Mesmo em queda, preços do arroz ainda superam os de um ano atrás

 Mesmo em queda, preços do arroz ainda superam os de um ano atrás

(Por Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados/Planeta Arroz)  Acumulando queda de 12,58% no mês, o Indicador de Preços do Arroz no Rio Grande do Sul, Esalq/Senar-RS manteve sua trajetória descendente na última semana, encerrando o período cotando a saca de 50 quilos, em casca (58×10) a R$ 69,37, ou US$ 14,01. O valor, em reais, é quase 7% maior do que aquele praticado há um ano, quando junho de 2020 fechou o mês com média de R$ 64,67, mas em torno de US$ 13,00. Portanto, também em moeda norte-americana, os valores atuais seguem mais altos.

No entanto, pode não durar muito este cenário e as cotações nacionais tendem a retomar os indicativos de maio de 2020. A tendência é de mais quedas nos preços em reais e, como o câmbio é cada vez mais desfavorável, a relação oferta e demanda é alta e o consumo estrangeiro e brasileiro registra baixa, só obteremos um piso quando tivermos reais possibilidades de exportar volumes significativos.

Atualmente, para concorrer “lá fora”, o arroz brasileiro teria que chegar ao porto entre R$ 68,00 e R$ 69,00 – ou menos. Na semana passada, uma trading entrou no mercado propondo estes valores, mas não obteve adesão para formar um barco. Outra trading conseguiu consolidar um lote a embarcar em julho por média de R$ 71,00 a R$ 72,00 por saca, posta no porto, mês em negócio muito específico, que envolveu poucos produtores da Zona Sul.

A movimentação durou apenas um dia e, juntamente com a demanda maior de indústrias de fora do mercado gaúcho, levou os produtores a recuarem a espera de preços mais convidativos. A opção foi buscar financiamento da comercialização no sistema bancário e aguardar novas oportunidades.

Quem apostou nos R$ 100,00 não leu o cenário. Não havia parâmetro para uma recuperação diante de uma realidade de ótima safra no Sul, baixa demanda nacional e internacional, e dólar em queda.
Mantida a trajetória de declínio nas cotações brasileiras no decorrer da semana, algumas novidades movimentaram o mercado: maior demanda das indústrias do centro do país, em especial São Paulo e Minas Gerais, mas com pouco volume de negócios realmente concretizados.

Se o desafio brasileiro no momento é estabelecer um piso de preços e isso só acontece mediante um volume mais significativo de negócios com outros países, a atual semana deixa claro que demanda internacional existe, mas por uma questão de competitividade o Brasil ainda está fora do jogo. Estados Unidos e o Mercosul estão mais dentro do mercado. Tanto que o Uruguai confirmou mais 60 mil toneladas negociadas com o Iraque.

Persistindo a tendência de desvalorização do dólar, diante do Real, o indicativo é de uma demanda concentrada abaixo dos R$ 70,00. Ainda assim, as tradings encontram resistência entre os produtores para obter matéria prima a estes valores. São estas as referências para o mercado atualmente.

EUA

As atenções regionais, agora, estão voltadas para a divulgação da área semeada nos Estados Unidos pelo USDA, na próxima quarta-feira. Inicialmente o departamento previa retração de 11% na área semeada, a cadeia produtiva apostava em 15% e, em função das cheias e do frio na emergência, estão esperando uma produção ainda inferior a este volume. Uma baixa produção norte-americana pode impulsionar as vendas do Mercosul no final do segundo semestre e no pico de entre safras, o que seria importante para elevar as cotações nacionais.

O prognóstico de área e de custos para a próxima temporada arrozeira também são importantes. A elevação do desembolso do produtor, a um nível superior à média dos preços históricos de venda, é um tiro no pé.

Ainda preocupa o segmento de exportação a elevação dos fretes marítimos, em especial os de longa distância. Atualmente, o frete mais longo do Brasil para arroz em casca é o México.
Além disso o Brasil está registrando uma retração mais séria na movimentação de contêineres para venda de arroz branco ao exterior, em especial ao Peru.

As indústrias se ressentem da falta de valores competitivos no frete e na disponibilidade de contêineres e isso inviabilizou vários negócios. Como o aumento do frete é para todos, o futuro pode indicar algum equilíbrio. E é nisso que os agentes de mercado se agarram.

2 Comentários

  • A leitura é interessante! É pena que o Sr. Cleiton não está levando em consideração um fator! Os produtores estão revoltados e ameaçam não vender seu produto e não plantarem arroz na próxima safra já que os custos vão bater na casa dos R$ 85 e a incerteza se os preços cubriram os custos na safra 2021/2022… Vai faltar arroz logo ali! Todos sabem…

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