Leilões travam a velocidade da alta do arroz
Oferta maior de produto do governo segurou alta dos preços no mercado esta semana, mas a tendência de valorização está mantida pelos principais analistas.
A queima-de-estoques promovida pela Conab em setembro travou a velocidade da alta dos preços do arroz no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, onde concentra-se quase 70% da produção nacional. Na última terça-feira (23/9) foram leiloadas 60 mil toneladas. Na próxima terça-feira (30/9), novo leilão ofertará o mesmo volume de produto. A estratégia da Conab é manter o mercado gaúcho, referencial para o Brasil, na faixa de preços de R$ 31,00 a R$ 32,50 para a saca de arroz de 50 quilos (58×10), valor há muito superado.
Na última segunda-feira, um dia antes do leilão, o mercado bateu um recorde de preços do ano, com R$ 35,70 a saca, acumulando alta de 6,49% em setembro, segundo o indicador Cepea/Esalq e BM&F. A partir do leilão as cotações recuaram aos patamares da semana anterior.
Nesta quinta-feira, o indicador fechou as cotações em R$ 35,51 para o arroz colocado na indústria no Rio Grande do Sul (frete incluso), acumulando valorização de 5,91%. Ainda assim, a semana acumulou alta de 1,31% em quatro dias. Em dólar, os preços sofreram queda de 5,4% em razão, também, da oscilação do câmbio, fechando a quinta-feira no equivalente a US$ 19,50 a saca.
A Federarroz e outros organismos da cadeia produtiva já protestaram contra esta intervenção extra da Conab no mercado, mas é de conhecimento do setor que a meta do Governo Federal é manter a inflação controlada e que os gêneros da cesta básica têm maior repercussão nestes índices. Todavia, o setor acredita que se mantiver a oferta, em poucos meses a Conab comprometerá o estoque estratégico do país.
O resultado dos leilões será avaliado na primeira semana de outubro, em Brasília, em uma reunião do setor. Na visão dos principais analistas de mercado, os leilões sistemáticos podem até melhorar a situação de abastecimento das indústrias de uma forma muito pontual, mas a tendência de alta será mantida nos próximos meses, à medida que avança a entressafra.
MERCADO
O mercado no Rio Grande do Sul teve uma semana de expectativa. O intervalo entre os leilões serviu para muitas sondagens e poucos negócios. Os produtores restringiram ainda mais a oferta, aguardando os acontecimentos. A indústria também recuou na busca do produto, esperando ligeira queda nos preços e o tradicional comportamento dos produtores de ofertarem o produto em altos volumes quando os preços começam a cair. Os negócios não fluiram tão bem quanto na semana anterior. A indústria trabalha buscando repassar as novas altas para o atacado e o varejo.
ESTABILIDADE
A previsão de estabilidade na produção gaúcha para a próxima safra, divulgada pela Emater/RS, ajudou a manter o mercado bastante ajustado. Alguns analistas também anunciaram expectativa de redução produtiva em alguns estados importantes. No Mercosul, problemas com crédito e uma forte estiagem em regiões produtoras da Argentina fazem com que o mercado tenha perdido a euforia nas compras.
PREÇOS
No preço ao produtor, segundo indicativo das corretoras gaúchas, predominou ligeira alta na semana, com variação entre R$ 34,00 e R$ 35,00 na maioria das praças como Cachoeira do Sul, Guaíba, Alegrete, Dom Pedrito. Em Uruguaiana, São Borja, Itaqui e Pelotas o produto chega na indústria entre R$ 35,00 e R$ 36,00, predominantemente. Preços melhores para o produto de qualidade superior do Litoral Norte chegando a R$ 42,00 para as variedades nobres.
INTERNACIONAL
No mercado internacional, o arroz branco tailandês, FOB Bangkok, é cotado a US$ 700,00/t e o norte-americano chega a US$ 810,00/t FOB. Chegariam a São Paulo entre R$ 57,00 e R$ 58,00 o fardo de 30 Kg tailandês e R$ 62,70 o norte-americano. As cotações do arroz da Argentina e do Uruguai estão entre US$ 800,00 e US$ 810,00, chegando a São Paulo a preços médios de R$ 57,00 a R$ 58,00 o fardo beneficiado (30kg), do Tipo 1. Estes valores demonstram a razão da baixa importação brasileira em 2008 e dos países do Mercosul priorizarem as vendas extra-bloco.
DERIVADOS
A Corretora Mercado, de Porto Alegre, indica preço médio de R$ 35,00 para a saca do arroz em casca com 58% de grãos inteiros, no Rio Grande do Sul. A saca de 60 quilos de arroz beneficiado é cotada a R$ 68,00. Entre os derivados, o farelo de arroz manteve preço médio de R$ 340,00 a tonelada, enquanto o canjicão chegou aos R$ 42,00 e a quirera evoluiu para a média de R$ 31,00 a saca.
EXPECTATIVA
A expectativa do mercado está voltada para o leilão da próxima terça-feira, que deve manter médias bastante próximas da mais recente oferta de estoques públicos (entre R$ 33,00 e R$ 34,00) e nas decisões que devem ser tomadas pela Conab e a cadeia produtiva sobre a comercialização do produto armazenado pelo governo. Estas ações podem determinar o futuro da comercialização no país. Para os produtores, o momento segue sendo de cautela.