Muita água para rolar
El Niño deve prosseguir
até fevereiro nas estimativas dos centros
de meteorologia.
Os dois principais estados brasileiros em produção de arroz, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, responsáveis por quase 75% da safra nacional, deverão sofrer a influência do fenômeno climático El Niño até pelo menos fevereiro de 2016, com excesso de chuvas, enchentes, alagamentos e temporais. A Agência Espacial Norte Americana (Nasa) indica o fenômeno em atividade como o de mais forte intensidade já registrado. Nas demais regiões produtoras, como o Centro-Oeste do país, as chuvas devem ser mais regulares apesar das altas temperaturas, enquanto o Norte e o Nordeste enfrentarão seca e o Brasil Central terá tempo quente e com baixa umidade.
O fenômeno é caracterizado pelo aquecimento das águas superficiais e subsuperficiais do Oceano Pacífico Equatorial e uma inversão nas tendências normais do clima no mundo. No Brasil, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) informa que as variações climáticas registradas nos últimos meses, como agravamento da seca no Nordeste e fortes chuvas e tempestades de granizo no Sul, estão associadas ao El Niño mais intenso do que o normal. “Normalmente os efeitos começam em novembro, com pico em dezembro. Este ano começaram em maio”, diz o meteorologista Mamedes Melo, do Inmet.
Ele prevê que as chuvas fortes vão continuar na Região Sul até pelo menos fevereiro. No Rio Grande do Sul, por exemplo, mais de 200 municípios declararam prejuízos em dois episódios de temporais em outubro. No Centro-Oeste, as chuvas começaram regularmente a partir do início de novembro.
A maior ocorrência de chuvas na primavera e no verão vem causando danos. As lavouras gaúchas e catarinenses apresentaram perdas e necessidade de replantio de pelo menos 3 mil hectares, sem contar áreas alagadas, com perdas de insumos e solo e aumento dos custos de produção. Além das enxurradas e enchentes, há prejuízos também pela falta de radiação solar, insumo gratuito aos produtores e fundamental à cultura.
Com chuvas mais frequentes, restam poucos dias úteis para o preparo do solo e o plantio. “Em anos de El Niño a semeadura atrasa”, observa o consultor Valmir Gaedke Menezes.
Segundo ele, os rizicultores devem lembrar que o impacto não é mesmo para todas as lavouras e os danos tendem a ser maiores para quem tem menor capacidade de gestão e tecnologia.
Para os arrozeiros que semeiam soja em áreas de arroz é importante não semear terrenos baixos, com dificuldade de drenagem, melhorar a macrodrenagem da área e aumentar o número de drenos com envaletadeira. Além disso, antecipar o preparo do solo, semear cultivares menos suscetíveis ao estresse hídrico e cuidados especiais com pragas e doenças, principalmente a ferrugem asiática, são medidas recomendáveis. A semeadura em microcamalhões este ano pode fazer a diferença, não importa como eles sejam feitos. Para finalizar, Menezes ressalta a importância de seguro agrícola que cubra danos eventuais por estresses do ambiente.