Móveis de arroz

 Móveis de arroz

Pesquisa feita na Ufrgs
cria material com
casca de arroz para a
construção de móveis.

 A doutora em design de produtos ELIANA PAULA CALEGARI, 34 anos, criou um material a partir da casca de arroz, chamado tecnicamente de compósito polimérico, que poderá substituir a madeira e materiais similares na produção de móveis e ajudar a encontrar uma solução de reaproveitamento para o resíduo gerado na indústria arrozeira. A pesquisa foi desenvolvida nos últimos quatro anos no programa de pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) com o eixo em desenvolver um novo material sustentável e aproveitar matéria-prima natural e/ou resíduos de risco potencial ao meio ambiente.

A escolha se deu em razão da abundância, em especial no Rio Grande do Sul, maior produtor de arroz do Brasil. Estudos mostram que a casca representa 20% do peso do grão. Como o estado colheu mais de 7 milhões de toneladas em 2019, potencialmente há perto de 1,5 milhão de toneladas de casca gerada. Além do mais, é um insumo barato. “Trata-se de um resíduo com risco de ser descartado no meio ambiente sem tratamento adequado. O descarte a céu aberto, por queima ou dentro de rios vai gerar poluição. A casca possui sílica na sua composição, então demora muito para decompor-se”, afirma.

A designer destaca que embora o resíduo seja reutilizado na agropecuária como cama de animais e na geração de energia por meio da queima, a presença no meio ambiente ainda pode ser excessiva, razão para buscar novos aproveitamentos desta matéria-prima. No mestrado em design, a pesquisadora procurou entender as possíveis utilizações de materiais biodegradáveis e onde poderiam ser aplicados e identificar o nível das pesquisas nessa área.

Após descobrir as potencialidades de materiais naturais, ela pretendia desenvolver no doutorado um produto totalmente biodegradável, o que não foi possível porque não detinha conhecimentos aprofundados de química ou engenharia de materiais. Desta maneira, com a orientação da professora Branca Freitas de Oliveira, ela acabou desenvolvendo um produto formado 80% por casca de arroz e 20% por poliéster, resina derivada do petróleo. Testes de resistência no compósito mostram que o material assemelha-se ao MDF e algumas madeiras.

Além da resistência, também foi observado o fator estético, uma vez que a ideia era aplicá-lo em móveis. Para isso, a pesquisadora criou três materiais diferentes com a casca de arroz: um utilizando a casca inteira, outro utilizando-a totalmente moída e no terceiro os dois tipos foram misturados. O que usa a casca moída alcançou maior semelhança com madeira e melhores resultados de tração e impacto. “Os atributos estéticos, como a textura e a cor, também são muito parecidos”, afirma. O produto foi exposto ao clima por seis meses e praticamente não alterou sua composição, o que sugere a possibilidade de uso em móveis de jardim.

FIQUE DE OLHO

De acordo com Eliana Paula Calegari, o produto ainda está em fase de pesquisa e precisaria de novos estudos para ser comercializado visando a produção de móveis. “Como foi desenvolvido em laboratório e em quantidades reduzidas, seria necessário ampliar as pesquisas e testes para aplicar na indústria”, explica. Formada na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ela atualmente trabalha como professora no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Rondônia (Ifro). Sua formação e a pesquisa foram possíveis por meio de bolsas.

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