Mercado internacional: a bolha estourou?

 Mercado internacional: a bolha estourou?

Autoria: Camilo Oliveira | Gestor da Unidade de Negócio Grãos Arroz da Cooperativa dos Agricultores de Plantio Direto (Cooplantio).

2008 foi um ano sem precedentes recentes na história do arroz. No auge da euforia econômica, que de forma desmedida fez o mundo imaginar que o crescimento econômico não teria fim, o preço do arroz ganhou a estratosfera, ultrapassando a marca de 1.000 dólares/tonelada. Conjuntura de oferta e demanda ajustada, restrição às exportações e elementos especulativos trouxeram como consequência para o mercado orizícola uma expressiva valorização dos preços, oportunizando a entrada de novos players na comercialização internacional e promovendo um novo estímulo à produção do cereal.

Todavia, esta economia em franco crescimento sofreu em setembro do ano passado um severo revés, levando todos a observar atônitos a quebra de incontáveis instituições financeiras mundo afora. Foi o fim de um longo ciclo que parecia virtuoso da economia mundial, mas que de fato constituiu-se em uma grande falta de controle do sistema financeiro global e resultou em uma das maiores crises que o sistema capitalista já atravessou.

Para o Brasil foi o estímulo necessário para fazer o nosso arroz ganhar oceano. Passamos de um fornecedor de arroz partido (quebra-dos de arroz) para um importante exportador de arroz branco e parboilizado. No ano comercial 2008/2009 o país alcançou a marca de 789,8 mil toneladas (base casca) exportadas de arroz. O cereal produzido no Brasil, com origem principal no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, foi enviado a mais de 50 nações, que puderam apreciar a qualidade do arroz produzido no sul do país (tabela 1).

 

Tabela 1: comparativo das exportações de arroz do Brasil, por toneladas (base casca) e por destino, nos anos comerciais de 2005/2006 a 2008/2009

 

Além do aumento de 152% no volume comercializado, em comparação com o período anterior, as exportações em março de 2009 mantiveram-se aquecidas, com exportações superiores a 70 mil toneladas (base casca). Apesar dos bons números, os preços no mercado internacional permanecem em declínio, o que gera incertezas quanto à possibilidade de manutenção das vendas externas de arroz pelo Brasil, tão importantes para o equilíbrio da oferta e demanda.

Se no passado recente as restrições às exportações elevaram os preços mundiais, agora justamente o oposto parece determinar a retração das cotações. O maior volume de arroz comercializado por Vietnã e EUA neste primeiro trimestre de 2009 tem pressionado a Tailândia, maior exportador do cereal, a seguir a mesma política de declínio de preços praticado pelos dois países, resultando em cotações mundiais em queda. Outro aspecto importante a se considerar nesta equação é a possibilidade da retomada das exportações indianas de arroz não-basmati, que pode influir negativamente nas cotações internacionais, visto que o país possui qualidade inferior neste tipo de arroz em comparação aos demais exportadores e pratica preços geralmente abaixo dos demais países.

Em contrapartida há uma expectativa crescente de aumento do consumo mundial, fazendo com que as principais regiões compradoras de arroz brasileiro e dos demais países do Mercosul venham a importar volume maior de arroz, viabilizando a manutenção de vendas a terceiros mercados.

Mas afinal a bolha de preço verificada em 2008 estourou? O Centro de Agricultura e Desenvol-vimento Rural da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, tenta responder a esta pergunta. Segundo o modelo matemático adotado para análise e previsão de mercado, a produção mundial deve manter-se superior ao consumo por mais duas safras, gerando piora nos preços internacionais, que deverão estabilizar na faixa dos 400 dólares/tonelada. Após esse período os estoques podem novamente decrescer e por conseguinte elevar as cotações de arroz a patamares superiores a 500 dólares/tonelada (figura 1). Mesmo neste cenário o mercado orizícola demonstra ter alcançado um novo equilíbrio de preços, passando de uma média de 200 dólares/tonelada nos primeiros anos de 2000 para valores duas vezes superiores.



Figura 1: projeção de preços (US$/t) e de estoques sobre o consumo (%) de 1998/1999 a 2018/2019

Mesmo com o fim da bolha o Brasil parece possuir elementos que permitem consolidar sua posição de exportador no mercado mundial. Crescentes produtividades aliadas à melhoria da qualidade de produto, indústrias com boa tecnologia e logística em aprimoramento garantem ao arroz projetar-se como mais um produto constante da pauta de exportações do bem-sucedido agronegócio nacional. O resultado prático disto é a possibilidade dos produtores manterem os avanços em tecnologia sem sofrer dema-siadamente com pressão de oferta, visto que a incorporação de novos clientes derivados das exportações permite uma mudança saudável na dinâmica do mercado, acenando assim com preços mais justos para toda a cadeia produtiva do arroz.

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