MT: terras, desvalorização chega a 33% no Estado

s extensões que sofreram a maior desvalorização em território mato-grossense, segundo levantamento da AgraFNP, foram as áreas de cerrado em Brasnorte (noroeste) e Nova Maringá (médio norte), onde os preços do hectare despencaram de R$ 1,2 mil para R$ 800, na região de Tangará da Serra, com 33,3% de desvalorização.

Depois de alcançar níveis recordes em 2006 e 2007, após o estopim da crise no campo em 2006, o preço da terra destinada à agricultura, em Mato Grosso, voltou a registrar declínio no segundo bimestre de 2009 (março/abril). As extensões que sofreram a maior desvalorização em território mato-grossense, segundo levantamento da AgraFNP, foram as áreas de cerrado em Brasnorte (noroeste) e Nova Maringá (médio norte), onde os preços do hectare despencaram de R$ 1,2 mil para R$ 800, na região de Tangará da Serra, com 33,3% de desvalorização.

A análise do comportamento de preços indica que as terras mais baratas encontram-se na região de Aripuanã (1.002 ao norte de Cuiabá), onde um hectare de mata de difícil acesso vale R$ 150. Na região de Vila Rica (oeste), o hectare de terra de pastagem nativa em várzea está cotado a R$ 300 e, em São José do Xingu e Confresa, R$ 360, ambos ao nordeste da Capital.

A pressão decorre da saída generalizada de compradores do mercado e reflete, sobretudo, nos imóveis rurais voltados à produção de agroenergia. “Houve pouquíssimos negócios nos últimos meses, o que significa que uma crise de liquidez já se instalou também neste mercado”, afirma Jacqueline Bierhals, analista de Mercado de Terras e gerente de Agroenergia da AgraFNP.

A estagnação dos preços – e do mercado – neste momento, mostra também a apreensão do investidor (mesmo os mais capitalizados) em realizar aquisições de terras, investimento de baixa liquidez.

ESTRANGEIROS

– Mato Grosso já vinha, há algum tempo, apresentando problemas de liquidez por conta das dívidas dos produtores. O que vemos no momento é a entrada de empresas estrangeiras no Estado comprando ou arrendando terras – diz, citando o exemplo das argentinas El Tejar e Los Grobo, que fortaleceu a sua presença em Mato Grosso em 2007 e 2008.

A analista lembra que nos últimos meses os investimentos praticamente se estagnaram.

– Os poucos negócios que ainda acontecem estão localizados nos estados do Maranhão, Tocantins e Piauí, onde as terras são relativamente mais baratas em relação à região Centro-Oeste.

Para ela, as terras destinadas à produção de grãos continuam com preços elevados. Isso ocorre porque a maioria dessas áreas é indexada em sacas de soja. No entanto, Jacqueline lembra que os problemas climáticos em algumas regiões produtoras impuseram viés de baixa aos preços das terras.

– Com as quebras de safras de verão e inverno em algumas regiões, a rentabilidade do produtor ficou prejudicada, e isso deve restringir fortemente os investimentos em terras em 2009 – prevê.

Jacqueline afirma que com a expansão da crise, o investidor estrangeiro está dando preferência por regiões de melhor logística e preços de terra mais baratos. Por isso, segundo ela, Mato Grosso está deixando de ser atrativo para este tipo de negócio.

– Temos pontualmente produtores que estão em situação melhor, sem dívidas. Porém, até mesmo esses poucos produtores estão cautelosos. Já ouvi falar de produtores de Mato Grosso que estão comprando terras em outras regiões onde não há tantas restrições ambientais.

A tendência, na avaliação de Jacqueline, é o produtor – em caso de ampliação da produção – reincorporar as terras já abertas ao processo produtivo, ao invés de abrir novas áreas, devido à sua baixa capacidade de investimentos.

Diante deste cenário, a analista vê 2009 sem perspectivas de valorização e um número muito pequeno de negócios.

– Como os preços das terras são atrelados à saca da soja, que hoje estão com boa cotação no mercado internacional, os preços da terra em Mato Grosso continuarão firmes, porém sem liquidez.

Commodities sustentam os preços

O preço da terra no Brasil permaneceu estável no segundo bimestre do ano, sustentado em parte pela recuperação das commodities agrícolas no mercado internacional. De acordo com levantamento da AgraFNP, o preço médio das terras no país ficou em R$ 4.393/hectare em março-abril, ante R$ 4.373/hectare em janeiro-fevereiro.

Em doze meses, a valorização média das terras no Brasil foi de 2,5% em termos nominais – no bimestre maio-junho de 2008, o preço era de R$ 4.287/hectare. No entanto, o aumento não se traduziu em ganho patrimonial. Com inflação anual de 4,73%, as terras perderam em média 2,2% de seu valor.

Já na comparação com a média de 36 meses atrás – R$ 3.074/hectare, em maio-junho de 2006 –, o preço médio das terras no Brasil subiu 42,9% em termos nominais. Descontada a inflação acumulada no período, de 21,31%, o ganho real anualizado foi de 6,7% em média.

Segundo Jacqueline Bierhals, analista de Mercado de Terras da AgraFNP, a atenção desses investidores está voltada principalmente para terras em regiões mais baratas, que exigem aporte inicial menor e oferecem maior potencial de valorização.

Embora o impacto da crise internacional não tenha sido sentido tão intensamente nos preços médios de terras no Brasil, o mesmo não ocorre com as terras destinadas a reflorestamento. Grande parte das empresas ligadas à produção de celulose/papel e consumo de carvão vegetal (siderúrgicas) paralisaram suas aquisições de terras.

Nos últimos doze meses, os preços da região Sul apresentaram a maior valorização média – alta de 5,9% entre maio-junho de 2008 e março-abril de 2009. Na seqüência, a região Nordeste apresentou alta de 4,5%. Centro-Oeste e Sudeste tiveram valorizações inexpressivas de 0,9%, e 0,5%, respectivamente. Por outro lado, a região Norte teve desvalorização de 1,8% em média. Com exceção da região Sul, todas as regiões tiveram valorizações médias menores que a inflação no período (4,73%).

Rondonópolis tem terras mais caras

O levantamento da AgraFNP indica que as terras mais caras do Estado localizam-se na região de Rondonópolis – sul mato-grossense -, onde o hectare de terra agrícola de soja/algodão, em Pedra Preta, por exemplo, vale R$ 10,50 mil. As lavouras de grãos são as principais responsáveis pelos preços mais elevados da terra na região. No circuito Itiquira/Rondonópolis, o hectare da terra agrícola custa R$ 8,5 mil.

Em Primavera do Leste (239 quilômetros ao sudoeste de Cuiabá), o hectare da terra agricultável de alta produtividade varia de R$ 7 mil a R$ 8,8 mil. Já o hectare de terra de pastagem formada de alto suporte, na região de Rondonóplis/Itiquira, vale R$ 4 mil.

Na região de Sinop (503 quilômetros ao norte de Cuiabá), as terras também têm uma boa valorização. Em Sorriso, Lucas do Rio Verde e Nova Mutum (norte), por exemplo, o hectare de terra agrícola para soja e algodão chega a custar R$ 7,4 mil. No eixo Sinop/Tapurah, o hectare de terra para as culturas de arroz e soja vale R$ 5,8 mil e, em Diamantino e Nova Ubiratã (também na porção norte), R$ 5 mil.

Outra região com boa valorização é Alto Araguaia, onde o hectare de terra agrícola em parte alta na divisa com Alto Garças custa R$ 7 mil e, no eixo Guiratinga/Tesouro, R$ 5 mil.

Na região de Tangará da Serra (médio norte e noroeste), as terras mais caras destinadas ao cultivo de soja e algodão, situam-se em Campo Novo dos Pareci (R$ 6,5 mil/ha) e nos eixos Sapezal/Campos de Júlio (R$ 6 mil/ha) e Tangará/Nova Olímpia, R$ 5 mil/ha. Na região de Cáceres (oeste), o hectare de terra agrícola para cana-de-açúcar, em Lambari D’Oeste, vale R$ 5 mil.

Outras regiões do Estado também se destacam com preços da terra agrícola situando-se na média de R$ 2 mil por hectare.

As áreas que mais se valorizaram em 12 meses em Mato Grosso, ainda de acordo com análise da AgraFNP, foram as de cerrado em Comodoro (oeste) e Pontes e Lacerda (oeste), com valorização de 76,5% – onde o preço do hectare saltou de R$ 850 para R$ 1,5 mil.

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