Mais grãos do que dívidas

 Mais grãos do que dívidas

Nunes: prioridade em Rio Grande

Para a cadeia produtiva do arroz, o terminal da Cesa
no Porto de Rio Grande
tem papel estratégico
nas exportações
brasileiras do grão
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 O processo de desmembramento da Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa) pelo governo do Rio Grande do Sul, que prevê a venda das unidades deficitárias da companhia, deverá ser intensificado ao longo dos próximos meses. As unidades de Júlio de Castilhos, Santa Rosa e Nova Prata, avaliadas em R$ 21 milhões, são as primeiras da lista e poderão ser leiloadas ainda no primeiro semestre deste ano.

Com R$ 519,2 milhões de prejuízos acumulados até 2014, a Cesa lidera o ranking das empresas, autarquias e organismos que o governo do RS pretende extinguir numa política de cortes de despesas para amenizar o alto grau de endividamento da Fazenda Pública. A medida não deverá atingir a unidade da estatal no Porto de Rio Grande (PRG), considerada estratégica pela cadeia produtiva do arroz para a manutenção das exportações brasileiras do grão.

Criada em dezembro de 1952 com a finalidade de suprir o setor agrícola de uma infraestrutura de armazenagem compatível com as crescentes safras gaúchas, a companhia tem sua sede administrativa em Porto Alegre e conta com 19 filiais distribuídas em 22 municípios do estado totalizando a quantia de 469.500 toneladas de capacidade estática para armazenagem.

De acordo com o diretor técnico comercial da Cesa, Lucio do Prado Nunes, a decisão pela venda de parte da companhia resulta de um diagnóstico minucioso que vai definir a prioridade nos investimentos do estado. “Sabemos que o arroz é fundamental para o RS e a posição da diretoria é pela manutenção do terminal de Cesa em Rio Grande, cuja capacidade estática para a armazenagem de grãos é de 51.500 toneladas”, afirma.

A prova disso, segundo ele, é que o trabalho no PRG segue a todo vapor. “O tombador, que é o equipamento hidráulico usado para agilizar o recebimento do arroz, já está operando 24 horas por dia. Levou seis anos para ser instalado, mas finalmente conseguimos. Com o tombador nossa capacidade de recebimento passou de 50 toneladas para 250 toneladas por hora. Nossa capacidade de expedição também foi ampliada e já está em 4 mil toneladas por dia”, informa Nunes.

Para o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do RS (Federarroz), Henrique Dornelles, o terminal do PRG representa um patrimônio de valor inestimável para o Estado e que precisa ser preservado dado a sua importância para a orizicultura gaúcha. “Por ser uma instituição de uso público que atende produtores de pequeno, médio e grande porte, cooperativas, indústria e comércio, temos bem clara a convicção que o setor será ouvido pelo governo e que o bom senso deva prevalecer nas decisões a serem tomadas daqui para frente”, pontua.

Conforme o dirigente, a incerteza sobre o futuro da companhia, somada às obras de modernização do PRG, acabou gerando uma série de boatos que apontavam para um caos logístico nas exportações de arroz. “Felizmente nada disso acabou se confirmando. Pelo contrário, os embarques em janeiro já são de 10% a 20% superiores na comparação com 2015”, argumenta.

Conforme Dornelles, as exportações de arroz no ano comercial iniciado em março de 2015 já atingiram a marca de 1,19 milhão de toneladas. Faltando ainda dois meses para o encerramento do período 2015/16, o valor já superou o alcançado no momento anterior de 2014/15, de 1,07 milhão de toneladas. “A projeção é que os embarques totalizem 1,4 milhão de toneladas até fevereiro, chegando ao segundo maior resultado da história, atrás apenas de 2011/12, quando foram exportadas 1,77 milhão de toneladas do grão”, estima.

Caminho alternativo

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Arroz Parboilizado, Marco Aurélio Amaral Jr., explica que os embarques em Rio Grande continuam sendo feitos pelos terminais Termasa, Tergrasa e Bianchini e já está programada a saída de dois navios com arroz para Cuba, um em março e outro ainda em abril. “O que ocorre é um problema pontual, já que durante os meses de abril e maio a prioridade nos embarques é para a safra de soja. Desta maneira, as trades estão se organizando para embarcar arroz antes e depois deste período para evitar um congestionamento no porto”, observa.

O dirigente estima que até a metade do ano o RS terá exportado de 300 a 400 mil toneladas de arroz base casca sem maiores contratempos. “Nesta safra tivemos problemas com o El Niño, mas temos que pensar nas exportações com uma visão de longo prazo. O RS vai exportar 10% da sua safra, se não mais, independentemente do volume a ser colhido no período. Os preços estão firmes e o mercado internacional está bom. Além disso, se não exportarmos teremos problemas de excesso de oferta”, assegura.

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