Melhorar é preciso

Podia ser melhor, mas a exportação de arroz do Brasil arrancou bem

 

Depois de alcançar um recorde de 2,11 milhões de toneladas de arroz em base casca exportados no ano que passou, talvez um dos maiores desafios da orizicultura brasileira seja manter-se perto ou acima das médias obtidas no período anterior ao 2022 completamente atípico que gerou esse resultado. Se depender do primeiro quadrimestre de 2023, há boas chances de que a cadeia produtiva nacional alcance números entre 1,3 milhão e 1,5 milhão de hectares. E isso não é pouca coisa, nem é fácil conquistar.

Após um primeiro trimestre mais fraco, as exportações de arroz voltaram a crescer em abril, enquanto as importações, que vinham fortes, caíram. A Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) destacou que esse resultado fez com que no primeiro quadrimestre de 2023 as vendas externas de arroz atingissem 508 mil toneladas, com faturamento de US$ 172,2 milhões, contra 523,6 mil toneladas no mesmo período de 2022.

Segundo a Secex, os embarques brasileiros se mantêm acima de 100 mil toneladas desde junho de 2022. Apesar da queda nas exportações frente a 2022, os números de abril positivaram a balança comercial brasileira, que registra 484.650 toneladas importadas por US$ 156,9 milhões. O saldo, portanto, é de praticamente um navio, ou 23.98 toneladas e US$ 15,3 milhões. O valor free on board (FOB) do cereal importado foi o maior em 19 meses.

Entre as exportações, o destaque é o arroz em casca, com 257 mil toneladas, o que corresponde a 50,5% de participação no total em volume e 54,8% de participação em valor, com US$ 94,3 milhões. Mantendo o diferencial do ano passado, o México é o principal destino, com 28,5% da demanda total. O quebrado vem a seguir, com 36,4% em volume (185.236 t) e 28,3% em valor (US$ 48,7 milhões). Arroz branco (11,1% – 56,31 mil t e US$ 25 milhões, ou 14,5%) e o integral ou cargo (10,1 t = 2% e US$ 4,2 milhões) completam o quadro. No ano, os principais destinos do arroz brasileiro no acumulado são Senegal, Serra Leoa e Peru.

Ao mesmo tempo, o Brasil fez 58,6% de suas aquisições em arroz branco (283.809 t) por US$ 99,2 milhões (63,2%). Logo após vem as compras do arroz integral por US$ 50,1 (32%), que equivaleram a 167.435 t (34,5%). Com menor expressão, o quadrimestre aponta 21,1 mil t de quebrados (4,3%) por US$ 4,1 milhões (2,6) e 12,3 mil t do grão em casca (2,5%) por US$ 3,5 milhões (2,2%). Desse total, 69,2% vieram do Paraguai, 17,3%, da Argentina e 13%, do Uruguai. Outros países venderam 0,5% das importações do mês, como Itália, Vietnã, Tailândia e Paquistão.

MÉDIAS
O preço médio FOB do arroz importado foi US$ 342,98/t, equivalente a R$ 86,09/sc 50 kg, considerando-se o câmbio médio de R$ 5,02 em abril/23. Esse valor é 2,16% inferior ao Indicador Cepea/Irga-RS para o arroz em casca no Rio Grande do Sul do mesmo período, que ficou em R$ 87,99/sc. Já os exportadores brasileiros receberam, em média, US$ 335,69/t ou R$ 84,26/sc, em termos nominais, valor 4,24% menor que o indicador, segundo dados do próprio Cepea.

De volta à realidade

Meta da Abiarroz e do programa Brazilian Rice é ampliar a exportação de arroz beneficiado para o mundo

Apesar das dificuldades, com menor oferta de matéria-prima, oscilações cambiais, obstáculos de logística e volta dos EUA com mais força ao mercado internacional no segundo semestre, o Brasil deve exportar perto de 1,5 milhão de toneladas de arroz em base casca, como projeta a Conab.

Gustavo Trevisan, diretor de assuntos internacionais da Associação Brasileira da Indústria de Arroz (Abiarroz), estima o limite inferior em 1,3 milhão de toneladas e considera importantes os resultados do no primeiro quadrimestre. “Após o recorde e no atual cenário, é difícil repetir o desempenho, mas teremos bom desempenho”, observou.

Para Trevisan, manter a média de 1,3 a 1,5 milhão de toneladas significará fechar 2023 com superávit. “Neste sentido, o grande objetivo da Abiarroz é ampliar a participação do grão industrializado”, apontou.

Um dos fatores que dificultam esse crescimento é a tributação. “O arroz beneficiado paga 1,5% de Funrural, que não incide sobre o arroz em casca. Parece não ser prioritário ao governo incentivar geração de empregos e renda e fortalecer o segmento industrial”, disse. A taxa CDO também é um peso a mais na capacidade competitiva do arroz gaúcho.

O dirigente lamentou e instabilidade econômica e política de grandes clientes do arroz branco, casos de Cuba e Venezuela, que estão se abastecendo na Ásia. “Com maior confiabilidade nos negócios com estes países, teríamos neste momento mais 50 mil ou 60 mil toneladas de arroz beneficiado exportadas”, estimou.

Brazilian Rice
Como parte da estratégia da associação das indústrias para ampliar mercados, o projeto Brazilian Rice, desenvolvido em parceria com a ApexBrasil, participou da Sial Canada 2023, em Toronto, em abril, e projeta novas feiras ao longo do ano.
“O Canadá é um mercado prioritário. Na feira, a convite do Ministério da Agricultura, reforçamos os esforços de promoção comercial naquele país com a presença do arroz brasileiro”, disse a gerente de exportação da entidade empresarial, Carolina Matos.

CDO arranca abaixo da média

A parcial divulgada pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) sobre a arrecadação da taxa de contribuição para defesa da orizicultura (CDO) em maio, referente ao primeiro quadrimestre de 2023, indica que a cadeia produtiva do Rio Grande do Sul manteve números equivalentes à segunda menor média em cinco anos.

O relatório mostra que foram beneficiadas e saíram do estado 2.428.741 toneladas, com média mensal de 607.180 toneladas. No entanto, os dados apresentam, muito antes de uma queda no consumo nacional, dois outros fatores que precisam ser analisados.

Em primeiro lugar, janeiro e fevereiro são os meses que registram historicamente menor movimento de beneficiamento e de saídas. E as exportações de arroz beneficiado caíram de maneira significativa.

Para os técnicos do Irga, trata-se mais de uma condição sazonal, típica do período, com algum efeito da retração nas vendas do arroz branco brasileiro, do que um indicativo de uma queda mais forte do consumo. Ao menos neste momento.

O atraso na colheita gaúcha, em torno de duas a três semanas, e a menor das colheitas em muitos anos, colaborou com esse número inicial.

Em cinco anos, o maior movimento foi registrado em 2020, com 8.024.310 toneladas e média mensal de 668.296 toneladas.
Portanto, além de um bom volume de estoques e safras maiores, houve uma interferência significativa das exportações e da pandemia de covid-19, muito embora os meses finais do ano tenham registrado recordes negativos.

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