
PLANETA ARROZ – Qual o diferencial de sua empresa para conquistar mercados importantes como Iraque, México e, em especial, o Peru?
Fanta Portantiolo – Nosso trabalho sempre está focado em atender à demanda do cliente. Para mercados exigentes como esses, são necessárias adaptações, busca por produto de ótima qualidade e principalmente, entregar uma experiência diferenciada ao comprador, não somente o grão, pois é dessa maneira que conseguimos apresentar nossos diferenciais e fidelizar o mercado.
PLANETA ARROZ – O que o senhor apresentaria como principais fatores positivos, determinantes, para que o Brasil siga abrindo mercados e fidelizando clientes no exterior?
Fanta Portantiolo – É muito importante que sejam realizadas ações governamentais para a abertura de novos mercados. A atuação da Abiarroz junto ao Brazilian Rice e ao Mapa para a abertura do mercado mexicano foi essencial. Precisamos continuar focando em ações, missões e feiras para mostrar o potencial do arroz brasileiro e como podemos atender aos mercados com produto de alta qualidade. As ações promovidas pelo projeto Brazilian Rice nos mercados-alvos sempre são importantes e trazem ótimos resultados. Precisamos de foco para entender os mercados que são promissores e partir disso, desenvolver ações e estratégias.
PLANETA ARROZ – Mas, certamente, temos gargalos que nos impedem de avançar mais rapidamente?
Fanta Portantiolo – Hoje os gargalos ainda estão em requisitos sanitários e impedimentos. Para a abertura do mercado mexicano o principal problema era a não permissão do uso da fosfina. Felizmente foi acordado e já conseguimos embarcar. Da mesma forma, tivemos uma baixa grande nos volumes de exportação com as restrições dos Estados Unidos em relação ao arroz com resíduos de tebuconazol e da União Europeia em relação ao triciclazol. Talvez negociações mais aprofundadas no acordo do Mercosul com a União Europeia ainda podem nos trazer boas notícias para voltarmos a esse mercado, que comprava um volume bem expressivo. Ainda, a falta de acordos fitossanitários nos impedem de exportar, como é o caso da China, que não possui acordo com o Brasil. A missão que aconteceu em 2018 foi importante para o primeiro contato e entender melhor as necessidades, mas precisamos da atuação governamental para avançar com agilidade. Além disso, sempre recaímos em custos. Despesas portuárias e fretes internacionais muitas vezes são mais altos no Brasil do que nos países concorrentes e isso afeta nossa atuação nos mercados.
PLANETA ARROZ – Como o senhor vê a ideia de construção de um porto no litoral norte? Seria melhor investir em Rio Grande?
Fanta Portantiolo O porto de Rio Grande é de extrema importância para o Rio Grande do Sul. Muito do desenvolvimento do estado já passou por ele. A abertura de um novo porto traria benefícios principalmente para empresas que estão na metade norte do estado, pois os custos logísticos talvez diminuiriam. Mas ainda levaria tempo para que isso fosse viável. Assim, acredito que a ampliação do porto de Rio Grande seria ainda mais benéfica (e talvez menos custoso), pois é uma operação que já existe e traz grandes resultados. Precisamos de investimentos não só no porto, mas outros, como a conclusão da duplicação da BR 116, que é de suma importância para o desenvolvimento da região.
PLANETA ARROZ – O mercado de arroz sempre foi um dos mais complicados, segundo os próprios agentes portuários. Afinal, soja é soja, milho é milho, mas arroz tem em casca, esbramado, parboilizado, com diferentes percentuais de inteiros, branco tipo 1, tipo 2… o que exige segregação, alto controle de qualidade. De que forma essas diferenças afetam as exportações?
Fanta Portantiolo – Assim como cada produto é um produto, cada mercado é um mercado. Precisamos trabalhar conforme a necessidade do cliente. Hoje não acredito que essas diferenciações afetem a operação de exportação. Claro, é necessária uma melhor organização logística para não perder a qualidade, já que caso não chegue conforme a necessidade do cliente, podemos perder um grande mercado, o que traz prejuízos a todos.
PLANETA ARROZ – O que o senhor espera do mercado internacional em 2020, frente ao cenário de menor safra nos EUA e no Mercosul?
Fanta Portantiolo – Esperamos que o ano seja de oportunidades e novos negócios. Precisamos saber valorizar nosso grão e a hora certa de entrar em mercados que antes pareciam distantes.
PLANETA ARROZ – O mercado interno brasileiro vem apresentando retração do consumo. Como o senhor acredita que é possível reverter ou estabilizar essa situação?
Fanta Portantiolo – Para obtermos resultados no curto prazo é preciso realizar campanhas massivas de aumento de consumo, mostrando que o arroz é saúde e qualidade de vida, mas o que definirá isso nas próximas décadas será o hábito alimentar que ensinaremos às nossas crianças e, por isso, é preciso também contar com o apoio governamental para garantir que nas escolas o arroz e feijão continuem sendo a base da alimentação dos brasileiros.
PLANETA ARROZ – As exportações têm compensado a retração do consumo interno?
Fanta Portantiolo – Com toda a certeza, com a demanda interna enfraquecida aliada a uma grande oferta de arroz beneficiado, a exportação é uma ótima ferramenta de escoamento, que ajuda a equilibrar o quadro de ofertas. Outro fator importante é que nos últimos anos as exportações se tornaram o grande balizador de preços de arroz em casca, fazendo concorrência com a demanda interna e criando piso para o setor.
PLANETA ARROZ – Nos últimos anos, em função da renda e das alternativas que surgiram, os rizicultores estão reduzindo área no Rio Grande do Sul e no Brasil. O senhor acredita que estamos chegando a um ponto de equilíbrio entre oferta e demanda e que isso pode ser a solução?
Fanta Portantiolo – Acredito que a solução ou o maior desafio para qualquer produto que precisa de liquidez é conseguir equilibrar a balança comercial, algo que não vinha acontecendo no arroz. A expectativa para este ano é que essa relação se torne mais favorável para o setor produtivo e com isso consigamos preços que cubram os custos de produção e garantam as margens para arrozeiros e indústrias, tornando novamente a cultura sustentável.
PLANETA ARROZ – Em geral, as entidades de produtores criticam a concorrência do Mercosul. O senhor concorre com o mundo todo quando vai fazer uma exportação. Que lições o senhor tirou dessas experiências que podem servir à cadeia produtiva?
Fanta Portantiolo – A concorrência sempre vai existir, é um movimento normal de livre mercado. Precisamos aprender a lidar, estudando movimentos, disponibilidade, época certa para negociar e mostrar a qualidade do nosso produto, criando uma maior valorização. Entretanto, no Brasil, os estados não produtores desoneram o arroz, criando uma dificuldade maior para produtores e indústrias. Precisamos de paridade nos impostos para que realmente consigamos competir de igual para igual.