Mercado de arroz se concentra na expectativa da colheita

 Mercado de arroz se concentra na expectativa da colheita

Colheita recém chega a 10% no Rio Grande do Sul e ocorre sob chuva em Santa Catarina

Varejo e indústria aguardam a colheita para irem às compras. Produtor, segura o que pode para manter preços.

Para alguns, a calmaria antes da tempestade, para outros queda de braço. O mercado brasileiro do arroz vive de expectativa para que o ronco dos motores das colheitadeiras eleve o volume nas lavouras do Rio Grande do Sul, estado responsável por mais de 70% da produção nacional. Com apenas 10% da safra colhida, o mercado vive de testes. Algumas indústrias e tradings têm testado o agricultor com preços inferiores a R$ 85,00, o varejo testa a indústria buscando fardo de arroz branco em torno de R$ 100,00 a R$ 105,00, mas o agricultor resiste a vender e, por consequência, a indústria pouco avança nas negociações do fardo.

O resultado está na queda substancial dos volumes de beneficiamento e saídas do arroz em casca do Rio Grande do Sul, que registra as piores médias mensais – e a pior sequência – em pelo menos uma década. Em fevereiro foram apenas 405 mil toneladas, contra 382 mil em janeiro. Somados, os dois meses representam um terço a menos do que o Rio Grande do Sul processou e exportou no primeiro bimestre do ano civil de 2020, ou seja, antes da pandemia.

É verdade que no momento, os estoques são muito baixos no Brasil e no Mercosul, e também não há grande interesse das indústrias – as grandes estão abastecidas até abril – e nem dos primeiros produtores a colher, que em geral são aqueles que estão bem estruturados e conseguiram as melhores médias de preços no ano passado, além de disporem de alternativas em seu portfólio de negócios como a soja e a pecuária, todos com ótima remuneração no momento.

Sem competitividade no mercado externo, cerca de 20 dólares por tonelada acima dos concorrentes, mesmo com a desvalorização acentuada do real nos últimos dias, as tradings se movimentam, mas pagando R$ 85,00 a R$ 87,00 no porto, para atender a alguns pedidos. Venezuela – que tem comprado mais dos EUA -, Cuba e Costa Rica (esta, para o casca) são alguns dos mercados que têm negociado com o Brasil. A Europa também tem se mostrado mais ávida por arroz do Mercosul, mas em pequenos lotes (duas a três mil toneladas) e dando maior preferência para o Paraguai e o Uruguai, países que têm o mesmo padrão de arroz agulhinha.

Os produtores estão mais concentrados, no momento, em suas colheitas e o tratamento final contra fungos e insetos. A colheita pra valer pega pressão após o dia 20 de março. E está bem atrasada em relação ao ano passado. Em Santa Catarina também há atraso e dificuldades com a alta umidade e acamamento por causa do excesso de chuva nos últimos 20 dias. Muitos dias nublados também têm aumentado a preocupação dos arrozeiros com as doenças e há muitas queixas de grãos falhados.

COTAÇÕES

No Rio Grande do Sul, a média das cotações no mercado livre é de R$ 85,00 a R$ 86,00 em boa parte das regiões produtoras, com as indústrias de maior porte forçando para baixo e as de menor porte que estão obrigadas a comprar, assimilando os preços impostos pelos produtores. Há uma disputa em andamento. As indústrias também estão se vendo obrigadas a pagar R$ 90,00 ou mais por grão da safra “velha” com mais de 60% de inteiros. Variedades nobres podem chegar a R$ 94,00.

O indicador de preços do arroz em casca (50kg, 58×10) à vista no Rio Grande do Sul marcou R$ 84,69 de preço médio na sexta-feira, dia 5 de março, estável (+0,02%) em relação ao fechamento da quinta-feira, 4 de março. Boa parte dos agentes aguarda a intensificação da colheita para tentar negociar maiores lotes do cereal no Rio Grande do Sul – nesta sexta-feira, 5, especificamente, foram captadas negociações pontuais de variedades mais nobres de arroz. Acumula queda de 2,57% ao longo do mês de março.

Isso quer dizer que em uma semana, a retração de preços médios do arroz no Rio Grande do Sul equivale a mais do que a queda percentualmente acumulada ao longo de todo o mês de fevereiro, que ficou em 2,53%. A redução já foi maior, pois as cotações chegaram a descer até R$ 84,45 na quarta-feira, dia 3 de março, ou R$ 1,00 apenas naquele dia, sendo referenciadas, pelo câmbio no dia, a US$ 14,68. Na sexta-feira, mesmo com valorização do dólar, alcançou US$ 14,87.

Em Santa Catarina as referências caíram desde a última quarta-feira, com algumas indústrias que ofertavam até R$ 93,00 voltando para os R$ 90,00 à vista e R$ 91,00 (até 40 dias), de referência. Mas, isso é no Sul do estado. No Norte, R$ 85,00 é a referência, embora as indústrias busquem direcionar os valores para R$ 80,00. O maior número de indústrias no Sul, que disputam mais a matéria-prima, inclusive no Rio Grande do Sul, estabelece estes patamares mais altos. A capacidade instalada também é pelo menos 50% maior do que a produção regional, o que força a importação – internacional ou interestadual – para garantir o abastecimento de seus engenhos e clientes.

PREÇO AO CONSUMIDOR

Em que pese o varejo operar da mão pra boca (acompanhando o ritmo da indústria, face à baixa disponibilidade de grão novo e estoques) e tentar forçar uma queda no valor das reposições de seus estoques, não há alteração significativa nos preços praticados ao consumidor. Em algumas das sete capitais pesquisadas por Planeta Arroz, o valor de gôndola até subiu, em média, embora tenham aparecido ofertas (raras) mais pontuais até abaixo de R$ 16,00 por pacote de cinco quilos de arroz branco, polido, Tipo 1. Em média o valor deste produto está acima de R$ 26,00. O mínimo, referencial, que vinha na casa de R$ 17,90 em capitais como Rio de Janeiro e São Paulo, elevou-se acima dos R$ 18,00.

Percebe-se, por parte dos atacadistas e varejistas, o claro objetivo de aguardar o pico da colheita gaúcha em busca de preços mais baixos para estabelecerem posição de compra. Entre os compradores de grandes redes, há o consenso de que as cotações devem ficar mais próximas de R$ 70,00 do que dos R$ 80,00 em abril/maio. Talvez falte “combinar com os russos”, que neste momento estão preparando ou operando suas máquinas nas lavouras. A esperança é que as CPR´s e produtores menos capitalizados entrem gerando uma sobreoferta no mercado.

Falta, também, combinar com as tradings, que a R$ 75,00 livre se fortalecerão no mercado externo que está aquecido, mas passa ao largo do Brasil por causa das cotações. A disputa, portanto, tem novos personagens. Em vários idiomas.

2 Comentários

  • Agora eu queria saber aonde tá o governo pra fiscalizar os mercados quando tava subindo ele soube trazer arroz de fora agora que a pandemia se intensificou os mercados deitam e rolam encima de nós e ainda somos visto como vilão pelas pessoas pena que só agente que é agricultor que procura saber notícias do arroz já estamos 30% preço abaixo do pico teve o arroz com adubo a 3mil óleo diesel a 4,30 na safra que vem insumos dobrando de preço aí vamos como vamos plantar ano que vem

  • Pela análise bem embasada de Cleiton Evandro, indústria e varejo apostando forte que os CPRs comprometidos com as grandes indústrias financiadoras, darão o piso de preço (baixo) estipulados pelos senhores feudais, industriais e varejistas, impondo o preço que lhes é conveniente.
    Aguardemos pois, novos tempos estão chegando, mudanças e justiça para quem produz!!!

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