Motivos para contestar

 Motivos para contestar

O consultor de mercados e diretor da Federarroz, Marco Aurélio Marques Tavares, afirma que há muitos motivos para contestar os dados da Conab. A começar pelo fato dos dois Órgãos governamentais, Conab e IBGE, apresentarem números conflitantes. "Há, nessas informações, um evidente risco à comercialização num raro momento histórico em que ela é rentável aos produtores", diz Tavares.

Segundo ele, o setor não acredita que trata-se de uma estratégia premeditada para interferir forçando a geração de um viés de baixa nos patamares de preço que o mercado operou em abril. "Preferimos acreditar em falha no método de pesquisa, pois a diferença de quase 300 mil toneladas é muito grande", afirma Tavares.

Outra questão considerada "misteriosa" pela cadeia produtiva gaúcha é o fato do estoque de passagem brasileiro ter aumentado na entressafra. "Os números praticamente dobraram de dezembro a abril, quando todos sabiam que não havia mais estoques disponíveis no Brasil e um saco de arroz chegou a valer R$ 50,00 exatamente por falta do produto", assegura.

De 502 mil toneladas na virada do ano, os estoques finais indicados pela Conab saltaram, em abril, para 1,030 milhão de toneladas. "Só nesse fator há uma diferença de 528 mil toneladas que ninguém sabe com clareza de onde a Conab tirou", afirma o presidente da Federarroz, Artur Albuquerque. O setor produtivo, segundo ele, não concorda com essas mudanças que, diante do cenário de comercialização dos últimos meses, não se justificam. Segundo os dados da Conab, a área plantada com arroz em todo o Brasil na temporada 2003/2004 foi estimada em 3,616 milhões de hectares, um avanço de 13,5% frente à área semeada na safra 2002/2003, de 3,186 milhões de hectares.

Ainda assim, a cadeia produtiva do arroz do Rio Grande do Sul apresenta alguns sintomas de não estar falando a mesma língua. No início deste mês, o presidente da Abrarroz e da Federarroz, Artur Albuquerque, divulgou na internet uma nota oficial contestando os números da Conab e informando que a safra nacional ficaria entre 11,5 milhões de toneladas e 12 milhões de toneladas. Dias antes, em nome da cadeia produtiva, membros da diretoria da Federarroz informaram que a safra ficaria entre 12 milhões de toneladas e 12,2 milhões de toneladas.

O analista de mercados da Safras & Mercado, Aldo Lobo, afirma que os números da Conab estão acima da expectativa do mercado, e aponta números mais próximos da expectativa dos produtores gaúchos. Desde o início do ano, Safras & Mercado trabalha com uma projeção de safra de 11,776 milhões de toneladas. Na reta final da colheita, esses números foram revistos para cima, apontando 11,995 milhões de toneladas. As maiores diferenças estariam no exagero dos números do Mato Grosso e do Rio Grande do Sul.

Fique de olho
Há um acordo de cavalheiros entre a cadeia produtiva gaúcha com o Uruguai para manter o piso mínimo de venda de R$ 33,00 o saco de 50 quilos em casca na comercialização para o mercado brasileiro. O mecanismo, até o momento, está obtendo êxito, bem como o cenário internacional não oferece respaldo à importação de produto da América do Norte ou Ásia, pelo alto custo dos fretes e também os patamares que vêm operando.

Falou e disse
"A ordem é manter o mercado abastecido, mas evitar o excesso de oferta como forma de assegurar a rentabilidade da lavoura arrozeira. Não há supersafra, o que existe é o aumento no patamar produtivo porque o clima nos favoreceu e houve um esforço sobre-humano dos lavoureiros e do Irga pela aplicação de mais tecnologia nas lavouras".

Pery Sperotto Coelho, presidente do Irga 

 

Arroz do Mercosul foi subestimado

Para os arrozeiros gaúchos, outro dado surpreendente. É o fato da Conab subestimar a importação de arroz do Mercosul, calculado pela companhia em 300 mil toneladas. "O setor, que mantém-se em permanente contato e desenvolve ações conjuntas com os produtores uruguaios e argentinos, sabe que entrarão cerca de um milhão de toneladas de produto do Mercosul no mercado brasileiro, volumes considerados adequados para manter os preços estabilizados, e a Conab tira da cartola 300 mil toneladas e aumenta a produção interna de forma surpreendente. É muito intrigante", destaca o produtor rural e conselheiro do Irga Juarez Petry. Ele lembra que a Conab normalmente ajusta seus números, geralmente para menos, em julho, quando o mercado já poderia ter sofrido interferência negativa por uma divulgação de safra superestimada. "No Rio Grande do Sul, o anúncio de supersafra sempre veio com a certeza de que o mercado pagaria menos do que o custo de produção para o arrozeiro. Agora, não aceitamos mais essas distorções e estamos acompanhando tudo o que acontece na lavoura para impedir novos prejuízos, seja por informações ou por ações políticas equivocadas", garantiu.

 

Mato Grosso reafirma perdas de 20%

A previsão da Conab de uma supersafra no Mato Grosso, segundo maior produtor de arroz do Brasil, pegou de surpresa o presidente da Associação dos Produtores de Arroz daquele estado, Angelo Maronezzi. A safra de 12,869 milhões de toneladas foi anunciada no mesmo dia em que Maronezzi anunciava que a safra mato-grossense de arroz chegava aos 90% apresentando perdas de 20%.

Segundo Maronezzi, na melhor das hipóteses o Mato Grosso irá colher 1,5 milhão de toneladas. As perdas, afirma, foram causadas pelo excesso de chuvas neste verão. Para ele, a Conab superestimou a previsão inicial de colheita do Mato Grosso, que era de 1,850 milhão de toneladas, ao prever 1.869.900 toneladas. A APA-MT trabalha com uma área plantada de 580 mil hectares no Mato Grosso, enquanto a Conab identificou 644,8 mil hectares, 45% a mais que o ano passado. "No Mato Grosso, vamos ficar provavelmente abaixo de 2,9 mil quilos/hectare graças à qualidade das cultivares. Poderia ser pior", afirma. 

 

Conab afirma que há isenção nos dados

Diante da polêmica sobre os números da safra de arroz no Brasil que foram divulgados pela Conab, economista afirmou que os dados são isentos e traduzem a realidade da produção auferida pelos pesquisadores da companhia. O economista da Conab, Paulo Morcelli, que participou da conferência dos dados da safra de arroz, garantiu que os números divulgados no quarto levantamento da safra brasileira da Conab, estimando uma produção de 12,869 milhões de toneladas pela lavoura orizícola para a safra 2003/ 2004, traduzem a realidade do setor.

Segundo ele, o trabalho foi desenvolvido com rigorosa metodologia científica, enquanto os números defendidos por entidades de produtores, normalmente, são estimados sem este referencial tecnológico. Morcelli afirmou que há isenção na divulgação da pesquisa pela Conab, que não tem nenhum interesse direto nas questões comerciais e de mercado das cadeias produtivas. Segundo ele, a companhia tem apenas o dever de informar as estatísticas, sem qualquer comprometimento setorial.

Para Morcelli, a contestação de alguns setores aos dados da Conab não é uma novidade e ocorre porque há muitos interesses envolvidos na questão. Segundo ele, é compreensível que os produtores preferissem a divulgação de uma safra menor para ter uma oferta mais ajustada e obter melhores preços pelo seu produto. "Mas o nosso compromisso é com a verdade, e os números a que chegamos são estes", acrescentou. Morcelli acompanhou pessoalmente o levantamento de dados da colheita em Santa Catarina, onde houve danos provocados pelo ciclone Catarina, e garantiu que os prejuízos não foram tão significativos porque boa parte da lavoura já estava colhida.

Segundo os dados da Conab, a área plantada com arroz em todo o Brasil na temporada 2003/2004 foi estimada em 3,616 milhões de hectares, um avanço de 13,5% frente à área semeada na safra 2002/2003, de 3,186 milhões de hectares.

O texto polêmico da Conab 

Avaliação da safra agrícola 2003/2004

Os dados levantados em campo indicaram que serão produzidas 12.869.900 toneladas de arroz em casca, sendo 24,1% maior que a safra anterior e 10,6% maior que a safra até então considerada recorde (1998/1999, quando foram colhidas 11.582.200 toneladas).

A área plantada foi calculada em 3.616.400 hectares, que comparada com a safra 1991/1992, teve uma redução correspondendo a 22,18%. A explicação para este fato está na produtividade, pois na presente safra a estimativa indica que a lavoura terá produtividade de 3.559 quilos por hectare, enquanto que na safra 1990/1991 era de 2.362 quilos por hectare, ou seja, um ganho de 50,7% no período.

Rio Grande do Sul

Analisando particularmente os principais estados produtores, vê-se que o Rio Grande do Sul confirma sua posição de maior produtor brasileiro, sendo que é esperada a colheita de 6.235.200 toneladas, recorde absoluto, com crescimento da ordem de 32,8% em relação à safra passada e 11,24%, em relação ao recorde anterior ocorrido na safra 1998/1999, quando foram produzidas 5.605.200 toneladas. A área passou de 960.200 hectares para 1.039.200, ou seja, ganho de 8,2%, enquanto que a produtividade cresceu 22,7%.

Mato Grosso

O estado do Mato Grosso confirma sua posição de segundo maior produtor nacional com o total de 1.869.900 toneladas, sendo que esta produção só é menor que a ocorrida em 1999/2000, quando foram colhidas 1.890.800 toneladas. A área utilizada com esta cultura foi de 644,8 mil hectares, aumento de 45,0% em relação à safra passada, mas 13,2% menor que a área plantada em 1998/1999. A produtividade desta safra foi mantida igual à da safra anterior.

Santa Catarina

No final do mês de março, o estado de Santa Catarina foi submetido à ação de um ciclone, afetando especialmente a região sul do estado, onde se localiza boa extensão de terras com arroz. A produtividade até então vinha se mantendo na ordem de 7.195 quilos por hectare. Havia, ainda, a indicação de aumento da área, da ordem de 6,5%. Entretanto, com os efeitos do ciclone que afetou de forma diferenciada as regiões atingidas, provocando perdas alarmantes, com redução nas áreas que ainda estavam por colher. Assim, o estado deve colher 1.067.700 toneladas, sendo 2,3% maior que a safra passada, tendo sido incorporado 6,5% em área, mas com redução da produtividade em 3,9%.

Quadro de suprimentos

Com estes números da safra foram feitos os novos ajustes no quadro de suprimento brasileiro. O consumo foi mantido em 12,6 milhões de toneladas, o que significa que nesta safra haverá um superávit da ordem de 211,9 mil toneladas. Como o mercado internacional mostra-se interessante, pois pelo terceiro ano consecutivo o consumo será maior que a produção, e tendo em vista a boa produção brasileira, este é o momento ideal para que o Brasil aumente o volume de arroz exportado. Desde o ano de 2000, o país tem participado desse mercado com exportações na casa das 20 mil toneladas anuais e, para este ano, poderia chegar a 100 mil toneladas. Em termos de importação, estima-se que não passará das 300 mil toneladas, todas vindas dos parceiros do Mercosul. Com esses números, o estoque de passagem deverá resultar em 1.442.400 toneladas, 40,0% superior ao da safra passada.

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