Mercado do arroz está sujeito a tempestades
(Por Cleiton Evandro, AgroDados/Planeta Arroz) As inundações históricas que afetaram de forma implacável as lavouras de arroz da Região Central gaúcha e, em menores proporções, nos vales, região metropolitana e costas da Lagoa dos Patos, trouxeram uma série de outras “tempestades” ao mercado de arroz, a começar pelo anúncio do governo federal de que promoverá a compra de até um milhão de toneladas de arroz branco, Tipo 1, em pacotes de 2 quilos, para distribuir de forma subsidiada a pequenos varejistas com comercialização tabelada em R$ 4,00 para comunidades carentes da periferia das grandes cidades do Sudeste, Norte e Nordeste brasileiros. A medida seguiu-se de grande debate, num momento em que, além das perdas, toda a logística das indústrias de arroz do Sul do Brasil está afetada pelas inundações que destruíram estradas e pontes e inviabilizam os acessos às lavouras silos das propriedades.
Populista ou não, acertada ou não, o que será avaliado apenas no futuro, a medida trouxe reações. A cadeia produtiva do arroz do Sul do Brasil, e aí somam-se os catarinenses, entende desnecessária e inoportuna a medida do governo. Não pela medida em si, mas também pela tradição histórica do governo federal bagunçar completamente o mercado e trazer prejuízos á cadeia produtiva cada vez que intervém no sistema de livre comércio. O mercado se regula e, apesar da redução na oferta, somente o fluxo normal de compras do Mercosul e a menor disponibilidade de produtos e preços competitivos para exportar, entende-se que os valores de comercialização se adequariam. Em meio às enchentes, por exemplo, havia pacotes de cinco quilos de arroz branco, Tipo 1, sendo comercializado nos supermercados gaúchos por R$ 20,99, ou seja apenas 25 centavos por quilo acima do que o governo propõe com sua intervenção e sem que fosse preciso investir nenhum centavo em subsídios.
O temor da cadeia produtiva é de que o governo, de novo, erre a mão, e autorize importações sem limites a ponto não só de comprometer a próxima safra, mas também estabelecendo uma internação de produto que infle os estoques domésticos e afete as cotações por muitas temporadas, como já ocorreu no início da década passada. Naquele momento, o governo federal precisou subsidiar o transporte para exportação do arroz gaúcho como forma de “esterilizar” os danos de um estoque de passagem que beirava três milhões de toneladas.
Gato escaldado, tem medo de água fria.
O primeiro leilão, anunciado para esta terça-feira, foi adiado a pedido da cadeia produtiva. A proposta da indústria de retirada da TEC, como forma de viabilizar a importação de arroz, principalmente tailandês, neste primeiro semestre e, possivelmente, norte-americano no segundo semestre, sem intervenção direta do governo, foi assimilada. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, foi acessível aos apelos do setor. A indústria também alegou que não seria viável, dado aos prazos estabelecidos, atender ao edital de compra de 104 mil toneladas. Somente para encomendar embalagens, após vencer a proposta do leilão, precisariam esperar até 45 dias. Também solicitaram alteração da data de compra, pois assim poderiam ser aproveitados para o remate de aquisições para o plano social, os dois barcos recentemente adquiridos na Tailândia.
Adiado o leilão, ainda em data a ser definida, o governo federal anunciou o corte de 10,8% na Tarifa Externa Comum (TEC) para importações de arroz beneficiado e de 9% para compras do arroz em casca fora do Mercosul até 31 de dezembro. Resta-nos esperar para ver se esta ação, beneficiando parcela da população carente, não será uma bala de prata para eliminar mais arrozeiros desta atividade e retirar ainda mais renda do setor, afetando profundamente a segurança alimentar do país.
Enquanto isso, internamente os preços ganharam força e já alcançam o topo dos valores da pandemia.