Menor demanda segura mercado do arroz em casca

 Menor demanda segura mercado do arroz em casca

Plantio avança, mas produtores esperam uma boa chuva para finalizar semeadura

No varejo, o comportamento é misto com o diversas capitais apontando aumento dos preços, mas muitas ofertas também no radar dos consumidores.

Os preços do arroz em casca no mercado nacional mantêm relativa estabilidade, com tendências de pequeno recuo, desde a consolidação da medida que liberou a importação de terceiros mercados sem incidência da Tarifa Externa Comum (TEC) de 12% para o branco e 10% para o “paddy”. Mas, não são as compras, que devem chegar com força em novembro, que interferem de maneira mais impactante nas cotações: é o consumo que mostra sinais de enfraquecimento.

Com a redução, pela metade, do auxílio social do governo durante a pandemia – de R$ 600,00 para R$ 300,00 por mês –, o varejo estocado e parte dos consumidores também, o mercado começou a “trancar na ponta”, ou seja, mesmo na virada do mês de outubro para novembro o que se notou foi o enfraquecimento das compras pelos consumidores e, por consequência, pelo atacado e o varejo. Ainda assim, a inflação dos alimentos avaliada por diversas pesquisas de cestas básicas, entre elas os indicadores oficiais do IBGE e Dieese, apontam o arroz como um dos produtos responsáveis pela alta de preços, entre 0,89% e 3,12%, em outubro.

Nos supermercados, no entanto, apesar de notar-se alguma elevação repassada a variedades nobres e líderes de faixas de consumo, também passou-se a perceber muitas marcas – algumas até tradicionais – negociando o pacote de 5 quilos abaixo de R$ 18,00, o que fez a média pesquisada por Planeta Arroz em seis capitais recuar para R$ 25,00 (ou R$ 5,00 por quilo) para o grão branco, do Tipo 1, embora tenhamos encontrado ofertas abaixo de R$ 3,00 por quilo.

Aos produtores gaúchos o mercado segue praticamente estagnado, com pouca movimentação de negócios e aquisições, por pequenas indústrias, da mão pra boca. Poucos produtores ainda detêm arroz e, estes, têm pouco interesse na negociação considerando a incidência do imposto de renda. Ainda que se tenha quatro meses do ano safra, praticamente, para cumprir, para muitos agricultores, na ponta do lápis, é melhor esperar janeiro para negociar o produto e jogar o imposto incidente para quitar em 2022, do que concentrar os valores em 2020 e ter que pagar alíquotas acumuladas em 2021.

CDO

Os números da Contribuição para o Desenvolvimento da Orizicultura (CDO) demonstram que o Rio Grande do Sul tem cerca de 1,8 milhões de toneladas para beneficiar e comercializar até a próxima safra, cerca de 450 mil toneladas por mês. Estes valores consideram exclusivamente o volume colhido e o volume beneficiado/comercializado desde março, portanto, durante o ano comercial, desconsiderando importações e exportações que não recolheram o tributo, por exemplo.

Das 7,840 milhões de toneladas colhidas na temporada 2019/20, 6,040 já foram beneficiadas e comercializadas, segundo a CDO, ou seja 77%. Faltando um terço do ano comercial (novembro, dezembro, janeiro e fevereiro), restariam 1,8 milhão de toneladas da colheita passada (23%), ou 450 mil toneladas por mês (descontando o que remanesceu em estoque e importações). A média de processamento e comercialização do RS entre março e outubro foi de 734,36 mil toneladas por mês. No ano civil, contando janeiro e fevereiro, fica em 665,6 mil t a média mensal, somando 7,2 milhões de toneladas. Todos os números em base casca.

IMPORTAÇÕES

Parte da indústria, por sua vez, aguarda a chegada dos primeiros navios de arroz importado sem TEC. Embora o governo afirme que não houve grande impacto das importações de terceiros países em outubro, pelo menos um navio de grão em casca dos Estados Unidos, com 26,25 mil toneladas chegou a Imbituba e Rio Grande na última semana do mês. E alguns contêineres da Índia. Esta semana começam a chegar lotes mais robustos de arroz indiano, branco, e na próxima semana descarregará em Imbituba e Rio Grande o segundo navio de arroz norte-americano, com mais 27 mil toneladas, em casca. Mais ao final do mês chega o primeiro navio da Guiana, com 22 mil toneladas. Aparentemente, as estatísticas oficiais não contabilizaram as primeiras cargas do final de outubro, que só deverão entrar na estatística de novembro.

Algumas compras ficaram para chegar em dezembro, como o segundo navio da Guiana (22 mil t), contêineres da Índia (12,5 mil t, branco) e um navio de 22 mil toneladas de arroz branco (100B) da Tailândia, que tem como destino Santa Catarina. A expectativa do setor é de que este seja um produto de oportunidade e adquirido apenas para “fazer o giro” da indústria até a colheita brasileira.

Como o mecanismo de compra com isenção de TEC vale apenas para navios que desembarquem até 31 de dezembro, há pedido do setor arrozeiro mineiro de prorrogação do benefício até 28 de fevereiro. Uma das alegações é a seca que está afetando o plantio no Mercosul, outra é a dificuldade dos países fornecedores com a logística por causa do Covid-19.

DÓLAR

Os operadores brasileiros seguem de olho no comportamento do câmbio. A vitória do democrata Joe Biden, nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, e o anúncio de novas vacinas para o Covid-19, são alguns fatores que levaram à valorização do real perante o dólar, com o rebaixamento do risco no mercado internacional. Com isso, o dólar que andou cotado a quase R$ 5,90 na virada do mês, chegou a R$ 5,22 em alguns momentos das cotações desde a sexta-feira.

EXPORTAÇÃO

Enquanto isso o Brasil, como já se previa, segue firme nas exportações de quebrados. Este é um mercado diferenciado, que o Brasil já fidelizou na África seja por qualidade, seja porque há demanda constante, e consegue competir com países asiáticos e do Mercosul. Anualmente, cerca de 300 mil a 450 mil toneladas são negociadas neste segmento pela consolidação das empresas brasileiras especializadas. Tanto que desde a temporada passada novas tradings passaram a operar.

SAFRA

Em termos de plantio, Santa Catarina está semeando suas últimas áreas para esta temporada, ainda com preocupação regional com a falta de chuvas em maior volume. No Rio Grande do Sul, com mais de 85% da área já semeada, o tempo seco também vem segurando a semeadura, que deveria encerrar na próxima semana segundo recomendação técnica. Os produtores esperam uma chuva de pelo menos 25 a 30mm para colocar as sementes na superfície a ser plantada, tanto do arroz quanto da soja. Além da falta das chuvas e das reservas um pouquinho abaixo do padrão, os arrozeiros gaúchos estão preocupados com o clima de baixas temperaturas noturnas – o que não ajuda na arrancada inicial da planta – e de muito vento, o que ajuda a secar mais rápido o solo.

Alguns produtores estão preocupados com as chuvas que vêm negando, exceto no litoral atlântico, e atrasando a entrada da irrigação para economizar água até o final do ciclo. Os técnicos consideram que é melhor entrar logo com a irrigação e assegurar o controle de invasoras, pragas e doenças, do que ter que desembolsar para remediar situações depois e lembram que esta é a fase que pode determinar o resultado final da safra.

Diante deste cenário, percebe-se o mercado de matéria-prima “andando de lado”, com preços médios entre R$ 97 a R$ 103,00 do grão para parboilização, por saca, e de R$ 103,00 a R$ 110,00 nos grãos para padrão de Tipo 1 e de R$ 105,00 a R$ 115,00 para os nobres. Mas, sempre em lotes pequenos e negócios no “spot” com indústrias que não têm alta capacidade de estocagem.

Em Santa Catarina a expectativa é do plantio de 150 mil hectares. A novidade nesta safra é o aumento de área destinada ao manejo produtivo da soca, que alcançou lavouras até mesmo do Sul do Estado, cujo clima não é o mais indicado para a técnica. Apesar de alguns problemas pontuais de estiagem, o Estado deve colher média de 8 mil quilos por hectare e 1,2 milhão de toneladas, segundo estimativa local. Atualmente os preços médios variam de R$ 82,00 a R$ 95,00 nas praças catarinenses, com melhores cotações no Sul e para o arroz a depósito.

No Tocantins, os preços superaram os R$ 140,00 em algumas praças para a saca de 60 quilos e com produto superior a 55% de grãos inteiros. Produto superior é negociado até acima de R$ 150,00.

Boa parte das indústrias está vendendo abaixo da cota média desde o final de setembro, depois de chegar a negociar 2,5 vezes o volume mensal em março/abril, por exemplo.
Aparentemente o consumidor brasileiro acostumou-se a viver na pandemia e percebeu eu não faltam alimentos, apesar da alta dos preços. Portanto, não precisa se estocar. E quem se estocou, está consumindo o produto das compras antecipadas.

epois de valorizar menos de 1% em outubro, o indicador de preços do arroz Esalq/Senar-RS iniciou novembro mostrando enfraquecimento – refletindo em muito o baixo interesse de venda, a posição de stand by da indústria e o interesse em declínio por parte do consumidor. Na última sexta-feira, dia 6, o indicador apontou média de R$ 103,29 por saca de 50 quilos, em casca, no Rio Grande do Sul. Pelo câmbio do dia, equivalia a US$ 19,17. Em reais, acumulava perda de 1,79%. São mais de R$ 3,00 inferiores ao pico de preços em moeda brasileira, alcançada no início de outubro.

A Corretora Expoente, de Pelotas (RS) informa preços médios do arroz em R$ 108,00 por saca de 50 quilos, em casca, na Zona Sul, R$ 128,00 (fardo de 30 quilos, branco, tipo 1), R$ 230,00 (FOB 60kg). Os quebrados também seguem com forte valorização, com o canjicão cotado entre R$ 102,00 e R$ 105,00, a quirera entre R$ 94,00 e R$ 97,00 (ambos em 60kg) e o farelo em R$ 1 mil a R$ 1.050,00, por tonelada.

TENDÊNCIAS

Com a certeza de que os preços deverão se manter até a boca da colheita, o arrozeiro segue dando preferência a negócios a prazo, em pequenos lotes, para obrigações mais urgentes, ou deixa para vender em janeiro e fevereiro, se não tiver maiores preocupações. Ainda há liquidez. Quem quiser vender encontra comprador, mas nem sempre ao preço que está buscando.

De qualquer maneira, mesmo que o mercado precifique o arroz da safra 2020/21 até mais de 30% abaixo das cotações atuais, como esperam alguns analistas e operadores de mercado, a quase unanimidade de agentes de negócios acredita que os preços médios devem se manter bem acima do custo de produção. E com maior margem e liquidez a partir de maio/junho de 2021. Ou seja, o comércio de arroz alcançou nova realidade e novo padrão de cotações, e ainda que não se mantenha no pico de preços de 2020, a boa fase deve perdurar no ano eu vem. A expectativa, portanto, é de que ajustada a precificação da colheita, o gráfico deverá permanecer em linha de estabilidade.

Um novo componente está entrando na conjuntura. O clima, que está interferindo com relativo atraso no plantio em algumas regiões – e prejudicou a emergência – pode alongar o período de colheita.

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