Ministro japonês renuncia depois de dizer que ‘nunca precisou comprar arroz’
(Por Globo Rural) O ministro da Agricultura do Japão, Taku Eto, renunciou nesta quarta-feira (21) após causar indignação ao afirmar que “nunca precisou comprar arroz” porque recebia o produto como presente de apoiadores. A declaração, feita durante um seminário do Partido Liberal Democrata, gerou forte reação em meio à disparada nos preços do arroz, alimento básico da dieta japonesa.
A fala de Eto foi considerada por muitos como desconectada da realidade, especialmente em um momento em que os consumidores enfrentam inflação persistente. De acordo com dados oficiais, o preço do arroz subiu 92% em relação ao ano anterior até março, o maior avanço anual desde 1971, apontam agências internacionais.
Apesar da queda no consumo per capita nas últimas décadas, o arroz segue como alimento essencial para as famílias japonesas e elemento central da cultura e da segurança alimentar do país.
Em pronunciamento a jornalistas após a entrega da carta de renúncia, Eto reconheceu a inadequação de seu comentário: “Fiz uma declaração extremamente inadequada em um momento em que os consumidores estão enfrentando a disparada dos preços do arroz”. Ele afirmou que pretendia se referir ao arroz integral e que, na verdade, compra arroz branco regularmente.
A saída do ministro ocorre poucos meses antes das eleições nacionais, em um momento delicado para o governo minoritário do primeiro-ministro Shigeru Ishiba, que havia declarado apoio à permanência de Eto no cargo até a véspera da renúncia. A oposição, no entanto, pressionava por sua saída e cogitava apresentar uma moção de censura.
Para o lugar de Eto, Ishiba nomeou Shinjiro Koizumi, ex-ministro do Meio Ambiente e defensor de reformas no setor agrícola. Em suas primeiras declarações, Koizumi afirmou que sua prioridade será estabilizar a oferta e os preços do arroz: “Fui instruído a colocar o arroz acima de tudo.”
Crise
A crise no abastecimento começou em agosto do ano passado, quando uma corrida às compras foi desencadeada por alertas sobre a necessidade de preparo para um terremoto de grandes proporções. Embora a situação tenha melhorado após a colheita do outono, a escassez e os aumentos de preços voltaram no início de 2025.
Autoridades atribuem a alta de preços a más colheitas causadas por clima quente em 2023 e ao aumento nos custos de fertilizantes e outros insumos. No entanto, especialistas apontam falhas na política de produção de arroz de longo prazo e uma cadeia de distribuição complexa e pouco transparente desde o fim do controle governamental em 1995.
Embora o governo tenha liberado toneladas de arroz de estoques de emergência, a medida teve impacto limitado. Alguns supermercados passaram a oferecer arroz importado a preços mais baixos, enquanto consumidores relatam dificuldade em encontrar o produto no mercado.
Koizumi prometeu rever a política agrícola com foco no consumidor e não apenas nas organizações agrícolas, consideradas influentes na formulação das regras atuais. Já o primeiro-ministro Ishiba afirmou que a situação pode refletir um problema estrutural, e não apenas conjuntural, exigindo reformas profundas.