Nem privatizado, nem público-privado. Irga é e continuará sendo autarquia
Chega de isolamento: Ivan Bonetti, presidente do Irga, garante que o Instituto vai pra dentro da Seapdr e a Secretaria da Agricultura irá para dentro do Irga em sua gestão.
A polidez e o jeito educado, de gestos comedidos, do engenheiro agrônomo Ivan Saraiva Bonetti, novo presidente do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) contrastam com a força de suas palavras e da determinação com que assumirá a autarquia. Nesta quinta-feira, Bonetti deu sua primeira e exclusiva entrevista depois de sua nomeado presidente, no Diário Oficial do Estado (DOE) desta segunda-feira, para Planeta Arroz e expôs algumas de suas ideias e suas missões à frente do organismo que padeceu de isolamento e sangria de recursos – técnicos, estruturais e de pessoal – nos últimos anos. Acompanhe a entrevista.
Planeta Arroz – Presidente, para muita gente do setor o senhor ainda não é conhecido, mas sabemos que tem um longo histórico de envolvimento e colaboração com o setor arrozeiro.
Ivan Bonetti – Sim, é verdade. Meu pai era arrozeiro em São Borja. Quando entrei para estudar Agronomia na UFSM, em Santa Maria, ele estava na atividade. Quando concluí, quatro anos depois, já havia quebrado na atividade. Até hoje a propriedade produz milho e soja, mas nossa família aprendeu, e sentiu na pele, os efeitos da descapitalização e da instabilidade e insegurança comercial e de preços e custos do arroz. O arroz está entranhado na história da minha família e da minha vida. Conhecemos o lado bom e o lado ruim de ser produtor e atuar no setor.
Planeta Arroz – Depois disso o senhor entrou na política e teve muito contato com o setor…
Ivan Bonetti – É verdade. Trabalhei 11 anos como assessor do então deputado, hoje senador, Luis Carlos Heinze. Como sou engenheiro agrônomo, sempre fui encarregado dos debates técnicos e o gabinete do Heinze, como sabemos, sempre foi uma extensão da lavoura de arroz e da agropecuária gaúcha. Participei bastante de demandas, projetos, levantamentos e estudos, propostas e projetos de lei pela viabilidade econômica e técnica do cereal. Integrei um grupo de estudos sobre as assimetrias do Mercosul da Frente Parlamentar de Agricultura (FPA) e estou bastante inteirado dos problemas nesta área.
Planeta Arroz – Então, foi trabalhar com o secretário Covatti Filho?
Ivan Bonetti – Sim, e ajudei a abrir as portas para a Federarroz também neste gabinete, em Brasília (DF), e muitos temas foram encaminhados.
Planeta Arroz – E como o senhor foi passar de diretor de Políticas Agrícolas da Seapdr para presidente do Irga, o que inclui perdas na remuneração e um desafio muito maior?
Ivan Bonetti – São vários os fatores envolvidos, que se sobrepõe à questão das remunerações. Em primeiro lugar, na Seapdr eu fui o coordenador, desde o ano passado, do Grupo de Trabalho que estudou a modernização do Irga. Escutamos todas as entidades setoriais, de servidores, conselheiros, produtores, indústrias e demais interessados no governo. Ali foi possível entender, sob os diversos pontos de vista, quais as demandas e desafios do instituto, suas fortalezas, e seu rumo. Ali, entrei ainda mais para dentro do Irga. Depois disso, há o fator de que o secretário Covatti Filho me convidou e me confiou essa missão. É uma relação de confiança, vai muito além da política. Ele acredita e respalda a minha gestão, e de minha parte, preciso corresponder a essa confiança.
Planeta Arroz – Se bem entendi, o senhor deve ser um elo do Irga com o Governo do Estado. Um elo político, mas com conhecimento técnico? O mesmo vale para o Eduardo Milani, que também é homem de confiança do secretário. Mas, seu nome foi defendido também pelo setor.
Ivan Bonetti – Você entendeu bem. Meu nome foi sugerido pelo setor e aceito pelo secretário, que respaldou a indicação. Tanto eu quanto o Eduardo Milani, advogado que já foi secretário da Administração da prefeitura de Frederico Wesphalen, e vai me respaldar tecnicamente, temos o papel de sermos a Seapdr no Irga e o Irga na Seapdr. É uma função política, técnica e integradora. Atualmente, diante das circunstâncias, não há como dissociar a política da parte técnica para alcançarmos os objetivos do instituto. Chega de isolamento, o Irga precisa ser integrado com o governo, com a Secretaria, com a Emater/RS.
Planeta Arroz – E qual foi a grande prioridade elencada pelo setor no estudo de modernização?
Ivan Bonetti – Sem dúvida o repasse da taxa CDO. O setor solicita maior repasse dos recursos recolhidos para assegurar os investimentos e que o instituto retome seu protagonismo tecnológico e comercial na orizicultura ocidental. Hoje, cerca de 60% a 65% da arrecadação da taxa volta para o Estado, alterar isso vai depender da mobilização da cadeia produtiva e da nossa capacidade de articulação política e setorial junto às esferas necessárias. O secretário Covatti vai nos ajudar na busca de um aumento gradativo deste retorno de maneira a assegurar a recuperação da autarquia e de sua capacidade de investimentos.
Planeta Arroz – Há uma perda estrutural, atraso na geração de tecnologias, saída de funcionários entre as demandas…
Ivan Bonetti – Sim, sabemos disso tudo. Vamos buscar uma fórmula de gerar melhoria salarial, se houver receita. Precisamos evitar essa perda de pesquisadores e extensionistas, fortalecer a geração e a transferência de tecnologias, prover nossos profissionais da estrutura necessária para trabalhar e devolver à lavoura aquilo que ela espera do Irga.
Planeta Arroz – Mas, ainda tem o setor comercial que esteve dois anos sem diretor…
Ivan Bonetti – Com a nomeação do diretor comercial e industrial esperamos ampliar as ações de promoção e prospecção dos mercados interno e externo e ampliar o diálogo na cadeia produtiva. O arroz é a segunda principal cultura do Estado, e a maior da metade sul. Precisa recuperar seu protagonismo. Vamos tentar aproximar Irga e Emater/RS, em especial quanto aos levantamentos. Vamos evoluir em pesquisa, em produtividade, em qualidade, mas também precisamos avançar em novos mercados.
Planeta Arroz – A sua indicação e do Eduardo Milani pode ser considerada uma demonstração de que o secretário Covatti Filho quer resolver de vez os problemas do Irga?
Ivan Bonetti – Sim, é verdade. O secretário tem dado respaldo não apenas aos nomes, mas principalmente ao projeto de resgate de um Irga forte e atuante. Há suporte, interesse e vontade de fazer. E temos um diagnóstico muito preciso da situação do Irga. Agora, nessa diretoria, precisamos colocar em prática e encontrar os mecanismos para isso. O nosso sucesso, é o sucesso do secretário, assim como um eventual fracasso refletiria nele. Somos seus representantes.
Planeta Arroz – Então o senhor chega com esse diagnóstico do Grupo de Trabalho pela Modernização do Irga sob o braço?
Ivan Bonetti – Sim. Os resultados e planejamentos originados no Grupo de Trabalho, que traduz os anseios da cadeia produtiva e dos servidores, será colocado em prática.
Planeta Arroz – O senhor pode esclarecer se é verdade que o Irga poderá ser privatizado ou alvo de uma Parceria Público-Privada (PPP)?
Ivan Bonetti – Essas possibilidades estão descartadas. Nem privatização, nem Parceria Público Privada. Será uma autarquia como sempre foi e a taxa CDO será mantida. O sistema é o mais adequado, pois uma privatização excluiria a CDO e não haveria como o instituto se manter. Vamos é cumprir com aquilo que prevê a legislação sobre o instituto. Há muitas implicações, mas o que importa é que o Irga seguirá sendo a autarquia que sempre foi, e precisa ser fortalecido. Essa é a conclusão da cadeia produtiva e é o que o governo pretende fazer.
Planeta Arroz – Isso traz alívio a muita gente, em especial aos servidores.
Ivan Bonetti – Estamos cientes. A cadeia produtiva, inclusive os servidores, nos trouxeram um retrato muito fiel da realidade e de algumas ações necessárias. Vamos precisar de todo o setor, trabalhar juntos, respaldo das entidades e dos políticos para restabelecer as melhores condições e estruturas do Irga.
Planeta Arroz – E quando o senhor assume?
Ivan Bonetti – O mais rápido possível. Nesta quarta-feira, dois de dezembro, irei pela primeira vez à sede do Irga para tomar conhecimento do andamento, ver algumas coisas. Temos muito trabalho para fazer. A posse só não está agendada ainda porque há uma burocracia com a documentação tanto do presidente quanto dos novos diretores. Temos uma safra complicada pela frente, demandas em todas as regiões do Estado e muita coisa pra resolver para dar o melhor suporte possível ao setor.