Melhoramento convencional ou biotecnologia?

 Melhoramento convencional ou biotecnologia?

Flávio: interaçao é a palavra

Embrapa defende união de esforços para alavancar a pesquisa em arroz no país.

O Brasil é visto no cenário internacional como um provedor de soluções tecnológicas para a produção de arroz em ambientes tropicais. É também um possível gerador de excedentes de produção, que podem ajudar a regular o mercado externo. No entanto, quando se considera o tamanho e o dinamismo da pesquisa mundial em biotecnologia de arroz, a participação brasileira ainda tem sido tímida. 

A análise foi feita pelo chefe-adjunto de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Arroz e Feijão (GO), Flávio Breseghello, durante o painel “Uso das ferramentas da biotecnologia no melhoramento do arroz: uma visão da Embrapa”, apresentado no 6º Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, em Porto Alegre (RS). 

Conforme Breseghello, a comunidade científica voltada à genética e ao melhoramento de arroz no Brasil é pequena e desarticulada. “Ainda persiste a separação entre melhoristas, dedicados ao desenvolvimento de cultivares, e biotecnólogos, voltados aos trabalhos acadêmicos”, observou. 

Segundo ele, tanto a falta de resultados práticos, de um lado, quanto o ceticismo, de outro, são frutos da falha de entrosamento entre estes profissionais e do limitado conhecimento das áreas recíprocas. “A maioria dos biotecnólogos é jovem, sem experiência de melhoramento, enquanto a maior parte dos melhoristas é de profissionais maduros, que fizeram doutorado antes do advento da biotecnologia”, avaliou. 

Esta polarização da comunidade científica, na visão do chefe-adjunto da Embrapa, tem sido danosa ao avanço do melhoramento de arroz no Brasil. Citou como exemplo o edital do CNPq (Edital MCT/CNPq/CT – Agronegócio 029/2008) direcionado explicitamente ao “melhoramento convencional”. “Este tipo de edital somente contribui para acentuar a divisão entre as duas disciplinas. Agregar estes dois grupos, mais uma série de competências críticas em diversas áreas complementares, será essencial para alinhar a biotecnologia brasileira em arroz aos grupos líderes mundiais”, advertiu. 

Para Breseghello, “ao invés de defendermos o melhoramento clássico como se fosse uma relíquia histórica, precisamos de um sistema de avaliação de propostas de pesquisa que seja capaz de identificar quando o uso de marcadores moleculares se justifica e quando está sendo inserido apenas para tornar a proposta mais atraente”. 

O que precisa ser defendido, na opinião do pesquisador, é a formação de verdadeiras equipes multidisciplinares que incluam especialistas em Bioquímica, Biologia Molecular, Fisiologia, Recursos Genéticos, Bioinformática, Estatística, Genética de Populações, Genética Quantitativa, Melhoramento e talvez outras disciplinas. “Faz-se necessária a união de esforços de todas as instituições que atuam em genética e melhoramento no Brasil, com o objetivo de gerar conhecimento e ferramentas úteis para o desenvolvimento de cultivares de arroz mais eficientes. Ao mesmo tempo, é importante que esta equipe mantenha estreito contato com a comunidade científica internacional, trocando informações e agregando competências”, destacou.


Todas as armas são necessárias
                                                  

O painel apresentado por Breseghello durante o 6º CBAI deixou claro que a biotecnologia não deve ser vista como uma alternativa ao melhoramento ou uma competidora por recursos, mas sim como uma grande integrante desta ciência, que tira proveito do estágio atual do conhecimento científico humano para atingir objetivos concretos. “Se os resultados práticos ainda estão aquém da expectativa inicial, talvez seja porque a complexidade biológica tenha sido subestimada nos primeiros anos da era molecular, mas isto não deve ser motivo para a rejeição destas tecnologias”, argumentou. 

A posição da Embrapa é de que a biotecnologia de plantas não pode justificar-se a si mesma, mas sim buscar sempre a entrega de resultados práticos via cultivares melhoradas. “Todas as armas serão necessárias ao melhoramento genético do arroz para alcançar o desenvolvimento e cultivares mais tolerantes aos estresses abióticos, por isso não se pode prescindir da biotecnologia”, explicou Breseghello. 

Entretanto, o pesquisador fez questão de deixar claro que a genética tem seus limites e que não se deve pensar que o melhoramento irá compensar todos os efeitos de uma mudança climática extrema ou da degradação do solo e da água: “Quanto mais se preservar o meio ambiente agrícola, mais facilmente o melhoramento cumprirá sua tarefa de desenvolver cultivares que consigam tirar o máximo proveito dele”.

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