Mudanças estruturais na cadeia produtiva do arroz

O quadro começou a melhorar para os produtores gaúchos no segundo semestre de 2011, quando as cotações médias do saco de 50 quilos de arroz em casca deixaram para trás o piso de R$ 19,00 (valor nominal) registrado no segundo trimestre daquele ano, após uma trajetória de baixa iniciada em 2009.

Uma transformação estrutural está mudando para melhor a situação do segmento arrozeiro no Rio Grande do Sul, responsável por dois terços da produção brasileira do grão. Fatores como o aumento das exportações e uma distribuição mais equilibrada da oferta da matéria-prima ao longo do ano vêm garantindo boa rentabilidade aos agricultores, enquanto a indústria também trabalha sobre patamares mais firmes de preços, se profissionaliza e contribui para a estabilidade do mercado.

O quadro começou a melhorar para os produtores gaúchos no segundo semestre de 2011, quando as cotações médias do saco de 50 quilos de arroz em casca deixaram para trás o piso de R$ 19,00 (valor nominal) registrado no segundo trimestre daquele ano, após uma trajetória de baixa iniciada em 2009. Em agosto de 2012 os preços romperam a faixa dos R$ 30,00 por saco de 50 Kg, superaram os custos totais de produção (incluindo fixos e variáveis) e chegaram, no fim de abril, a R$ 35,92 por saco de 50 Kg, uma alta de 5,7% no mês.

Segundo o Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), apesar do avanço de 6,6% estimado pela Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) para a colheita nacional na safra 2013/2014, para 12,6 milhões de toneladas, as cotações se sustentam porque não há excesso de oferta. Em 2012, a média anual dos preços apurados pelo Cepea/Esalq alcançou R$ 31,44 por saco de 50 Kg, contra R$ 22,35 por saco de 50 Kg em 2011.

Já os custos de produção para a formação das safras em questão (2010/2011 e 2011/2012) aumentaram de R$ 28,55 por saco de 50 Kg para R$ 29,19 por saco de 50 Kg. Em 2013, segundo o Irga, a cotação média foi de R$ 33,88 por saco de 50 Kg, contra custo de R$ 31,40 por saco de 50 Kg, e no primeiro quadrimestre deste ano o preço médio atingiu R$ 35,28 por saco de 50 Kg, 8,7% acima do custo (R$ 32,45 por saco de 50 Kg).

E a situação tende a se manter favorável na próxima safra, na avaliação do consultor Carlos Cogo. Ele lembra que, de acordo com as projeções da Conab, o estoque do cereal no país será de quase 2 milhões de toneladas na passagem para a temporada 2014/2015, ante 1,7 milhão de toneladas na transição para 2013/2014, mas que, mesmo assim, trata-se de um patamar historicamente baixo.

Esses estoques, conforme Cogo, representam apenas 16% do consumo anual de 12 milhões de toneladas no Brasil, nível que desde 2007/2008 só é maior que os 14% da passagem para o ano-safra atual (2013/2014). Com isso, ele estima cotação média de R$ 36,67 por saco de 50 Kg neste ciclo e de R$ 38,50 por saco de 50 Kg em 2014/2015 no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina – que, juntos, respondem por 75% da produção brasileira. Os motivos para essa elevação contínua são claros. Em primeiro lugar, aparecem as exportações, porque oferecem uma alternativa importante para os produtores, enxugam o mercado e servem de parâmetro para os preços internos.

Considerando o ano civil, o Brasil é exportador líquido de arroz desde 2011, quando o superávit nas vendas externas chegou a 835,7 mil toneladas (base casca). Em 2012 o saldo caiu para 619,0 mil toneladas e em 2013, para 182,3 mil toneladas. No primeiro trimestre de 2014, porém, alcançou 128,5 mil toneladas, ante 9,6 mil toneladas no mesmo período do no passado. Entre março de 2014 a fevereiro de 2015, a Conab projeta superávit de 300 mil toneladas.

Conforme Cogo, todo o segmento se movimentou nos últimos anos para elevar exportações, incluindo agricultores, cooperativas, indústrias e tradings, além de agências governamentais como a Apex. O câmbio também ajudou as vendas externas e contribuiu para conter as importações, e em 2013 o governo do Estado ampliou de 3,5% para 7%, por tempo indeterminado, o crédito presumido de ICMS para as indústrias que beneficiam o arroz gaúcho.

Além disto, mais de 95% do arroz importado pelo Brasil (praticamente todo ele beneficiado) vem do Mercosul devido à Tarifa Externa Comum (TEC) de 12% sobre o produto originário de fora do bloco. Como no Uruguai o arroz está perdendo espaço para a soja e na Argentina os agricultores estão segurando a produção à espera da desvalorização do peso, a oferta também fica contida. A exceção é o Paraguai, que está aumentando as vendas para o Brasil.

Outro fator que ajuda os arrozeiros gaúchos é o crescente plantio de soja em sistema de rotação nas áreas de várzea. A oleaginosa ocupa as lavouras arrozeiras deixadas em repouso ou utilizadas para pastagem e gera uma renda extra com a qual os produtores podem fazer frente aos compromissos do primeiro semestre sem desovar rapidamente a safra de arroz e derrubar os preços. Os produtores de arroz estão se capitalizando com a soja.

O Irga calcula que na safra 2013/2014 já tenham sido plantados 302,6 mil hectares de soja na várzea, contra 270 mil hectares no ciclo anterior, e acredita que o Estado pode chegar a uma faixa entre 800 mil hectares e 1 milhão de hectares em dez anos. A própria indústria está mais enxuta, organizada e competitiva, o que favorece a estabilidade do mercado, segundo Carlos Cogo.

Segundo o Irga, empresas que lideram o ranking do segmento no Rio Grande do Sul, como Camil, Josapar, Pirahy, Urbano e SLC, vêm crescendo, investindo em logística, modernizando os parques fabris e ampliando sua participação no processamento da safra gaúcha. Em 2013, as dez maiores responderam por 47,6% das 6 milhões de toneladas beneficiadas no Estado, acima da fatia de 45,8% no ano anterior.

6 Comentários

  • Alguns erros da matéria na minha opinião… Primeiro: o preço caiu a R$ 16 em 2011 e não R$ 19 como tenta suavizar a matéria… Segundo: Quero que me provem que o estoque de passagem real é de 2 milhões de toneladas (estoques públicos + particulares + importações – exportações)… Se tivesse esse estoque não estariam importando arroz da Ásia já agora e o preço do arroz estaria estagnado.. Terceiro: o Custo hoje está entre R$ 38 a R$ 40 e, não R$ 32,45 – Gostaria que se apresentasse alguém aqui que tenha custo abaixo de R$ 32,50 e colha mais que 260 sacos por quadra… Quarto: Uruguay e Argentina estão reduzindo as suas áreas em função dos altos custos de produção e a colheita por lá foi um fracasso em função dos temporais, excesso de calor e chuvarada… GOSTARIA DE SABER PORQUE ESSAS “CONSULTORIAS -TENDÊNCIAS” NÃO SE MANIFESTAM COM RELAÇÃO AOS PREÇOS FUTUROS???… DE CORRETO MESMO A MATÉRIA MOSTRA BEM QUEM ESTÁ LUCRANDO COM O ARROZ E AMPLIANDO SUAS ESTRUTURAS… 5 empresas detendo 50% do mercado… No tempo que eu estudava economia na faculdade isso se chamava OLIGOPÓLIO…

  • Não adianta pular “pra cá ou pra lá”:

    a safra 2013/14 fica no entorno de 8.000.000 t, mais para baixo que p/cima

    com todo respeito aos técnicos, nossos aguadores e operadores de ceifa já sabiam disso há 60 dias

    e o “deus mercado” também sinalizou isso desde o início da colheita.

  • notei que a presidente Dilma tem tratado com cuidado os produtores de arroz, talvez por ter sua trajetória política e profissional quase toda no RS.
    A política governamental tem sido de dar estabilidade e rentabilidade ao setor, estratégico na medida em que o arroz é o principal alimento do brasileiro.

  • Eu notei que a presidente não fez absolutamente nada de diferente, segue entrando arroz do Mercosul sem fiscalização fito-sanitária e sem ser pesado, seguimos pagando os mais altos impostos do Mundo na cadeia da orizicultura, preço mínimo está estagnado em 25,80 a 5 anos e o custo de produção está mais de 35,00. Quem tem cuidado do produtor é o próprio produtor que não aumenta área e diversifica com soja agora.
    O que ela tentou fazer foi baixar os preços liberando os estoques do governo …
    Mudam as siglas mas os problemas seguem os mesmos…
    soja na várzea neles!!!!

  • Sr. Eduardo, isso que o sr. falou é o que o governo tenta fazer parecer pela mídia escrita e televisiva… mas a realidade é bem outra… Se não fosse a insistência dos produtores hoje faltaria arroz no país… 80% dos arrozeiros ainda estão muito endividados (tem gente que deve 1, 2, 3 safras inteiras e só não desistiu porque quer salvar as terras pelo menos que estão penhoradas nos bancos) … Menos de 50% tem acesso ao crédito oficial… e o custo vem subindo com a inflação galopante… Além disso, por dois anos tivemos uma séria frustração na safra que os órgãos governamentais insistem em maquiar ou não mostrar… Não é choro, é a mais pura realidade… Venha curtir o friozinho do inverno gaúcho e veja com seus próprios olhos e ouça com seus próprios ouvidos… Converse com o máximo de produtores que o sr. conseguir por aqui e verá que a realidade é bem diferente do que passam para vocês ai do Nordeste… Existe muito marketing, jogo político, maquiagem de dados e informações, lançado a esmo na opinião pública, que uma mentira ditas várias vezes acaba, por si só, se tornando uma verdade… Se o arroz estivesse valendo hoje R$ 45 / 50 eu até que concordaria em parte… mas com esse preço médio de R$ 35 agora (na colheita estava R$ 30) não vislumbro rentabilidade como estão berrando nos holofotes… Estamos com um Porto caótico, estradas péssimas, quase nada de investimento estatal em depósitos, sem seguro agrícola, descontrole nos preços de insumos (variação conforme o dólar) e importadores, energia elétrica (aumento 28,82%), perda de área para reserva legal, concorrência com o arroz importado, custos trabalhistas altíssimos, tributação excessiva (IRRF, PIS, Cofins, funrural, icms, etc) , desincentivo as exportações, leilões interventivos, etc.. Mas o governo acha que tá bem, que tá bom… Fazer o quê??? Assistir TV, Copa do Mundo, e acreditar que tudo está muito bem, que nosso país é perfeito, e que a agricultura vai muito bem obrigado… Isso é o que querem… Entre nós produtores talvez já haja um consenso: já que não querem ajudar, que também não atrapalhem… Só que sempre é culpa do “tumate”, batata, arroz e feijão… Esses são sempre os vilões da inflação… É fácil botar sempre a culpa em nós… Energia Elétrica (sobe 28,82%), mas isso o governo deixa, isso pode (um ano anunciam a redução e no seguinte nos tiram, é o mesmo que dar um pirulito para uma criança e depois tomar quando tá chupado pela metade)… Combustíveis… Tarifas… Aluguéis… Serviços… Juros… isso não conta quase nada no cálculo da inflação pelo governo… Porque eles tem medo que as multinacionais do setor saiam do país e dai a quebradeira será grande!!! Então seu Eduardo… lhe peço… não leve por desaforo as corretas e bem lançadas palavras do seu Diego Silva… elas refletem a mais pura realidade do que vivemos hoje… Claro que toda a regra tem suas exceções, mas estas representam bem menos que 5% da classe toda… um abraço!!!

  • É isto aí Diego Silva, tens razão, boa observação, quem cuida do produtor é o próprio produtor, peleamos por nos mesmos e pela família há décadas.

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