Maio intensifica recuperação de preços do arroz em casca

 Maio intensifica recuperação de preços do arroz em casca

Quebra da safra no Brasil, no Mercosul e no mundo ajudam a compor novo cenário para o mercado do arroz em 2016/17. A ausência de estoques públicos e o dólar que se mantém favorecendo as exportações ajudam a completar o quadro.

A primeira semana de maio intensificou a recuperação de preços do arroz no mercado gaúcho. A tendência vem sendo acompanhada pelos grandes estados produtores, como Santa Catarina, Mato Grosso e Tocantins. A principal causa é a quebra de safra acima do esperado no Sul do Brasil, pelo clima adverso, que também atingiu os demais estados produtores. Os países do Mercosul também se mostram afetados com redução em produtividade nas áreas atingidas por enchentes e excesso de chuvas no Paraguai e na Argentina.

O país mais atingido foi o Uruguai, que ainda tem mais de 10 mil hectares embaixo d´água, depois de uma enchente deixar submersos 22 mil hectares. Fontes do país vizinhos asseguram que pelo menos mil hectares a mais foram completamente perdidos e a produtividade nas demais áreas deve cair entre 15% e 30%, dependendo do tempo submerso e das condições da água (com correnteza, salinidade, etc…). Os preços do arroz no Mercosul subiram entre US$ 5,00 e US$ 20,00 por tonelada após estas ocorrências. A confirmação da venda de mais 90 mil toneladas de arroz do Uruguai, que já está normalizando seu estoque, e de mais de 100 mil toneladas do cereal paraguaio para a Colômbia, dá um novo alento à região.

O mercado internacional também apresentou evolução de preços, segundo o indicador da FAO, por causa da intensa preocupação com a safra intermediária da Ásia. Tailândia, Vietnã, China, Filipinas e Índia, fortemente atingidas por seca, registram retração nas produções e queda dos estoques públicos e privados. A situação acendeu um alerta na região que produz e consome 90% do cereal no mundo, a ponto de algumas regiões e países asiáticos estarem suprindo parte da população com trigo e milho, o que vem gerando protestos na Índia, no Sri Lanka e no Camboja. Com isso, os preços seguem firmes no mercado internacional e o Brasil vem ganhando espaço pela desvalorização do Real perante o Dólar estadunidense, uma vez que a diminuição do valor foi mais significativa do que nos demais países pela interferência da crise política.

Devemos ressalvar, no entanto, que a evolução de preços só alcançará aqueles produtores que tiveram custos de produção abaixo da média de R$ 44,71 indicada pelo Irga e conseguirão segurar a safra para comercializar a partir de junho/julho, em patamares que se espera, superiores ao custo do grão limpo e seco, nos armazéns. Quem teve perdas significativas, renegociará custeio, ou já teve que pagar os financiamentos diretos para empresas de insumos e indústria com preços do arroz a R$ 38,00, R$ 39,00 seguirá tendo problemas. O mau desempenho da soja em várzea também complica a situação dos produtores. As enxurradas que atingiram a Depressão Central em dezembro e o Sul gaúcho agora em abril, afetaram significativamente a produção da oleaginosa, que deve ter baixa produtividade e perdas significativas nestas regiões. Para os assistentes técnicos privados da Zona Sul, os danos foram maiores à soja do que ao arroz nestes últimos eventos.

PREÇOS

Diante de todos estes fatores negativos que vêm alcançando a lavoura de arroz no Brasil, no Mercosul e no mundo, as cotações se mostraram em alta nestes três níveis. No Rio Grande do Sul, o indicador de preços da saca de 50 quilos do arroz em casca (58×10) alcançou R$ 41,06 nesta quinta-feira, dia 5 de maio, valor que não era alcançado há 60 dias, desde que entrou em queda. Em dólar, pela cotação do dia, a saca de arroz equivale a US$ 11,58. Em quatro dias úteis, maio já registra 1,26% de valorização do cereal.

Com a projeção do cenário político para um impeachment da presidente e a ação do Supremo Tribunal Federal em afastar o presidente da Câmara Federal, ambos denunciados por irregularidades na ocupação dos cargos, o mercado vem mantendo o dólar entre R$ 3,50 e R$ 3,60, com relativa estabilidade.

Mas, a alta, em dólar, dos preços no Mercosul e no mundo, também mantém a competitividade nacional e dificultam as importações, por ora. Ainda assim, o Brasil segue importando na faixa de um terço a 40% do que exporta, caso de empresas de São Paulo e Minas e do Nordeste. As sondagens por parte das empresas do Sul aumentou consideravelmente a partir da inversão da tendência das cotações, no dia 19 de abril, quando o indicador Esalq/Senar-RS, marcou R$ 39,55, indicando uma perda de 0,13% acumulada naquele mês e o preço em dólar em US$ 11,19. A partir do dia 20 de abril, diante da consolidação das perdas mais agressivas na Zona Sul e repetição das enchentes também no Uruguai, as cotações voltaram a subir, fechando abril com referência de preços em R$ 40,55, acumulando alta de 2,4%, e valor equivalente em dólar em US$ 11,79 para a saca.

MERCADO LIVRE

 No mercado livre, os produtores vêm pedindo entre R$ 44,00 e R$ 45,00, mas a indústria oferece entre R$ 39,00 e R$ 40,00 por saca de cereal da safra nova colocada na indústria o que faz o referencial oficial bater acima dos R$ 41,00. A previsão é de que os preços sigam firmes, com possibilidade de quebrarem a barreira dos R$ 42,00 ainda na primeira quinzena do mês. Há um bom fôlego até alcançar o patamar de equivalência da exportação, hoje acima de R$ 48,00 por saca nos melhores negócios.

OUTROS ESTADOS

Santa Catarina, também com problemas de colheita e perda de qualidade do grão, vem acompanhando a evolução das cotações gaúchas, com os preços médios na faixa de R$ 40,00 no mercado livre. No Mato Grosso, apesar de poucos negócios reportados no momento, as cotações se mantém na faixa de R$ 54,00 em Sinop e Sorriso e R$ 56,00 a R$ 58,00 colocados em Várzea Grande. No Tocantins, na região de Lagoa da Confusão as cotações também subiram R$ 1,00 na última semana e agora têm referência entre R$ 54,00 e R$ 55,00, firmes.

SAFRA

O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) divulgou nesta sexta-feira que a safra gaúcha alcançou até ontem (5/5) 905,8 mil hectares colhidos, ou 85,2% da área total cultivada. A produtividade média segue caindo e já marca média de 7.257 quilos por hectare. Depressão Central (6.732kg/ha) e Planície Costeira Externa (6.514kg/ha) têm as menores produtividades, A produção chegou a 6,57 milhões de toneladas. A Fronteira Oeste já está com 96% da área colhida, enquanto Zona Sul e Campanha, ambas com 76% da colheita concluída, estão mais atrasadas. 

INDÚSTRIA

Se para os produtores que têm produto, colheram razoavelmente bem, parece estar surgindo uma luz no fim do túnel para comercialização com renda no segundo semestre, o nível de preocupação da indústria é outro. De um lado, começa a projetar que terá um custo mais elevado na aquisição de matéria-prima ao longo do ano, mesmo importando, e por outro lado, já nota o varejo e o atacado firmando posição contra repasses. A expectativa é de redução das margens da indústria e um ano mais “apertado” para pequenas e médias empresas. A expectativa se volta para uma boa comercialização nas vendas externas, que compense em parte o resultado menos expressivo projetado para o mercado doméstico.

Ainda assim, em Cachoeira do Sul e Santa Cruz do Sul encontram-se marcas de arroz a preços bastante atraentes ao consumidor. Arroz branco, Tipo 1, Butuí, é comercializado pela rede Walmart, em Santa Cruz do Sul (RS) a R$ 2,18 o quilo, enquanto o parboilizado da marca Top, Tipo 1, tem preço referencial aos clientes em R$ 2,32. Em Cachoeira do Sul, o quilo do branco, Tipo 1, marca BlueVille, é comercializado a R$ 2,30 numa rede de supermercados local, enquanto o parboilizado, Tipo 1, ficam em R$ 2,38. As dificuldades de acesso ao milho dos produtores de aves e suínos no RS – juntamente com as exportações para o continente africano – têm mantido valorizados os quebrados. O farelo de arroz, destinado a rações no mercado gaúcho valorizou R$ 20,00 por tonelada na semana que passou, de R$ 220,00 para R$ 240,00 FOB, segundo a Corretora Mercado. 

3 Comentários

  • uma pergunta que deve ser feita quanto aos números de colheita. Como é possivel ter lugares que tem a mesma média 2 a 3 semanas, sendo que a colheita aumentou.

  • Caríssimos. Períodos difíceis para todos. Custo alto pra produzir e quebra de produtividade pro produtor. Indústria pressionada nas duas pontas. Consumidor final desempregado ou afetado por inflação e redução de renda. Mas, como frisado na matéria acima, há espaço pra bater nos R$ 48,00/sc em vista do mercado externo. Então, nos preparemos pra esta realidade em pouco tempo. Sds

  • Amigos e colegas produtores.Com a grande quebra de safra deste ano aliada a brutal elevação dos custos,principalmente o da energia eletrica,precisamos nos conscientizarmos da manutenção de um preço remuneratorio.Este preço da paridade de exportação de R$48,00 está bom e devemos escalonar nossas vendas dentro deste patamar.Mas isto dependerá unicamente de nós produtores para mantermos este parametro.Portanto,caros amigos,vamos ficar atentos e nos mobilizarmos para atingirmos este patamar.Lá em 2004 já estavamos vendendo arroz a R$40,00!!!A lavoura está muito cara e com carencia de mão de obra adequada!!!Não adianta trabalharmos sem margem e sem resultados satisfatorios.Afora a manutanção na atividade temos dividas do passado!!!!Ficamos atentos e unidos.Abraços a todos

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