Mais produto, menos valor

 Mais produto, menos valor

Zorrilla: preços não cobrem os custos

Amargando alta dos custos, perda da renda
e quebra na safra, produtores uruguaios
tiveram que devolver dinheiro à indústria
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Com custos de produção em alta e rentabilidade em baixa e vivendo pela primeira vez em mais de uma década uma situação de acúmulo de excedentes e grandes estoques, os produtores e as indústrias da Argentina, do Paraguai e do Uruguai apostam suas fichas na previsão de um aquecimento nas importações brasileiras neste segundo semestre do ano. Assim garantirão o escoamento de boa parte dos estoques de passagem e da produção obtida na safra 2015/16.

No Uruguai, mesmo com média acima de 8 mil quilos por hectare, os cultivadores tiveram perdas produtivas e sofrem com o rebaixamento dos preços. O encalhe das vendas, que forçou exportações abaixo dos preços previstos, obrigou os agricultores – mesmo sem lucro e alguns com dificuldade de pagar as despesas da safra – a devolverem dinheiro para as indústrias.

A Associação de Cultivadores de Arroz do Uruguai (ACA) espera que uma comissão que reúne produtores, industriais e governo revise os termos dos contratos de compra e venda determinados pelo sistema integrado adotado no país. Para a entidade, os contratos não contemplam singularidades como danos climáticos, que causaram prejuízos à produção e perdas de até 100% em algumas áreas. Considera que a maior pressão está sobre os agricultores, que se tornam o elo fraco na cadeia produtiva diante das dificuldades de negociar crédito e preços e pelas fortes altas dos custos de produção em insumos agrícolas, energia e combustível. “Por ora, o acordo é de que os valores poderão ser reavaliados em outubro, mas diante das circunstâncias não é satisfatório”, reconhece Hernán Zorrilla, vice-presidente da ACA.

Os moinhos arrozeiros uruguaios determinaram como preço definitivo do arroz na safra 2014/15 a saca por US$ 10,55. O valor provisório era de US$ 11,00. Isso determinou que os produtores que negociaram o produto ao longo do ano passado e receberam este preço devolvessem o equivalente a US$ 0,45 por saca à indústria, em valores de 30 de junho de 2016. As empresas argumentaram que o preço provisório ficou mais alto do que o definitivo porque a negociação da safra foi complexa. “Ficamos quase seis meses praticamente sem vender arroz, com um mercado trancado e um estoque de passagem histórico. Cerca de 30% da safra foi vendida a valores abaixo do esperado para viabilizar o escoamento. Isso fez com que a média de preços das exportações fosse baixa e refletisse no valor da matéria-prima”, reconhece Zorrilla. Segundo ele, não é a primeira vez que, no sistema integrado de produção, os arrozeiros tiveram que devolver dinheiro à indústria obedecendo aos contratos.

Para a atual temporada, o valor provisório fixado é de US$ 9,50, o que, segundo os produtores, não cobre o custo de produção nem traz alento aos agricultores descapitalizados ou dependentes de refinanciamento por parte de um fundo governamental. A produção de arroz é a segunda maior fonte de vendas externas do país após as carnes. “Por sorte o mercado internacional mostra sinais de reação e o Brasil está comprando mais. Com isso, há expectativa de uma negociação que ajuste os valores acima do preço provisório”, explica Zorrilla.


FIQUE DE OLHO

Sob o atual cenário, setores ligados à produção do Uruguai consideram que a área cultivada deverá cair cerca de 8%, dos atuais 162 mil hectares cultivados para aproximadamente 150 mil na próxima safra.

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