Mudança de estratégia

 Mudança de estratégia

Spies: preço mínimo e exportação

Agricultores catarinenses antecipam a semeadura
para escapar do calor intenso do verão

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Com 100% das lavouras de arroz semeadas até meados de novembro, o clima é de otimismo entre os produtores de Santa Catarina, principalmente em razão dos valores praticados no mercado, que estão acima dos preços mínimos. A produção estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para o estado pode alcançar 1,100 milhão de toneladas, de acordo com o primeiro levantamento da safra 2014/15, divulgado em outubro passado.

O engenheiro agrônomo da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Donato Lucietti, explica que o plantio do arroz começou mais cedo porque os rizicultores aproveitaram o clima favorável e anteciparam a semeadura na tentativa de escapar dos riscos provocados por temperaturas extremamente altas no verão. “O clima sempre pode surpreender. Na última safra ocorreram 17 dias de altíssimas temperaturas, que coincidiram com o período crítico da fase produtiva do arroz, gerando perdas. Então, o pessoal acredita que antecipando a semeadura pode fazer com que estes períodos não coincidam, mas isso pode acontecer, sim, ninguém pode garantir o contrário”, considera o pesquisador.

Esta mudança de estratégia já pode ser percebida com mais nitidez nos municípios de Nova Veneza, Forquilhinha e Meleiro, onde 1,5 mil produtores cultivam arroz e pelo menos 500 iniciaram o plantio antecipadamente para escapar das possíveis temperaturas extremas do verão. Com isso, quem antecipou o plantio deve começar a colheita já em janeiro. Nas regiões que fazem o cultivo da soca (ou rebrote), a prática poderá gerar maior produtividade.

Para o economista da Epagri/Cepa, Luiz Marcelino Vieira, a produção no estado deverá alcançar tranquilamente 1,1 milhão de toneladas. “Serão cultivados nesta safra 148.050 hectares, que devem alcançar produtividade média acima de 7 mil toneladas/hectare. Os preços não estão ruins, variando de R$ 33,00 a R$ 35,50. A comercialização, no entanto, é lenta e muitos produtores ainda aguardam um pico de alta no mercado para negociar o final dos estoques”, observa.

A SECO
De acordo com o pesquisador da estação experimental da Epagri de Itajaí, José Alberto Noldin, segue entre os produtores catarinenses a tendência de mudança no sistema de plantio do pré-germinado para a semeadura em solo seco, que na safra passada correspondeu a 15% da área plantada. “Ainda não levantamos os números para 2014/15, mas é possível que o sistema de semeadura em solo seco já esteja em torno de 20% a 25% da área cultivada. Isso vem ocorrendo principalmente na região sul do estado”, afirma.

Segundo ele, a grande novidade da empresa no campo da pesquisa é a variedade SCS121 CL, desenvolvida pela Epagri em parceria com a Basf para uso nos sistemas de cultivo mínimo e pré-germinado. “Trata-se de nossa primeira variedade de segunda geração, disponível nesta safra apenas para produtores de sementes. A SCS121 CL encontra-se atualmente em processo de multiplicação no campo e estará disponível aos agricultores na safra 2015/16”, garante.

GARANTIA DE PREÇO

O clima de otimismo entre os rizicultores catarinenses também se deve, em parte, aos preços praticados pelo mercado nacional e à estabilidade de produção. Muito pouco está ligado à decisão do governo federal em atender a principal demanda do setor produtivo do estado na última safra: a correção do preço mínimo do arroz, na política de garantia de preços mínimos, fixado pelo Conselho Monetário Nacional para a próxima safra. Na safra passada, Santa Catarina e Rio Grande do Sul tiveram preços mínimos de R$ 25,80 por saca de 50 quilos, valor que se manteve congelado por cinco safras, sendo que o custo de produção estimado é de R$ 32,00 por saca.

O secretário de Estado da Agricultura e da Pesca, Airton Spies, esteve reunido em Brasília com o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Neri Geller, em agosto deste ano para tratar da pauta. A resposta foi dada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que autorizou novos preços mínimos para a safra 2014/15. Com a decisão do CMN, o arroz longo fino em casca tipo 1 de 50 quilos terá o preço mínimo de garantia elevado para R$ 27,25 tanto no RS quanto em SC, reajuste de 5,62% (mas que ainda não cobre o custo de produção).

FIQUE DE OLHO
Uma preocupação do setor produtivo é que enquanto a produtividade das lavouras está aumentando devido ao uso de tecnologias, o consumo de arroz está estagnado em aproximadamente 37 quilos per capita no sul do Brasil. “O consumo não está crescendo na mesma proporção que a produção, o que gera uma pressão de oferta e pode causar dificuldades na comercialização do arroz”, pontua o secretário da Agricultura de Santa Catarina, Airton Spies. Para o secretário, a alternativa mais viável seria a adoção de mecanismos de auxílio à exportação. “Se o governo federal não utilizar medidas de escoamento do arroz para o mercado externo haverá um excesso de estoque no país, o que irá prejudicar também a comercialização de safras futuras”, acrescenta.

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