Método adotado por arrozeiro reduz em 30% uso de fertilizante
(Por Diego Rosinha) Um método de plantio que há mais de uma década é rotina em uma propriedade em Nova Santa Rita (RS) ganha mais relevância no contexto de escassez mundial de fertilizantes provocada pela guerra da Rússia – maior exportador do insumo. A técnica aprimorada pelo arrozeiro João Hanus, na Granja Nenê, utiliza o sistema pré-germinado e reduz em 30% a necessidade de fertilizante químico.
Com o chamado choque de oferta causado pelo conflito no Leste Europeu, o custo dos fertilizantes disparou. O preço do potássio triplicou em um ano, entre o verão de 2021 e o de 2022, quando as tropas russas invadiram a vizinha Ucrânia. Antes da guerra, no final de fevereiro, 1 de cada 5 toneladas de fertilizantes importados pelo Brasil vinha da Rússia. Essa proporção mostra a importância de reduzir a dependência brasileira do item estratégico para a produção de alimentos.
A crise global também preocupa Hanus, mas ele imagina o quanto ele seria ainda mais afetado se não tivesse adotado os manejos especiais. Os métodos que ele emprega dão mais trabalho, mas valem a pena, como ele explica. “Depois de cada colheita, aproveitamos a palha do arroz na própria lavoura, com uso do roço a faca e de enxadas rotativas, para a incorporar no solo esse material orgânico”, explica. “O material, num prazo de 60 dias, entra em decomposição, transformando os restos da palha em adubo orgânico, que melhora a qualidade do solo.”
Não por acaso o governo federal lançou, em 11 de março, o Plano Nacional de Fertilizantes. Composta por 80 metas e 120 ações estratégicas, a medida pretende reduzir a dependência do Brasil com relação aos fertilizantes importados usados na agricultura. Atualmente, o Brasil importa 85% dos fertilizantes consumidos no país. A meta é reduzir essa dependência para cerca de 50% em um prazo de 28 anos (até 2050).
Mesmo antes da guerra, os fertilizantes representavam uma parcela considerável nos cursos de produção de uma lavoura média de arroz (17%), conforme estudo da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Por isso, é significativa a economia obtida pelo agricultor do município da Grande Porto Alegre. “Sem falar que o manejo é mais sustentável”, observa Hanus, cuja forma de produção também é reconhecida como uma boa prática de uso da água, com 44% menos uso do líquido pela forma como é estruturada a plantação, em quadros que se assemelham a piscinas rasas feitas para reter a chuva.
Na plantação de Hanus, o baixo uso de insumos químicos não representa perda de produtividade. Pelo contrário, ele chega a atingir 12 mil quilos por hectare, o que é um terço a mais do que a produtividade média no Rio Grande do Sul em ano de boa safra. O segredo é utilizar o sistema pré-germinado combinado com práticas que aproveitam ao máximo o que a própria lavoura oferece.
Sobre a Granja Nenê
Localizada em Nova Santa Rita (RS), a cerca de 30 quilômetros de Porto Alegre, a Granja Nenê é uma fazenda centenária, uma das precursoras do plantio de arroz no Rio Grande do Sul. Na última década, consolidou, com a lavoura de João Hanus, um plantio pelo sistema pré-germinado que chega a produzir 12 mil quilos por hectare, um terço a mais do que a produtividade média no Estado responsável por sete em cada 10 quilos de arroz que abastecem a mesa dos brasileiros.