Mercosul: acordo com UE será negociado em 2013

Ao sair da reunião na semana passada, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, deixou claro que havia interesse nas discussões, desde que os europeus não vissem a América do Sul como um depósito para suas mercadorias excedentes.

Os países do Mercosul irão apresentar, no início do ano que vem, uma proposta para abrir negociações com a União Europeia sobre um acordo comercial. A ideia foi aprovada na reunião do bloco em Brasília. A intenção dos presidentes é que já haja algo para ser discutido na próxima Cúpula, em Montevidéu, em julho de 2013. Abandonada desde 2006, a ideia de um acordo comercial foi retomada nos últimos meses por pressão dos europeus.

A possibilidade de um acordo ainda é remota e não deve se concretizar em um futuro próximo, mas os sul-americanos estão dispostos a abrir as conversas, o que parecia difícil há alguns meses. Há seis anos, quando as discussões foram abandonadas, eram os europeus que relutavam em fazer concessões. Agora, em meio a uma enorme crise econômica, é a União Europeia que tem pressionado pela retomada das discussões. O assunto, no entanto, enfrentou enormes resistências dentro do governo brasileiro.

Apesar da pressão do Itamaraty para que pelo menos se iniciassem novas discussões, os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) não apoiavam a ideia de mais um tratado comercial. A decisão de abrir a discussão veio da presidente Dilma Rousseff. Sempre interessada em ampliar mercados para os produtos brasileiros, a presidente determinou que se estudassem as possibilidades. Uma pesquisa feita pelo MDIC mostrou que 88% dos setores da economia brasileira consultados querem que o Brasil abra negociações com os europeus, o que reforçou a ideia de levar isso para o Mercosul. A abertura de uma negociação foi um dos principais temas do café da manhã entre os chanceleres, no dia 06/12, e a decisão de ir adiante foi apoiada por todos os presidentes, no encontro do dia seguinte.

O Uruguai, que assumiu a presidência pro tempore do bloco, definiu que a preparação da proposta para a UE será seu principal objetivo até julho do ano que vem. O projeto de um acordo com os europeus começou a ser discutido há 12 anos, mas foi praticamente abandonado em 2006. A resistência maior, na época, era dos europeus, que freavam o debate em torno dos produtos agrícolas.

Agora, o acordo foi defendido pelo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso; pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron; e por representantes de outros países do continente como Portugal, Espanha, Suécia e até mesmo a França, que há alguns meses não admitia nem mesmo conversar sobre o tema. Neste momento, a Europa vê o Mercosul como um enorme mercado consumidor onde a crise parece não chegar com tanta força. Apesar da decisão de apresentar uma proposta e abrir as negociações, o Mercosul ainda vê com cautela a possibilidade de um acordo. Para os sul-americanos é preciso ver o que os europeus pretendem oferecer e, principalmente, recomeçar as negociações internas para ver quais são as áreas sensíveis e que produtos poderiam ser prejudicados pela abertura dos mercados.

Em 12 anos, a situação local de produção, especialmente industrial, mudou consideravelmente. Ao sair da reunião na semana passada, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, deixou claro que havia interesse nas discussões, desde que os europeus não vissem a América do Sul como um depósito para suas mercadorias excedentes.

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