Mercado se mantém com forte demanda, escassez de oferta e foco nas importações

 Mercado se mantém com forte demanda, escassez de oferta e foco nas importações

Preços devem se manter firmes até a próxima colheita, exceto sob grande pressão de compras externas

Após mais um mês de bons resultados na balança comercial, a tendência é de que o Brasil passe a importar maior volume de arroz. Preços são firmes e governo é pressionado para suspender a TEC.

Depois de acumularem valorização de mais de 38% no mês de agosto, segundo o indicador de preços Esalq-Senar/RS, os preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul – e nos demais estados – seguem firmes, graças a uma conjuntura de forte demanda e escassez de oferta, que reflete também o cenário mundial, e o fator cambial.

A baixa disponibilidade no Mercosul e nos Estados Unidos – ao menos até o final de outubro – também colaboram para o cenário. Os preços médios para todas as classes e padrões, no mercado gaúcho, também se aproximaram bastante. O mercado livre pratica em média preços de R$ 110,00 para variedades “comuns” e até R$ 130,00 para nobres, mas com a maioria dos negócios reportados a R$ 110,00.

Acima de R$ 110,00 a indústria já está optando por buscar fora do Brasil, pois os valores praticamente se equivalem e há o entendimento de que há pouco arroz no país. Apenas um dos navios adquiridos nos EUA, que chega entre 15 e 20 de outubro, teve preço equivalente a R$ 116,00 por saca, posto em São Paulo, com TEC. Sem a taxa, cairia para R$ 105,00, razão pela qual indústria, varejo, atacado e tradings seguem pressionando o governo federal pela retirada da tarifa que incide sobre o arroz comprado fora do Mercosul.

Os consumidores também ampliaram a pressão sobre o governo federal pelas redes sociais e até mesmo com contatos com o presidente da República. No final de semana, fontes do Ministério da Economia revelaram que a alta dos preços da cesta básica preocupa o governo, em especial num momento em que os valores do auxílio social devem ser reduzidos pela metade para milhões de chefes de família.

A firmeza das cotações é acompanhada pelos demais estados produtores. Em Santa Catarina, mesmo no norte do Estado, os preços já alcançaram R$ 100,00 para efetivar compra, mesmo que algumas empresas atuem com tabela referencial em R$ 90,00. A lógica do produtor catarinense é a de que se as empresas locais pagam R$ 110,00 a R$ 120,00 pelo arroz gaúcho, também podem pagar pela matéria-prima local.

No Mato Grosso a saca de 60 quilos, arroz acima de 55% de inteiros – referência AN Cambará – é de R$ 130,00 no Nortão. O produto chega às indústrias de Várzea Grande, na região metropolitana de Cuiabá, entre R$ 135,00 e R$ 140,00, considerando o frete. No Tocantins também os preços bateram em R$ 130,00 por saca de 60 quilos (55% acima) em Lagoa da Confusão e arredores.

TEC

Nesta semana, novas investidas da indústria e do varejo ao governo federal acontecerão no sentido de pedirem a suspensão da Tarifa Externa Comum (TEC) de 12% sobre o arroz beneficiado e de 10% sobre o casca para importações de países extrabloco. A indústria arrozeira de Minas Gerais tem reuniões em vários ministérios, acompanhada de deputados federais, para fortalecer o pleito. A rede varejista também aguarda um posicionamento dos ministérios da Economia e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O debate sobre o tema, anunciado com exclusividade por Planeta Arroz há três semanas, segue na pauta do governo.

PREÇOS AO CONSUMIDOR

Os últimos dias foram marcados pelas queixas do consumidor chegando à imprensa e ao governo. Até mesmo o presidente da República, Jair Bolsonaro, foi cobrado por seus eleitores em um evento no interior de São Paulo e, depois, em frente ao Palácio do Planalto, quando disse que iria falar com os supermercadistas para pedir que sejam mais patriotas. No entanto, os supermercados divulgaram nota informando uma posição pela redução das tarifas de importação e defesa do livre mercado, recomendado em uma política econômica liberal.

O tema deve evoluir esta semana. Na grande imprensa, voltou-se a dizer que o governo já tem posicionamento pela suspensão da TEC, faltando definir quando e para quantas toneladas e para quais os produtos.

Enquanto isso, as cotações médias do pacote de cinco quilos, do Tipo 1, do arroz branco nos supermercados brasileiros subiram novamente e alcançam média superior a R$ 26,00 em quase todo o país, mais de 100% acima do que era praticado há um ano, praticamente, com algumas marcas anunciadas por até R$ 43,00. Entre os arrozeiros é mantido a posição de que a alta nas cotações apenas representam a recomposição de perdas e defasagem dos últimos anos, em que muitas safras deram prejuízo.

No entanto, o indicador de preços medido pelo Cepea, agrega a informação de que com a recomposição da inflação dos últimos 15 anos, as cotações da matéria prima deveriam estar pouco acima dos R$ 73,00. Com algum ganho real, os preços chegariam a R$ 80,00 e não aos R$ 110,00 ou R$ 120,00 atuais.

Porém, é importante frisar que os custos de produção da lavoura arrozeira subiram muito acima da inflação média. E que há outros fatores de mercado incidindo para esta valorização, e não apenas a “vontade” do rizicultor. Se dependesse de “vontade”, o arroz jamais teria desvalorizado nos níveis históricos, como houve nas últimas duas décadas.

SAFRA

Pouco mais de 2% da área gaúcha de arroz está semeada, ou seja, perto de 20 mil hectares. O clima tem sido o principal desafio, nesta temporada, para a “semeadura de inverno”. A expectativa de La Niña, confirmando-se no Pacífico, traz esperança de chuvas localizadas e boa colheita. Em geral, ano de La Niña representa boas safras no Sul do Brasil.

A diferença, na atual temporada, é que muitas barragens chegam ao final do inverno com baixa recomposição nos níveis de água. Muitos produtores vão plantar contando com as chuvas de primavera, que com La Niña são mais comuns do que num ano neutro como na temporada passada.

Enquanto o arroz em casca segue com preços firmes, bem como o arroz beneficiado ao longo da cadeia produtiva, há valorização no farelo, que chegou a R$ 820,00 por tonelada, dirigido a ração animal, principalmente. Já os quebrados de arroz mostram relativa estabilidade, com o canjicão cotado a R$ 95,00 e a quirera a R$ 85,00, em média, no RS.

EXPORTAÇÃO

Ao exportar 213 mil toneladas e importar 61,9 mil, mais uma vez o Brasil conseguiu ampliar seu saldo na balança comercial do grão em agosto, somando mais 151,1 mil toneladas. Com isso, o Brasil já exportou, de março a agosto, o equivalente a 1,312 milhão de toneladas contra menos de 500 mil toneladas importadas e saldo aproximado de 820 mil t. Com mais seis meses faltando para encerrar o ano comercial (em fevereiro de 2021) a expectativa é de que o Brasil alcance perto de 1,8 milhões de toneladas.

A tendência só não é maior porque o país ainda está embarcando produto com preços travados em dólar e negociado entre março e junho. Não são previstas novas cargas de arroz em casca a partir de setembro, há expectativa de queda nos embarques do beneficiado e apenas os quebrados de arroz podem ter alguma movimentação.

Estão confirmadas compras, para chegar em outubro, dos Estados Unidos e da Ásia.

Enquanto não houver uma decisão do governo federal sobre a TEC, os preços se manterão firmes no mercado brasileiro. Mesmo com uma eventual suspensão da tarifa, se para até 300 mil toneladas de compras, não se prevê grande oscilação nos preços internos, uma vez que ofertas mais fortes só devem ocorrer na próxima safra, ou seja, ao final de janeiro de 2021.

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