Lutz joga no time do arroz

 Lutz joga no time do arroz

O pássaro na lavoura é sinal de que o impacto ambiental não foi prejudicial à natureza

Ambientalista diz que lavoura é das menos poluidoras

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A lavoura de arroz irrigado é uma das mais desejáveis para o Rio Grande do Sul desde que ecologicamente enquadrada, segundo análise do ex-secretário nacional de Meio Ambiente e um dos mais destacados ambientalistas do mundo, José Lutzemberger. Segundo ele, ao contrário de outras lavouras que usam e abusam do uso de venenos, a de arroz irrigado tradicional nada mais é do que um banhado artificial que garante, mesmo que temporariamente, uma ampliação do hábitat de diversas espécies da fauna, principalmente no que diz respeito à fauna avícola palustre. "São jaçanãs, colhereiros, joões-grandes, garças, marrecas e muitas outras espécies que têm estreita relação com o banhado e a lavoura de arroz que precisam deste hábitat natural", explicou.

O banhado é necessário para a sobrevivência destas espécies e o estado tem a característica de muitas várzeas aptas à implantação de lavouras. "Temos abundância de açudes, barragens e rios no Rio Grande do Sul e este material pode ser bem aproveitado", acrescentou. Na opinião de Lutzemberger, a lavoura arrozeira bem-feita e manejada é um enriquecimento ecológico da paisagem.

O manejo ecologicamente correto exclui o uso de produtos químicos e, em geral, reduz custos. Nos anos 60 e 70, segundo Lutzemberger, que dirige a Fundação Gaia, que trabalha na produção de alimentos orgânicos, a lavoura orizícola gaúcha abusava do uso de agrotóxicos. "Naquela época a população de aves de banhado estava praticamente dizimada no estado", destacou. "Hoje a situação é diferente. Houve uma redução no uso de venenos e a fauna avícola palustre está praticamente recuperada", acrescentou.

Nem tudo é positivo, no entanto, no que diz respeito à relação da lavoura arrozeira com o meio ambiente. "Há necessidade de reduzir o uso de herbicidas, adequando o manejo a uma condição mais ecológica", explicou. Lutzemberger frisa que o uso de herbicidas na lavoura de arroz acaba prejudicando o pasto natural da várzea que, durante o pousio, será utilizado para invernar o gado na maioria das propriedades gaúchas.

 

Entrevista 

A palavra preservacionista

O ambientalista José Lutzemberger acredita que a lavoura brasileira de arroz irrigado deve adotar práticas e conhecimentos já usados nos países da Ásia, onde chegam a realizar até três colheitas por ano na mesma área:

"No Sul do Brasil isso não é possível em função do clima, principalmente, mas dá para plantar na mesma área todos os anos se tiver a lavoura sistematizada"

"Se bem drenada, é possível repetir o plantio todo o ano e ainda trabalhar com pastagens artificiais no inverno nas áreas gaúchas. É possível produzir feno ou pastagem para o gado no inverno, quando os animais emagrecem por falta de comida no campo, mantendo a fertilidade do solo e boa produtividade na lavoura"

"Um feno bem produzido controla inços que viriam no arroz e reduz o uso de veneno pela rotação. Estas práticas, segundo ele, são mais indicadas para os pequenos agricultores, mas nada impede que em áreas médias sejam implantadas, paulatinamente, áreas com baixo impacto ambiental"

 

Ecologista chama atenção do produtor

O maior problema da lavoura, no que diz respeito ao trato da terra, é que a maior parte da lavoura arrozeira é plantada por arrendatários, segundo José Lutzemberger. “Ele mal sabe se poderá voltar a plantar naquela área e recém está colhendo quando o proprietário já quer largar o gado na resteva”, frisou o ecologista.

Esta situação social impede que o arrendatário invista mais na terra, buscando melhorar sua própria produção. "Quem vai investir no que é dos outros sem garantir de usufruir depois?", questiona. Segundo ele, na lavoura arrozeira, como em toda a agricultura moderna, é socialmente mais desejável ter muitos pequenos produtores do que poucos grandes. "A situação do arrendatário, no entanto, precisa mudar. Ou o dono planta com a responsabilidade de manter o solo e o meio ambiente, ou dá segurança para que o arrendatário adote um manejo mais adequado de recuperação da terra", acrescentou.

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