Moçambique Artista usa técnica de farelos de arroz para crítica social

 Moçambique Artista usa técnica de farelos de arroz para crítica social

Artista Jonasse aproveita resíduos do arroz em sua arte

A procura de identidade e traços próprios levou Beto Jonasse, 34 anos, a inovar uma técnica nas artes plásticas na Beira, Sofala, centro de Moçambique, com base em farelo de arroz, para se inspirar e expressar críticas sociais..

O farelo de arroz é a coisa mais desperdiçada na Beira. Então com papelão, cola de madeira e uma dose de criatividade, surgiu a técnica que aplico nas artes, agora com muito foco em objetos de adorno para consolidar, declarou à Lusa Beto Jonasse.

O papelão recolhe das portas das lojas, o farelo de arroz nas várias moagens do seu bairro e a serradura em carpintarias, e faz a reciclagem do material, basicamente considerado lixo, o que forma um casamento perfeito da arte com o meio ambiente.

Com a técnica, o artista produziu molduras para fotografias, vasos, candeeiros, além de quadros, tendo o primeiro, comprado pelo Governo Provincial de Sofala, sido oferecido ao Presidente da República, Armando Guebuza, na sua visita à Beira em junho passado.

Devido às temperaturas húmidas da região tropical, o artista passa ainda as obras por um forno e depois unta-as com tinta de óleo, para endurecer os objetos e quadros.

"Tenho a arte em mim e sou artista, apenas tenho explorado o meu forte para me afirmar", afirma Jonasse, na cadeira do seu ?atelier’ na Munhava (Beira), um populoso bairro da segunda maior cidade de Moçambique.

Antigo operador de fios nas Telecomunicações de Moçambique, resume sua infância como tendo sido passada longe das galerias e bibliotecas, e na família, foi "o único rebento com paixão de artista", salientou o homem que arquitetou a sua própria guitarra, que sola nos intervalos das artes.

"A nossa arquitetura urbana não permite que muitas crianças e jovens tenham acesso a galerias, e beber das artes", considera o artista, que justifica a instalação do ?atelier’ na periferia para influenciar jovens e crianças da zona a ter o mesmo gosto.

"Tenho agora as bases mergulhadas na arte, mas ainda busco respostas para me consagrar", adianta Beto Jonasse, que se manifesta indiferente ao mercado das artes, preferindo afirmar-se "pela criação".

Contudo, defende que "ninguém aprende a arte, porque já vem de dentro, apenas o artista se vai aperfeiçoar", sustentando que vários talentos são perdidos por falta de espaços.

Nascido a 19 de outubro, a data da morte do primeiro Presidente de Moçambique, Samora Machel, Beto Jonasse diz que a coincidência valeu-lhe em 2013 a primeira exposição – basicamente abstrata com tinta plástica em telas -na galeria da casa de cultura provincial, a convite do Governo de Sofala.

O artista prepara para breve uma segunda exposição em Maputo, que servirá também para lançar a nova técnica, mas com os olhos postos no sonho de uma mostra além-fronteiras.

Nas suas obras o artista tem mensagens filosóficas e críticas sobre aspetos sociais e políticos de Moçambique, mas também de preservação da Paz e meio ambiente.

"Almejo fazer intercâmbios com outros artistas, mas sobretudo poder expor noutras galerias fora do país e revolucionar a minha experiência, exigência e exclusividade nas artes", concluiu.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter