Muita energia

 Muita energia

Magalhães Júnior: arroz gigante entra em produção

Embrapa lança a BRS AG, cultivar especial para
arroz que gera energia
e ração animal

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Em época que a cadeia produtiva do arroz busca novos mercados para manter o equilíbrio do mercado interno e a rentabilidade da cultura, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) está dando uma importante contribuição por meio de uma nova variedade lançada pela unidade de Clima Temperado de Capão do Leão (RS): a BRS AG, também conhecida por arroz gigante.

Lançada em agosto, no IX Congresso Brasileiro do Arroz Irrigado, em Pelotas (RS), a cultivar tem dimensões superiores às variedades convencionais, alcança produtividade média de 12 a 14 mil quilos por hectare e não é destinada ao uso culinário, mas para a produção de energia e rações e também pode ser utilizada na fabricação de cervejas. “O material não apresenta os atributos desejados pela indústria nacional quanto ao formato do grão (agulhinha) ou pela culinária, sendo denominado como desclassificado para consumo humano (DCH)”, destaca o pesquisador Ariano de Magalhães Júnior.

A variedade é uma resposta da Embrapa a uma demanda da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), que em 2011 percebeu o desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado nacional e queda brusca nos preços. “A entidade passou a buscar alternativas ao uso do arroz. Embora o foco principal seja a exportação, o aumento do consumo nacional e a destinação de parte da área disponível para semear variedades voltadas à produção de energia, combustíveis ou rações animais também fazem parte da estratégia”, revela o presidente da entidade, Henrique Dornelles.

Os pesquisadores da Embrapa Clima Temperado responderam que no seu banco de germoplasma havia cultivares com as características procuradas por produtores e empresários. “A resposta foi quase imediata”, destaca o chefe-geral da unidade, Clenio Pillon. Depois de quatro anos, um tempo muito curto em se tratando de desenvolvimento de uma variedade comercial, a BRS AG já está entrando em produção na próxima temporada.

A expectativa inicial é de em três anos alcançar 5 mil hectares cultivados. Mas, associada à meta de uma empresa que pretende instalar pequenas usinas de etanol com o arroz gigante como matéria-prima, a superfície poderá chegar a 120 mil hectares no futuro, correspondendo a 10% da área cultivada pelo Rio Grande do Sul e equivalente a quase 80% da área semeada com arroz em Santa Catarina.

A principal finalidade da cultivar é a produção de bioetanol. 1 tonelada do grão é capaz de gerar, em média, 430 litros de etanol – valor alto se comparado com o de outras culturas que dão origem ao produto, inclusive a cana-de-açúcar. De acordo com Ariano de Magalhães Júnior, o uso da variedade como matriz energética tem um potencial ainda maior se consideradas as condições do Rio Grande do Sul, pois é mais adaptada ao cultivo em terras baixas, ao contrário das demais culturas que podem dar origem ao bioetanol, cultivadas em terras altas. Não há notícias de outra experiência similar com arroz no mundo, o que torna a pesquisa da Embrapa pioneira e referencial.

“Além dos aspectos agronômicos, químicos e industriais, há o fator econômico e social. Trata-se de uma matéria-prima que será transformada preferencialmente em zonas de produção, ou seja, exigirá a instalação de usinas na chamada Metade Sul gaúcha, que é historicamente deficiente na geração de empregos e renda e tem no arroz um de seus alicerces”, explica Pillon.

Atualmente, 98% do consumo de etanol do Rio Grande do Sul é proveniente de outros estados, com custo médio de R$ 1 bilhão ao ano. Com uma produção de 1,5 a 2 milhões de toneladas anuais, o Rio Grande do Sul poderia produzir 50% do etanol que consome, sem o custo do frete de São Paulo, por exemplo, economizando mais de R$ 500 milhões.

FIQUE DE OLHO
A BRS AG atinge 52 gramas a cada mil grãos enquanto o convencional chega a 25 gramas. Também apresenta boa quantidade de amido, que, junto das cascas, é a principal matéria-prima para produzir etanol. A variedade ainda é resistente ao degrane e perde com facilidade o poder germinativo e seu vigor, o que viabiliza o cultivo de outras variedades em até cinco metros de distância da lavoura de arroz gigante.

Não há risco de infestação ou permanência de banco de sementes no solo, pois esta cultivar se degrada facilmente de uma safra para outra. Entretanto, não tem resistência a herbicida que controla o arroz vermelho, por isso recomenda-se que seja plantada em área anteriormente cultivada com soja ou que não tenha sido usada por tecnologia CL. Com produtividade de 12 toneladas por hectare, podem ser produzidos 5 mil litros de bioetanol por hectare. O ciclo da planta é de 126 dias. São plantados 200 quilos de semente por hectare.

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