Nova realidade
Safra nacional foi
uma das menores do
século por causa do El Niño
e dos custos de produção
.
O fenômeno climático El Niño foi o principal responsável pela queda produtiva da safra de arroz 2015/16 no Brasil, mas não foi o único. O alto custo de produção, a alternativa de cultivar soja, algodão e milho – com maior liquidez e rentabilidade – e até mesmo uso das terras para pecuária, que vinha remunerando bem, levaram produtores a deixarem de lado a orizicultura. A falta de água para irrigação no Nordeste e no Sudeste, depois de quatro temporadas de seca, afetou o dimensionamento das lavouras irrigadas. Ainda assim, só o fenômeno climático reduziu mais de 1,5 milhão de toneladas da safra na região Sul e outras 500 mil toneladas nas demais regiões.
Entre as regiões brasileiras, apenas o Norte, impulsionado por crescimento em Rondônia e no Pará – em recuperação – e avanço territorial no Tocantins, registrou crescimento da colheita, e de apenas 1,4%. Todas as demais regiões apresentaram retrações, que ficaram entre 13,7% no Sul e 45% no Nordeste. Um ajuste na área maranhense, tradicionalmente superdimensionada pela Conab, fez com que o estado que chegava a aparecer como segundo maior em área e terceiro em produção – nunca confirmada – passasse a ser o quinto produtor nacional.
Claro que em função da área e da produtividade, em volumes físicos, o Sul representa 30 vezes a colheita nordestina, mas para o abastecimento regional, a retração dos estados tropicais foi preocupante. O Nordeste é uma das regiões que mais importa arroz beneficiado do Uruguai e da Argentina em função das vantagens logísticas e de preços. Ainda recebe produto da Guiana. Entre os cinco grandes produtores do Brasil, apenas o Tocantins colheu mais do que na temporada passada. Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso e Maranhão tiveram quedas. Nos dois últimos estados, acima de 40%.
NORTE
No Norte, o Tocantins, que tem áreas próprias à orizicultura e estabelece um forte polo de beneficiamento para atender algumas regiões do Nordeste, Norte, Centro-Oeste, Rondônia e Pará, em recuperação, ampliou as colheitas. Rondônia tem um importante canal de comercialização com estados como o Acre e Amazonas e também com a região fronteiriça da Bolívia, enquanto o Pará experimenta um avanço nas áreas de recuperação de pastagens degradadas. No Tocantins, áreas próprias para o cultivo, tecnologias e um robusto polo de produção e processamento estão dando suporte para o avanço.
No Mato Grosso, grande produtor do Centro-Oeste, e no Maranhão, maior polo produtivo do Nordeste, as quedas aconteceram por causa da substituição das áreas arrozeiras por culturas de maior atrativo financeiro, como soja, milho e pecuária, além do atraso na entrada da temporada de chuvas e veranicos nas fases críticas do cultivo, o que afetou as produtividades.
No Maranhão, o uso de tecnologias arcaicas, dirigidas à produção para subsistência ou pequeno comércio local, uso de variedades de arroz longo, tradicionais entre pequenos agricultores, e atraso no repasse de sementes pelo Estado afetaram o rendimento por área. A média de produtividade do arroz no Nordeste fica em apenas 1.344 quilos, perto de um sexto do que produz em média um hectare no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, por exemplo, e menos da metade do rendimento médio por área das regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste.
FIQUE DE OLHO
A Conab só divulgará a intenção de plantio da próxima safra em outubro. Até lá, as informações são parciais e dos organismos estaduais e da cadeia produtiva, baseadas no histórico, no cenário econômico e nas projeções de clima. As perspectivas para a temporada 2016/17, em geral, são de recuperação produtiva no Brasil, para um volume aproximado de 12 milhões de toneladas. Isso em função de um clima mais propício ao cultivo no Sul, região que representa três quartos do arroz colhido no Brasil, desconsiderando aumento de área, apenas a confirmação das produtividades da superfície plantada em 2015/16. Somente no Sul a produção pode ser elevada em torno de 1,5 milhão de toneladas frente à temporada passada. Rio Grande do Sul e Santa Catarina acumularam perdas de 1,4 milhão de toneladas neste ciclo.