MT: Lucas do Rio Verde pode não liderar safra

Produtores reclamam da falta de crédito e aumento das exigências dos financiadores. Falta de rentabilidade do arroz e do milho e condições climáticas ajudam para que tudo permaneça indefinido para a próxima safra.

Setembro sempre foi um mês de muita expectativa para os sojicultores da região de Lucas do Rio Verde (360 quilômetros ao Médio Norte de Cuiabá). Acostumados à posição de poleposition da nova safra brasileira de grãos, as duas primeiras semanas do mês eram de aguardo pelas chuvas. As águas eram o start para o início dos trabalhos de semeadura.

– Não estamos preocupados com o título nesta safra e sim com a renda. Plantio em grandes proporções somente após a estabilização das precipitações – avisa o produtor Ronaldo Cesário.

A indefinição do plantio na região, que pelo menos nos três últimos anos vinha ocorrendo após o dia 15 de setembro, é o melhor termômetro para se avaliar o comportamento geral dos sojicultores mato-grossenses.

Cesário explica que, além dos insumos básicos como sementes, adubos e fertilizantes, “compras que não estão ocorrendo como deveriam para esta véspera de nova safra”, falta dinheiro para aquisição de óleo diesel, “matéria-prima” para ser pôr o maquinário em campo e dar início à safra.

– Nos postos o que se consegue é um prazo de 10 dias no cheque. Não há como pagar em tão curto espaço de tempo. Quem tem milho e arroz em estoque vai continuar guardando, pois não há preço para se comercializar o produto. E como se não bastasse toda esta conjunção, até as chuvas estão escassas na região. Até agora, somente precipitações localizadas e que acumulam somente 20 milímetros – desabafa.

Lucas possui cerca de 220 mil hectares (ha) de área plantada, entre variedades de soja super-precoce, precoce e de ciclo mais tardio. O plantio de setembro era dominado por super-precoce, mas este ano a variedade, que chegou a ocupar até 30% da área plantada, não deverá chegar a 5%.

– Pouca gente está pronta para semear agora. E sabemos que plantar sem chuva suficiente é sempre um risco e ninguém pode corrê-lo neste momento. Outro atrativo que levava ao plantio mais cedo era uma supervalorização da saca em janeiro em função da entressafra, mas desde o ano passado não conseguimos preços diferenciados – justifica.

A equação da superprecoce era o momento em que, com colheita ainda em janeiro, colocava-se no mercado soja nova em plena entressafra. Colhendo antes do período das chuvas em excesso, livra-se também da incidência da ferrugem asiática.

CRÍTICAS

O produtor reclama que as medidas anunciadas pela União, recursos para renegociação de dívidas junto aos agentes privados – R$ 3 bilhões do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) – e a prorrogação das dívidas de custeio da safra passada, “são impraticáveis e para inglês ver”.

– Até agora as renegociações com as revendas saíram das mãos e da busca do próprio produtor e não pelos recursos do FAT. A prorrogação é engessada, pois o governo exige parte da safra passada como garantia. Se eu tivesse estoque de soja, por exemplo, pra que eu ia pedir o adiamento do pagamento de custeio? A verdade é que não há dinheiro e que a economia na aplicação de adubos será a opção para plantar – completa.

Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Homero Pereira, “a exigência de produto da safra passada engessa a tomada de crédito. Muitos deverão ficar sem acesso aos recursos da nova safra”.

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