Muito trabalho, pouca evolução

O trabalho dos órgãos de pesquisa de arroz em busca de objetivos como alta produtividade, resistência às doenças, pragas e fatores climáticos não evoluiu tanto quanto o necessário nas últimas décadas. O esforço, no entanto, não pode deixar de ser reconhecido. "A pesquisa não evoluiu por vários motivos", explica Marcelo Gravina de Moraes, PhD em Biologia Molecular Vegetal e Fitopatologia da UFRGS.

Entre estas causas, ele cita o tempo demasiado de pesquisa para chegar a uma nova variedade que acrescente qualidades extras às que já entraram em estágio comercial. Pelos métodos convencionais de cruzamento levamos até 12 anos para lançar uma cultivar. Pelos métodos desenvolvidos na biotecnologia estes processos aceleram a obtenção de um resultado e tornam mais objetivas as pesquisas. Assim, o prazo de 12 anos entre a criação de uma variedade e o seu lançamento comercial cai para cinco ou seis anos.

O melhoramento convencional só permite cruzamento com indivíduos de uma mesma espécie. Este é outro fator limitante da pesquisa nos últimos anos. Outro ponto negativo da pesquisa convencional é que genes não-desejáveis podem ser transferidos pelo cruzamento, gerando um resultado ineficaz.

Um exemplo desta última característica, segundo Marcelo Gravina de Moraes, é a cultivar BR Irga 409, muito usado nas lavouras gaúchas. Ele tem uma boa produtividade, na panela fica soltinho e é saboroso. No entanto, é altamente suscetível à brusone e à toxidez de ferro, fatores que podem acabar com a produtividade e gerar altíssimos prejuízos aos produtores em determinadas situações.

Pode X Não Pode 

A técnica genética

O que pode

Isolar e separar genes únicos
Transmitir genes de um organismo para outro
Duplicar trechos ou pedaços genéticos no tubo de ensaio
Alterar genes

O que não pode

Desenvolver genes inteiramente novos
Recriar seres, criar novos ou reviver os já inertes
Prever genes ruins ou que possam atuar no organismo

O tempo investido para desenvolver e registrar uma planta transgênica é alto. O trabalho para obter uma cultivar aprimorada disponível para comercialização toma em média 10 a 15 anos.
Variedades de Arroz Liberty Link (aprimoradas) foram aprovadas para livre cultivo nos EUA em 15 de abril de 1999. Aguarda-se somente a aprovação final do FDA para seu consumo e processamento tal como o arroz comum. Além do Brasil, esta tecnologia está sendo desenvolvida também na Argentina e no Uruguai.

O laboratório da UFRGS

A área de biotecnologia da UFRGS está trabalhando com muita aplicação na busca de variedades de arroz resistentes às doenças, insetos, frio e outras, exceto aos herbicidas. Marcelo Gravina de Moraes, do Departamento de Fitossanidade da UFRGS, explicou que o trabalho está mais voltado para a resistência ao frio, à brusone, à toxidez de ferro e ao controle de insetos.

Os projetos em andamento na Universidade Federal do Rio Grande do Sul estão em fases diferentes de evolução. A pesquisa, na área de laboratório, realiza a prospecção e isolamento dos genes. O Irga é responsável pela aplicação no campo da tecnologia obtida pelos especialistas da universidade.

1. Na busca de variedades com tolerância ao frio o trabalho é coordenado pela especialista Sandra Milach. A pesquisa trabalha com o uso de marcadores moleculares que auxiliem o processo de seleção de plantas com genes tolerantes. É biotecnologia, mas o resultado não será um produto transgênico.

2. O projeto de identificação de variedades resistentes à brusone, principal doença que atinge a lavoura de arroz brasileira, é coordenado pelo cientista Marcelo Gravina de Moraes. Este estudo também utiliza a prática de marcadores moleculares para identificação dos patógenos e genes de resistência à doença. Os marcadores são uma espécie de impressões digitais da planta que, uma vez identificadas, diagnosticam a doença.

3. Resistência à toxidez de ferro – Este problema ocorre principalmente na região da fronteira oeste. Os solos têm alto teor de ferro tóxico, o que limita a produtividade de cultivares populares, como o BR Irga 409, por exemplo. Há outras variedades tolerantes ao ferro, mas não chega a ser uma tolerância estável. A idéia é isolar o gene ou genes para as cultivares gaúchas. Uma das formas de implantação será pela introdução de marcadores moleculares ou pelo isolamento dos genes com tolerância. Estes genes serão transferidos, por método transgênico, na cultivar. Dois resultados são esperados: o primeiro é que os marcadores moleculares permitam a seleção das sementes de linhagens tolerantes ao ferro, o segundo é que seja possível isolar genes resistentes para serem transferidos às cultivares suscetíveis à toxidez de ferro, por método transgênico. Neste caso, seria transferido o gene de um arroz para outro, e não de outros organismos como bactérias. A UFRGS já dispõe de fragmentos para serem utilizados.

4. Resistência à bicheira-da-raiz – É a praga mais importante da cultura do arroz no RS. E não há inseticida que consiga um controle muito eficiente ou cultivares com resistência. A pesquisa já identificou genes resistentes a insetos de outras fontes. O trabalho desenvolvido pela cientista Lídia Fiuza e sua equipe, na UFRGS, busca transferir estes genes para cultivares de arroz tornando-as resistentes aos insetos. Este trabalho está em fase de isolamento do gene. Variedades resistentes a insetos já existem na soja, milho, girassol e algodão. Na Argentina existe o sistema, exceto para o arroz.

 

Transgênicos não são novidade

A transferência de genes em plantas, tema que ganhou notícia e transformou-se em uma grande polêmica em todo o mundo, não é novidade. No início do século, cientistas começaram a cruzar espécies para transferir genes. O problema, no entanto, é que no cruzamento se obtém um híbrido que não se cria em seu estágio natural. Esta técnica evoluiu com a cultura in vitro nos laboratórios, quando é possível garantir-lhes a evolução.

Até agora, entretanto, ninguém se preocupou com os problemas colaterais que isso poderia produzir. Setores da comunidade científica consideram que muitas alergias a alimentos, por exemplo, podem ser decorrentes da utilização de genes de variedades selvagens de alguns produtos que passaram pelo melhoramento genético. Existem exemplos como o trigo e o tomate.

A doutora em Genética e orientadora do curso de pós-graduação em Genética e Biologia Molecular da UFRGS, Maria Helena Bodanese Zanettini, afirma que as experiências com transgênicos que estão acontecendo agora, pela primeira vez na história da agricultura, estão se preocupando em ter cuidados muito especiais com segurança. "Este é um aspecto importante que deve ser observado. Hoje o controle sobre a pesquisa é rigoroso por interesse dos próprios pesquisadores e também pelas normas de biossegurança", explicou Maria Helena.

Culturas transgênicas 

Área de cultivo no planeta

Ano – Hectares (milhões)
1996 – 1,7
1997 – 11,0
1998 – 27,8

Os dados excluem a China, que mantém sigilo, mas tem grande área em pesquisa 

Fonte
: Clive James (1998)

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