Manejo correto ameniza perda causada pelo clima

Usar as técnicas certas pode ser essencial para reduzir os danos no campo.

Depois de atravessar um período complicado, com a forte estiagem que marcou os primeiros meses deste ano, os produtores contavam com os prognósticos da meteorologia, que indicavam a ocorrência do fenômeno El Niño, para respirarem mais aliviados. No entanto, poucos imaginavam que as chuvas seriam tão intensas e provocariam tamanhos estragos. No caso das lavouras de arroz, as perdas podem chegar a 3 milhões de toneladas, conforme dados da Farsul.

Na impossibilidade de frear os fenômenos climáticos, resta buscar saídas para mitigar os efeitos que chuvas em excesso, ou que a falta completa de água, podem causar às lavouras. O diretor-técnico do Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), Valmir Menezes, diz que o manejo correto do solo, antes e após transtornos climáticos, pode ser essencial para reduzir os danos no campo. No caso das áreas de arroz que ainda se encontram com chances de recuperação é importante a aplicação de herbicidas mais seletivos e de ureia, além da manutenção da lâmina de água em níveis mais baixos e do uso de fungicida.

Para as lavouras que ainda não foram semeadas, o especialista aponta a necessidade de fazer o controle das plantas daninhas no cedo, irrigar de forma suave e monitorar a incidência de insetos. “As áreas que nesse caso serão plantadas no tarde precisam de mais fungicida, pois o atraso no ciclo favorece desenvolvimento de doenças”, afirma. Em situações de seca, Menezes indica aos produtores semearem sempre com base no que dispõem em termos de volume dos mananciais hídricos. Na semana que passou, apenas as lavouras em áreas mais elevadas e afastadas de arroios e rios puderam ser trabalhadas. O avanço da área semeada também foi muito pequeno, acentuando o atraso da atual safra.

No caso da soja, a situação ainda se encontra sob controle, a não ser pelo atraso no plantio, em função do excesso de umidade do solo. Até agora, apenas 45% da área a ser coberta com soja foi cultivada, enquanto que a média histórica aponta que nessa época do ano já deveriam estar plantados 85% das áreas. Apenas em áreas pontuais foi possível observar avanço em relação à semana anterior e, mesmo assim, a implantação se deu em condições desfavoráveis, prejudicando a germinação das sementes. Muitas delas, devido às enxurradas provocadas pelas fortes chuvas, deverão ser replantadas, trazendo aumento nos custos de produção.

Os produtores terão também pouco tempo para finalizar a semeadura, uma vez que o período recomendado termina no dia 10 deste mês de dezembro para as variedades de ciclo curto (precoces), podendo ir até dia 31 para as variedades de ciclo mais longo (tardias). O plantio fora destas datas pode resultar em diminuição dos rendimentos finais das lavouras. O assistente técnico regional da Emater de Ijuí, Volnei Righi, diz que ainda não houve ocorrências intensas de erosão, apenas em áreas isoladas, já que o inverno rigoroso colaborou para a formação de uma boa palhada. “Os alagamentos também se restringem às áreas mais baixas. No entanto, é preciso estar atento à ocorrência de fungos nas plantas, caso as chuvas persistam”.

A cultura do milho pouco avançou em termos de cultivo alcançando 75% do total previsto. Esse ligeiro aumento foi verificado basicamente em lavouras de plantio direto, onde as condições de manejo, mesmo com excesso de umidade em muitos casos, mantêm-se regulares. Righi complementa que, mesmo assim, a germinação das lavouras mais recentes tem se mostrado, na maioria das vezes, insatisfatória, devido à pouca luz e calor.

Nas lavouras semeadas há mais tempo e que se encontram em fase de floração e enchimento de grãos, o padrão é considerado normal, apesar de alguns problemas em áreas mais baixas, como paralisação do crescimento e amarelecimento das folhas, em função do encharcamento do solo. A orientação do especialista é de, em qualquer situação, utilizar variedades específicas para determinada época, caso seja preciso alterar a época de plantio, além de adensar linhas e colocar mais plantas por área. “O que pode ocorrer, caso não consiga plantar soja, é esperar janeiro e cobrir os campos com milho”, disse Righi.

Sobre o uso de técnicas de irrigação, em caso de estiagem, o técnico afirma ser uma boa solução para quem dispõem dessa tecnologia, mas que a mesma é ainda pouco difundida entre os produtores. “É uma tecnologia para poucos. A saída está no manejo adequado: preparo do solo, permitindo melhores condições de armazenagem de água.”
Prejuízos podem alcançar a R$ 3,6 trilhões no País

Até 2050, as perdas em função das alterações do clima podem chegar R$ 3,6 trilhões no Brasil. A previsão consta no estudo Economia da mudança do clima no Brasil: custos e oportunidades que apresentam os principais investimentos a serem feitos para evitar grandes perdas econômicas com a mudança do clima. “Calculamos a necessidade de aplicar R$ 65 milhões por ano na modificação genética de arroz – para garantir adaptação à mudança do clima”, informou a coordenadora do estudo e pesquisadora da UFRJ, Carolina Dubeux.

A soja está entre as culturas que mais deve sofrer com a elevação de temperatura. As simulações mostram que as regiões ao Sul do país e as localizadas nos cerrados nordestinos serão fortemente atingidas. No pior cenário, as perdas podem chegar a 40% em 2070, em decorrência do aumento da deficiência hídrica e do possível impacto dos veranicos mais intensos.

O grão pode apresentar já em 2020 uma perda de R$ 3,9 bilhões a R$ 4,3 bilhões, promovida por uma redução de área de baixo risco ao cultivo que vai de 21,62% a 23,59%. Em 2050, o prejuízo pode subir para algo entre R$ 5,47 bilhões e R$ 6,3 bilhões, em função de uma área apta para plantio entre 29,6% e 34,1% menor que a atual. Para 2070, no melhor cenário o prejuízo será de R$ 6,4 bilhões, com 34,86% de área favorável, chegando a R$ 7,6 bilhões, numa área de 41,39%, considerando o pior cenário. Isso equivale à metade das perdas que a agricultura brasileira deve ter nesta ocasião.

A pesquisadora diz que no caso do milho, a cultura chegará a 2020 com uma área favorável 12% menor, número que sobe para 15% em 2050 e 17% em 2070. Tomando como base a produção de 42,6 milhões de toneladas, que teve como valor R$ 9,9 bilhões, segundo números de 2006 do IBGE, o aquecimento global deve provocar uma queda em torno de R$ 1,2 bilhão no valor da produção em 2020. O prejuízo pode passar a cerca de R$ 1,5 bilhão em 2050, chegando a R$ 1,7 bilhão em 2070.

As lavouras de arroz também não sairão ilesas dos prejuízos causados pelas alterações climáticas. O estudo prevê para 2020 uma redução da área de baixo risco ao plantio que vai de 8,41% no cenário para 9,7%. Essa perda pode atingir 12,5% em 2050 e chegar a cerca de 14% em 2070.

Tomando como base a produção de 11,5 milhões de toneladas, com um valor de R$ 4,3 bilhões, segundo números de 2006 do IBGE, o aquecimento do clima trará um prejuízo em 2020 de R$ 368 milhões a R$ 417 milhões. Em 2050 as perdas deverão estar em torno de R$ 530 milhões e, em 2070, de pouco mais de R$ 600 milhões, nos dois cenários.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter